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Capítulo Oito
Coisas que fazem você pensar “Mas que porra?” 
As girafas-macho bebem a urina das girafas fêmeas, para saber a altura ideal para o acasalamento.


Xiao Zhan
Chegue
Cedo.
Seja enérgico com sua natureza competitiva, especialmente se você é o único que foi desafiado.
Às vezes, a vitória começa na sua mente.
A mente é uma coisa muito poderosa e se canalizada adequadamente, pode ser uma arma ainda mais poderosa.
Eu estava escalado para correr ao meio-dia, portanto, planejava ser o primeiro a chegar a Pinnacle Ridge. Planejei estar vestido em meu traje de couro, capacete e bunda na moto quando He Peng aparecesse.
Isso o desequilibraria. Daria a ele até mesmo um nano segundo de dúvida, de que a vitória não seria tão fácil como ele esperava. Por quê?
Porque os perdedores não aparecem cedo. Eles não se sentam na linha de partida, esperando a sua humilhação.
He Peng lançou o desafio, mas era eu quem iria dominar.
Chegamos uma hora mais cedo, a estrada lançando uma nuvem de poeira, quando Matt pressionou os freios e estacionou ao lado.
Pinnacle Ridge era pavimentada, mas isso foi feito há muito tempo e alguns cascalhos estavam soltos e os reparos que foram feitos na estrada eram tudo, menos profissionais. O paisagismo nas bordas da estrada não era feito há muito tempo, principalmente porque este cume, embora conhecido por todos os moradores, não era muito utilizado. Não era uma estrada principal ou até mesmo um atalho para qualquer lugar da cidade.
Era principalmente utilizada por pessoas que viviam nesta colina nos Peaks (que, por sinal, tinha uma vista que faria um homem ficar duro). Ou pelos correios e outros locais.
E, claro, este era um ponto quente para corridas. Mesmo que fosse proibido.
Este não era exatamente um lugar seguro para correr. Os pontos cegos, as colinas e as curvas apertadas; havia até um deslizamento de um lado, que despencou até onde a estrada passava abaixo.
Grandes pinheiros, bordos e outras árvores adultas, cresciam em sintonia com a estrada, quase como se a protegessem de ser muito utilizada.
Era realmente um lugar muito legal. As pessoas tinham o hábito de caminhar por aqui e eu sabia por experiência própria, que havia um monte de trilhas para veículos de quatro rodas, que saía da estrada e se estendia para o bosque que separava este cume do bairro vizinho.
Era uma manhã morna, nada inesperada para os arredores de Seattle.
Realmente não ficava quente aqui, nem mesmo no verão. Chovia muito, mas hoje estava um dia claro e brilhante. Quase como se os deuses das motos no céu, abençoaram este embate entre pilotos.
Matt desligou o motor e sua palma curvou em volta da minha nuca. Minha cabeça girou em sua direção e nós trancamos os olhos. Seus olhos eram profundos e escuros. Algumas pessoas os chamavam de olhos misteriosos, porque pareciam tão escuros que escondiam algo.
Sabia que não era assim, mas eu podia entender o raciocínio por trás do termo.
As espessas almofadas de seus dedos esfregaram a parte de trás do meu pescoço e a base do meu crânio. Ele gostava da forma como meu cabelo fazia cócegas em suas mãos ásperas. Uma vez, ele me disse que era como uma massagem leve para seus sentidos.
Arrepios estouraram sobre o meu couro cabeludo e fechei meus olhos.
“Você vai ganhar isso.” Ele disse, sem falar alto. Ele não tinha que gritar.
Estávamos no nosso pequeno universo dentro do carro.
“Uma vez que eu ganhar, podemos verificar as viagens internacionais da nossa lista.” Meditei.
Eu estava escalado para o Moto Intercontinental, mas também estava ansioso para viajar o mundo com Matt. Muitos dos países que estaríamos visitando eram muito mais relaxados sobre os homens em relacionamentos.
Não sabia se seria mais fácil segurar as mãos dele na rua ou deixar minha mão descansar em sua coxa, em plena vista, em um restaurante ou mesmo ir para os seus lábios em um café, mas com certeza queria descobrir.
