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Ariana

Nos dias após aquele encontro no café, Hector e eu seguimos com nossa rotina normal, mas algo parecia diferente, ainda que não totalmente explícito. Era como se houvesse uma camada invisível a mais entre nós, uma tensão suave, mas agradável. Estávamos dando tempo ao tempo, deixando as coisas acontecerem sem pressionar.

O próximo jogo do Barça seria um clássico importante contra o Real Madrid, e a cidade inteira estava em clima de expectativa. Hector estava mais focado do que nunca, e eu podia ver o quanto esse jogo significava para ele. Nas poucas vezes em que nos encontramos antes da partida, o futebol dominava as conversas, o que era compreensível. Eu também estava empolgada e, como sempre, planejando estar lá para apoiá-lo.

Na noite anterior ao jogo, Hector me enviou uma mensagem rápida:

**Hector**: "Ameixa, amanhã vai ser pesado. Mas só de saber que você estará nas arquibancadas, já me sinto mais tranquilo. Preciso da minha sorte lá, ok?"

Ri ao ler, sabendo o quanto ele sempre fazia questão de me incluir em seu processo de concentração.

**Eu**: "Claro, gato do sofá. Estarei lá, e pode apostar que vou te trazer sorte novamente."

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No dia do jogo, o Camp Nou estava absolutamente lotado. A atmosfera era elétrica, a tensão entre as duas torcidas visível no ar. Eu estava lá com a camisa do Barça, desta vez sem piadas sobre usar a do Marc Guiu, e torcendo para que Hector tivesse um desempenho tão bom quanto o último.

Os jogadores entraram em campo sob uma onda de aplausos e gritos ensurdecedores. Quando Hector olhou para as arquibancadas e me viu, acenou de forma discreta, mas com um sorriso que mostrava o quanto ele estava confiante.

O primeiro tempo foi tenso, com ambos os times pressionando muito e nenhuma das equipes conseguindo marcar. Hector estava jogando bem, mas a defesa do Real Madrid era implacável, e as chances de gol pareciam escassas.

No intervalo, mandei uma mensagem rápida para ele, mais para distraí-lo um pouco do nervosismo:

**Eu**: "Sem pressão, mas estou esperando outro gol dedicado a mim. Sem desculpas hoje!"

Sorri ao imaginar sua reação ao ler aquilo, sabendo que, apesar da pressão do jogo, ele provavelmente riria da minha ousadia.

O segundo tempo começou com mais intensidade ainda. O Real Madrid abriu o placar com um gol que fez o estádio se silenciar por alguns segundos, antes que a torcida do Barça voltasse a apoiar com mais força. Eu estava na ponta da cadeira, ansiosa por uma resposta rápida do time.

E então, aconteceu. A bola chegou aos pés de Hector perto da área. Ele fez um drible rápido e, com um chute forte e preciso, colocou a bola no canto direito do gol. O Camp Nou explodiu em alegria, e eu gritei tão alto que minha voz quase falhou. Hector correu para comemorar com seus companheiros, mas antes de ser engolido pelo grupo de jogadores, olhou diretamente para mim e apontou discretamente, com aquele sorriso que eu já conhecia.

Eu me senti nas nuvens. Era uma sensação tão poderosa vê-lo brilhar em campo, saber que eu estava de alguma forma conectada àquele momento.

O jogo terminou empatado, mas a sensação de vitória estava estampada no rosto de Hector quando o encontrei mais tarde. Ele estava cansado, mas claramente satisfeito com o desempenho.

— Foi incrível, Hector! Você estava impossível hoje — falei assim que o vi.

Ele sorriu, enxugando o suor com a toalha.

— Não teria conseguido sem minha amuleto da sorte nas arquibancadas — respondeu ele, piscando.

Estávamos no estacionamento do estádio, e a noite de Barcelona estava fria, mas confortável. Enquanto caminhávamos para o carro, conversamos sobre o jogo, e Hector me contou como ele havia se sentido em campo.

— Sabe, Ari — disse ele, com um tom mais reflexivo —, eu estava pensando em tudo isso... nos jogos, nos gols, na vida... E percebi que, nos últimos tempos, uma das poucas certezas que tenho é que você está sempre lá, seja nas vitórias ou nos dias difíceis.

Eu sorri, sentindo uma leveza no coração ao ouvir aquilo. Não era a primeira vez que ele falava algo assim, mas desta vez havia uma profundidade diferente em suas palavras.

— E você sempre esteve lá por mim também, Hector. Acho que é isso que faz a diferença, né? Sabermos que temos um ao outro, mesmo quando o resto é incerto.

Ele assentiu, olhando para o horizonte com um sorriso calmo. Havia um entendimento silencioso entre nós naquele momento. Talvez as coisas ainda não estivessem totalmente claras, mas sabíamos que, não importa o que acontecesse, aquele vínculo que compartilhávamos era forte o suficiente para sobreviver a qualquer desafio.

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No fim de semana seguinte, decidimos fazer algo mais leve. Hector sugeriu uma viagem curta para Montserrat, um lugar que ambos amávamos pela beleza natural e pela tranquilidade. Pegamos a estrada cedo, aproveitando o céu azul de um inverno que ainda não mostrava sua força total.

— Faz tempo que não fazemos isso, né? — comentou ele, dirigindo com uma mão no volante e a outra apoiada na janela.

— Sim. Com toda a correria dos jogos e da vida, esquecemos de tirar um tempo para respirar — respondi, olhando pela janela as montanhas que se aproximavam.

Passamos o dia explorando trilhas, tirando fotos e simplesmente curtindo o silêncio da natureza. Havia uma paz entre nós, uma sintonia que não exigia palavras o tempo todo. No final da tarde, subimos até o topo de uma das montanhas e nos sentamos para assistir ao pôr do sol. O vento soprava frio, mas a vista era deslumbrante.

— Lembra de quando viemos aqui pela primeira vez? — perguntei, quebrando o silêncio enquanto o sol começava a se esconder atrás das montanhas.

— Claro. Foi quando eu te chamei de ameixa pela primeira vez — disse ele, rindo.

Eu revirei os olhos, mas sorri. Era verdade. Aquele apelido havia se tornado uma parte de nós dois.

— Acho que naquele dia percebi que você seria alguém muito importante para mim — admiti, sentindo meu coração bater mais forte com aquela confissão.

Hector ficou em silêncio por um momento, olhando para o horizonte, e depois voltou seu olhar para mim.

— Eu também percebi isso, Ari. E acho que, mesmo sem a gente planejar, fomos construindo algo que é muito maior do que qualquer um de nós poderia imaginar.

O sol se pôs completamente, e ficamos ali, lado a lado, em silêncio, apreciando o momento. Não havia necessidade de falar mais nada. Estávamos exatamente onde precisávamos estar, juntos.
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Water-Hector fortOnde histórias criam vida. Descubra agora