“Estou orgulhoso de você.” Ele me disse.
Meu peito inchou. Um louvor dele era como receber uma condecoração.
“Não poderia ter chegado tão longe sem você.”
Ele zombou.
Agarrei sua mandíbula e forcei sua cabeça de modo a me encarar. “Sério, Matt. Você é um corredor tão bom quanto eu, mas você colocou tanto na minha carreira, que acho que talvez você tenha dificultado a sua própria.”
Sua mão envolveu o meu pulso, dando-me um suave aperto e suavizei o meu aperto. Ele beijou o interior da minha palma, a barba em sua mandíbula fornecia uma camada adicional de sensação.
“Minha carreira está onde quero que esteja. Estou feliz, e eu ganho o suficiente. Além disso, se ambos estivéssemos competindo com deuses, como diabos nós veríamos um ao outro?”
Ele era incrível. Ele fez uma escolha, que honestamente não tinha certeza se eu poderia ter feito. Quando chegou a hora da verdade, entre nosso relacionamento e nossas carreiras, ele decidiu que para que pudéssemos ter ambos, um sacrifício tinha que ser feito.
E ele o fez.
Por mim.
Por nós.
“Eu te amo.” Eu disse a ele.
Ele sorriu maliciosamente. “Eu sei. Você o gritou ontem à noite, quando estava chupando seu pau.”
Fiz um som de apreço. Foi um bom boquete.
Mas não tão bom como sentir que ele me enche com o seu comprimento, o que ele fez logo depois que eu explodi.
Com nossas mãos ligadas, ele se inclinou sobre a alavanca de câmbio e conectou nossas bocas. O beijo foi agradável, lento e cheio de contato.
A língua de Matt era larga e grossa. Ele sabia como usá-la para que minha boca fosse completamente possuída. Meus lábios cheios esfregaram-se sobre os dele, recusando-se a separar, mesmo quando meus pulmões ansiavam em busca de oxigênio.
Foi ele quem se separou primeiro, devagar, languidamente, mas o suficiente para poder respirar mais uma vez.
“Eu também te amo.” Sussurrou, pressionando um último beijo contra meus lábios, antes de se afastar completamente.
“Você sabe o quê?” Eu disse, agarrando seu antebraço, enquanto ele se virava para sair do assento do motorista.
Ele olhou para trás, um olhar expectante em seus traços.
“Acho que devemos usar esta turnê no Intercontinental para aprender segredos, dicas e truques.” Ele inclinou a cabeça como se dissesse, Para quê?
“Assim, quando o circuito norte-americano começar de novo na próxima temporada, você terá uma tonelada de vantagem para chegar lá.”
Seus olhos se iluminaram profundamente em suas profundezas. Sorri, satisfeito. Esse era o olhar que queria ver. Ele provou que, mesmo que ele nos quisesse, queria correr tanto quanto eu.
Eu não queria ser o único a cumprir esse sonho. Claro, Matt era um corredor incrível. Ele tinha bons patrocínios, troféus e um alto posicionamento na divisão. Mas ele desistiu por nós. Por mim.
Esta temporada tinha sido minha e agora o Intercontinental também seria.
Próximo ano? Esse seria para o Matt.
“Gosto disso.” Ele meditou.
“Eu sei.” Eu balancei minhas sobrancelhas e ele riu.
Saímos do caminhão e caminhamos para o trailer engatado na parte de trás.
Ambas as Ducatis estavam fechadas lá dentro. Nós sempre viajamos com nossas motos desta forma, para mantê-las protegidas. E nos dar um pouco mais de anonimato. Estas eram peças de equipamento caras e elas chamavam a atenção. A de Matt estava na parte traseira também, mesmo que não estivesse correndo – você sabe, no caso de nós querermos fazer algum passeio e ver à vista, depois que eu ganhasse de Peng.
Esperei enquanto ele abria a fechadura das portas traseiras, examinando a rua, tentando obter a “disposição da terra”. Tinha dirigido por esta estrada várias vezes. Não era um lugar onde eu estava acostumado a correr, mas não estava começando cego.
Ouvi a fechadura abrir com o som de metal raspando e olhei para trás, quando Matt removia o cadeado.
Ele agarrou o cabo e puxou, mas a porta não se abriu.
Precisávamos de um novo trailer; este era um pedaço de merda. Pelo preço que paguei, você pensaria que ele duraria um pouco mais.
As malditas portas estavam sempre presas. Nunca queriam abrir.
Merda, nós provavelmente nem precisamos nos incomodar com a fechadura. Praticamente era necessário um ato de Deus para fazer as malditas abrirem sem problemas.
Eu fiz uma nota mental para começar a procurar um novo.
Ele puxou novamente. As portas ressoaram sob sua força, mas não se moveram. Ele amaldiçoou e eu ri.
“Aqui, deixe-me tentar. Não coloque os boxers moldados perfeitamente em seu excelente traseiro sobre estresse.”
Matt deu uma gargalhada, mas continuou a lutar com as teimosas portas de metal. Me movi para trás dele, pronto para ajudar, quando as portas se abriram, como se tivessem soltado uma tonelada de pressão.
“Whoa.” Matt gritou surpreso quando abriram. Ele pulou para trás para pegá-las, mas só conseguiu pegar uma.
Peguei a outra.
Com o meu rosto.
“Ugh.” O som escapou de mim, quando a borda do metal grosso me bateu ao lado da cabeça. Balançou com tanta força que me derrubou em minha bunda.
Dor explodiu no lado da minha cabeça, no segundo em que caí para trás.
O pavimento estava frio, mesmo com os meus moletons, mas mal notei. Fiquei atordoado por longos momentos, enquanto choques agudos e penetrantes de dor eletrificavam minha cabeça.
“Zhan!” Matt, preocupado, inclinou-se sobre mim, suas mãos pairando perto, sem tocar. “Merda, me desculpe.”
“Não é culpa sua, essas portas são idiotas.” Murmurei e empurrei-me para cima.
“Com calma.” Matt insistiu, colocando o braço em volta das minhas costas e ajudando-me a sentar.
“Isso fodidamente doeu.” Amaldiçoei. Pressionei a palma da minha mão contra a têmpora.
“Você está sangrando.” Ele disse suavemente, pegando minha mão para me impedir de espalhar o sangue.
“Merda.” Murmurei, estendendo a mão para a bainha do meu capuz para limpá-lo. Não tenho tempo para essa merda.
Atrás de nós, as portas de metal tremiam quando o vento soprava, batendo como um bando de pica-paus.
“Pare.” Matt ordenou, mas não havia nenhuma picada em sua voz. Quase nunca havia quando ele falava comigo.
Eu provavelmente olharia duas vezes e acharia que ele precisava de um exorcismo, se ele alguma vez gritasse comigo.
“Eu faço isso.” Ele sorriu e tirou seu próprio moletom. Houve um lampejo de seus sólidos abdominais quando ele se moveu, antes que da camiseta (com um sinal de paz preto no centro) voltar de novo ao seu lugar. O seu moletom era cinza claro, com o símbolo do motocross nele.
Cautelosamente, tentou parar o sangramento do corte. Havia mais sangue do que eu imaginava. Sentia-o escorrer pela minha cabeça, perto do meu olho. “Acertou bem.” Ele murmurou, ainda secando e limpando a ferida. “Acho que você pode precisar de pontos.”
“Não.” Rosnei. “Eu não tenho tempo para isso.”
“Bem, o sangramento diz o contrário.” Matt refutou.
“Eu estou bem.” Resmunguei e me movi para me levantar.
Balancei um pouco, me sentindo tonto. Recusando-me a deixá-lo me derrubar, forcei.
Matt envolveu seus braços ao redor de mim se levantando e me ajudando a levantar.
Seu braço ficou ao meu redor, enquanto ele segurava o moletom na minha cabeça. “Você não está bem, Zhan.”
“Eu disse que estou bem.” Tentei empurrá-lo para que pudesse ficar sozinho.
Ele largou o braço, mas manteve o outro na minha cabeça. Meu estômago rolou e pisquei. Chupando um suspiro entre meus lábios, balancei novamente.
“Você pode ter uma concussão.” Matt observou, levantando o capuz para olhar.
Ele grunhiu.
“ Ainda está sangrando.”
Ele pressionou o moletom de volta para baixo.
“Eu tenho uma corrida para ganhar.”
“Você não pode andar de moto, cara. Você sabe e eu sei disso.”
“Eu sei que se não fizer isso, perderei essa maldita corrida e vou perder o Intercontinental.”
Nós fechamos os olhos. Sua mandíbula endureceu. Ele sabia disso tão bem quanto eu. Não poderia voltar atrás, nem mesmo por isto. O que tínhamos não era um acordo legal, mas eu dei a minha palavra.
Minha palavra era mais vinculante do que qualquer documento que pudesse aguentar no tribunal.
“Sim.” Ele estalou. “Eu sei.”
Apertei minha cabeça um pouco mais com o moletom, desejando que o sangramento parasse e meu mundo se endireitasse.
Matt levantou a outra mão, puxando-me contra ele. Seu abraço era duro e total.
“Vou dirigir por você.”
Eu me afastei. “O que? Não!”
Não era que pensasse que ele não poderia ganhar. Ele poderia. Eu sabia.
Este era o meu desafio. Minha reputação na linha. Eu era o único que tinha aceitado o desafio e era o único que precisava terminá-lo.
“Você não está dirigindo, Zhan.” Matt disse, seu tom firme.
Meus olhos brilharam até os dele. Eu ouvi alguma inflexibilidade em sua voz?
O canto da boca dele chutou para cima. “Não me faça ficar todo alfa sobre você.”
Sorri. “ Você todo alfa em mim?”
“Você sabe que eu sou capaz disso. Simplesmente não o faço, porque te amo.”
“Você não pode dirigir por mim, Matt.”
Ele olhou para o trailer. “Claro que eu posso. Nós somos do mesmo tamanho. Com o seu traje de couro, capacete e o resto do seu equipamento e sentado em sua moto, ninguém vai mesmo questionar que o motorista não é você.”
Ele estava certo, mas não gostei.
“He Peng é um idiota.” Eu piquei.
“Não diga. Isso não é novidade. Corri com ele muitas vezes.”
Ele tinha corrido e sabia que ele poderia lidar com isso. Mas queria ser o único a fazê-lo. Queria ganhar cada vitória que conseguisse.
A mão de Matt caiu no meu ombro e apertou. “Eu sei. Mas não vou deixar você dirigir, Zhan. Seus olhos estão embaçados e sua cabeça ainda está sangrando.”
Suspirei. “Porra!”
Os lábios de Matt pressionaram a minha testa e ele riu. “Depois que eu ganhar, você estará indo para o hospital e recebendo pontos.”
Eu dei-lhe um olhar de inferno não e ele sorriu.
“Segure isso.” Ordenou ele. Pressionei minha mão sobre o seu moletom.
“Ainda bem que chegamos cedo. Vai dar-me tempo para me vestir, para que ninguém nos veja fazer o velho truque de troca.”
Fiz um som rude, mas minha voz era carinhosa. “Você provavelmente tem guardado isso por algum tempo, apenas esperando um momento para trazê-lo para fora e dizê-lo.”
“É uma boa expressão.” Jogou um sorriso por cima de seu ombro, antes de desaparecer dentro do trailer onde estava todo o meu equipamento.
Fiquei na porta (as portas estavam abertas agora, para que ninguém mais fosse martelado) e o assisti com um olhar fixo, enquanto se encaixava em meu traje de couro vermelho e branco.
Quando ele estava quase terminando, me movi para destravar as amarras segurando a moto, mas uma onda de vertigem me pressionou.
“Hey.” Matt murmurou, envolvendo seus braços em volta de mim por trás e gentilmente puxando-me para longe. “Senta. Eu faço isso.”
Sentei-me no reboque, enquanto ele fez todo o trabalho pesado, deslocou a moto para o sol e então deslizou o meu capacete sobre sua cabeça.
Ele tinha um par de covinhas que encantavam todo mundo. Elas o faziam parecer mais jovem do que ele era. Eram basicamente uma fonte permanente de juventude, construída diretamente em sua pele .
Suas maçãs do rosto altas e um par de olhos escuros olhavam para mim, do capacete. Sabia que ele estava sorrindo, mesmo que sua boca estivesse coberta. Via isso em seu olhar.
Sorri de volta, embora me sentisse uma merda e estivesse lívido por não estar dirigindo. Ainda assim, ele estava certo. Minha cabeça estava embaçada e minhas mãos estavam instáveis. Dirigir assim seria, basicamente, entregar a minha vitória.
Não ia acontecer.
Eu confiava em Matt. Sabia que ele iria ganhar isso. Para mim. Para ele.
Para nós.
“Apenas fique no trailer.” Ele agachou-se entre minhas pernas abertas.
“Dessa forma, ninguém te verá. Eles nem pensarão em questionar que não sou você. Se alguém perguntar, vou dizer-lhes que fiquei em casa.”
Balancei a cabeça, miseravelmente. O capacete era suficientemente grosso para abafar a voz. Se eles não estivessem esperando, nem saberiam que não era eu falando.
“Obrigado por fazer isso, cara.”
“Qualquer coisa para você.” Ele respondeu. O sorriso estava de volta em seus olhos novamente.
Ele se inclinou para baixo, pressionando a testa do capacete suavemente na minha. “Não desmaie enquanto estou correndo. Se você fizer isso, vou chutar sua bunda.”
Eu ri. “Vou ficar bem.”
“É melhor você ficar. Preciso de você por perto.”
Sorri. Nossos olhos conectados. Enquanto ele observava, beijei as pontas de dois dos meus dedos e os pressionei através da abertura do capacete, para tocar sua pele.
“Amo você, Zhan.” Ele disse abafado, mas ainda ouvia alto e claro.
“Amo você também.”
O som de outro carro chegando e abrandando, chamou a nossa atenção de novo para o mundo exterior.
Ele segurou o punho entre nós. Bati o meu contra o dele.
“Vejo você em alguns minutos.” Ele disse, então me deixou lá, deixando as portas se fecharem (mas não trancarem) atrás dele.
Inclinei minha cabeça contra a parede de metal e olhei para o teto. Esta porra explodiu.
Pouco tempo se passou e então o som de uma moto disparando encheu o ar. Com uma respiração profunda, levantei a minha bunda. Balancei um pouco, pisquei contra o brilho em minha vista e fui para uma pequena janela no lado do trailer.
A janela era matizada e pequena. Era também em um ângulo, que acho que ninguém iria me notar em pé lá, assistindo.
Matt estava na minha moto, parecendo pronto, em todo o meu equipamento. A moto de Peng estava bem ao lado dele, mas ele não estava nela. Olhei ao redor, notando que estava ao lado de seu trailer, a poucos metros de distância. Seu amigo, Rockford, que também era um corredor, estava na frente dele.
Eles estavam falando e parecia um pouco intenso. Obviamente, não havia como saber o que eles estavam dizendo. Quando tentei me concentrar nos lábios de Peng se movendo, tudo que eu obtive, foi uma dor extra na cabeça.
Apertei o moletom mais forte contra o corte e os observei. Não poderia dizer se eles estavam discutindo ou apenas tendo uma conversa aquecida.
Finalmente, He Peng arrancou o capacete das mãos de Rockford e o cravou no espaço entre eles. Rockford assentiu, como se estivesse admitindo.
Enfiou o capacete e foi para sua moto, ligando-a e não muito mais tarde, ambos se sinalizaram e decolaram.
Assisti Matt até que não podia vê-lo mais, mas eu fiquei na janela, não me sentindo inclinado a me mover. O meu estômago ainda estava instável e o braço segurando o moletom no lugar, estava começando a ficar cansado.
O puxei para baixo, olhei para as manchas de vermelho escuro no tecido e balancei a cabeça. De toda a merda estúpida que podia acontecer, tinha de ser isso, agora.
Eles não tinham ido longe o suficiente para me preocupar, mas estava ansioso. Eu deveria ter sido o único lá fora. Deveria ter sido a pessoa que chicoteava a estrada e esfregava meu joelho na calçada. Esperava que Matt estivesse se divertindo e que Peng não estivesse andando muito duro.
Um sentimento desconfortável rastejou dentro de mim e soube que era algo totalmente diferente da merda que aconteceu com a minha cabeça.
Chame a isso de intuição, talvez. Ou mesmo apenas um mau presságio.
Olhei para trás pela janela e minhas suspeitas apenas se intensificaram.
Rockford estava se movendo na parte de trás do trailer. As portas estavam abertas, então não podia ver o que ele estava fazendo. Claro, aquele trailer não tinha portas soltas como pedaços de merda.
Alguns minutos mais tarde, sua moto desceu uma rampa. Quando ele apareceu ao lado da porta, empurrando a moto ao lado dele, ele estava completamente vestido de couro.
E um capacete.
Mas. Que. Porra?
Por que ele estaria vestido para correr? Esta era uma revanche homem-a-homem. Não havia necessidade de outros condutores.
Ele olhou para a direção em que Matt e Peng tinham ido e então verificou um relógio grosso em seu pulso.
Era quase como se fosse esperado estar em algum lugar. Ou ele estava cronometrando algo.
Eles não estavam planejando o que parecia que eles estavam planejando.
Eles estavam?
Pensei sobre ontem, sobre o olhar nos olhos de Peng quando ele pulou para mim. Eu tinha atingido um ponto fraco quando corajosamente falei em voz alta, que os seus dias de corrida estavam contados.
Assisti Rockford olhar como se ele estivesse, de repente, preocupado em ser visto.
Sabotagem.
He Peng estava totalmente planejando sabotar a minha condução hoje e Rockford iria ajudá-lo.
Exceto que eu não estava dirigindo. Matt estava.
Ele estava lá fora agora, tomando o peso da raiva e agressão que era dirigida para mim.
Não só isso, mas Rockford estava prestes a entrar e piorar.
Filho da puta!
Não estávamos usando qualquer tipo de comunicação ou fones de ouvido.
Matt estava lá sozinho no cume. Dois contra um.
Adrenalina e preocupação por Matt foi mais forte do que a concussão que eu provavelmente tinha. Meu corpo se afastou da janela e a moto ligou. A náusea e o nevoeiro que se aderiram a mim, foram ignorados.
Não tinha tempo para isso.
Matt precisava de mim.
O que diabos eu estava pensando? Deveria saber que que o filho da puta iria tentar algo.
Eu me movi rápido, capaz de fazê-lo, porque essas tarefas tinham sido feitas por minhas mãos milhares de vezes. A segunda Ducati, de Matt, foi desatada e empurrei-a em direção às portas e chutei-as abertas. Elas bateram e vacilaram sob a força da minha bota e corri para rolar a moto pela rampa.
Rockford tinha saído segundos antes. Olhei para cima, para vê-lo desaparecer em torno de uma curva.
Sem hesitação, pulei na moto e liguei o motor. Acelerei tão duramente quanto poderia, não sendo cuidadoso em tudo hoje. Eu precisava de resultados e precisava deles agora.
A moto disparou para frente e pisquei contra o vento e a pressão súbita que senti em meu crânio. Eu não estava usando qualquer tipo de luvas de proteção, um capacete, ou mesmo couro. Tudo o que eu tinha era um par de jeans bem-amados, botas que não foram feitas para dirigir e meu moletom.
O corte em minha cabeça estava estranho, entorpecido, mas não tão entorpecido que poderia esquecer que estava lá. Quase senti como se estivesse sangrando novamente, mas afastei o pensamento.
Sob as minhas mãos, a moto derrapou um pouco e a endireitei. Eu poderia fazer isso. Poderia operar esta máquina mesmo dormindo. Poderia certamente fazê-lo, mesmo se não estivesse no meu melhor.
Corri atrás de Rockford e os outros dois, voando em volta das curvas e subindo o cume, enquanto meus olhos procuravam qualquer um dos outros.
O joelho do meu jeans rasgou. Cascalho e pavimento queimavam minha pele e apertei meus dentes contra a dor, enquanto navegava uma curva apertada e, em seguida, gradualmente saí do outro lado. Enquanto dirigia, avistei-os à frente.
O que vi fez meu sangue correr frio. Eu tinha razão.
Rockford e Peng estavam tentando me fazer perder. Por que se preocupar em pedir uma revanche se você sabe que não pode ganhar justo?
Foi muito fodidamente estúpido da minha parte, não pensar no fato de que as pessoas muitas vezes não se preocupam com a honestidade; eles só se preocupam em conseguir o que querem.
As duas motos estavam cercando Matt. Ele estava se segurando. Ele não parecia abalado.
Mas eu estava.
Foda-se, isso pode ser tão ruim. Matt não era tão forte por dentro como eu. E agora, ele estava cercado por dentro e por fora.
Queria gritar. Na verdade, eu fiz. Mas, é claro, o vento afastou aquele som, enviando minha voz para trás de mim.
Pisquei, minha visão ligeiramente embaçada e meu estômago revirou, mas engoli tudo de volta.
Vá para o Matt.
Rockford apertou mais adiante; Peng apertou o fosso entre eles.
Corri para frente, empurrando a moto o máximo que pude, até que fiquei perto o suficiente, para que pudesse sentir a maneira como as suas motos rompiam o vento e a energia ao nosso redor. Minha moto estava fazendo o mesmo, mas não havia ninguém atrás de mim para perceber.
Rockford olhou ao redor, então olhou novamente.
Eu dei-lhe o dedo e apontei para o lado da estrada – o lado oposto de onde Matt estava correndo.
Sua moto vacilou. A velocidade diminuiu um pouco. Mas então ele acelerou de volta, ainda olhando para mim a cada dois segundos.
Peng notou que Rockford mudou de velocidade e posicionamento e sua cabeça girou também.
Soube o momento em que ele me viu, o momento em que percebeu que estava perseguindo o cara errado. Senti o seu choque, depois sua raiva.
Ele desviou na direção de Matt. Gritei. Matt desviou com ele, evitando o contato. Sua moto saiu da estrada por apenas um segundo antes dele endireitá-la.
Aquele segundo mudou tudo.
Ele atingiu um pedaço de cascalho. O pneu sacudiu-se e deslizou por debaixo dele.
“Não!” Eu gritei.
Vi seus braços brigarem. Eu vi seu corpo se esforçar para manter a moto erguida. O medo me entupiu a garganta; a dor encheu minha cabeça e meus olhos. Certamente eles estavam me enganando.
Mesmo enquanto me aproximava rápido, vi Peng, que agora sabia que não era eu na moto, cutucar a Ducati de Matt, dando-lhe apenas aquele pequeno último empurrão.
Tudo aconteceu de uma vez, então, tão rápido.
A Ducati virou-se. Matt foi atirado no chão, então arremessado para o ar, lançado da moto e bateu no lado da estrada com tanta força, que senti. Mas ele não parou por aí. Seu corpo deslizou sobre uma colina, desaparecendo da vista.
“Matt!” Rugi.
Eu estava em He Peng agora e usei minha moto para empurrá-lo. Não diminui a velocidade. Nem hesitei. Este filho da puta merecia morrer e se eu tivesse que me atirar para ter certeza de que ele tinha a sua recompensa justa, então eu faria.
Nossos pneus trancaram e as motos foram girando e, então, tudo era apenas escuridão e sons de metal triturando. Eu vim a mim não sei quanto tempo mais tarde, a dor severa irradiando em todo o meu corpo.
Os meus dedos cavados na terra onde eu estava deitado e empurrei minha cabeça para cima, piscando através da sujeira e umidade, procurando Matt.
Eu o vi a metros de distância, no lado, logo acima da colina. Ele estava deitado imóvel, não se movendo, não pedindo ajuda.
Empurrei para cima para correr para ele, mas meu corpo se recusou a obedecer. “Matt.” Gritei. Minha voz era fraca e minha garganta riscada, mas gritei de qualquer maneira.
Ele não respondeu. Agiu como se nem sequer estivesse ouvindo.
Ouvi outros sons, gritos atrás de mim em algum lugar próximo, mas bloqueei tudo.
Dei uma última tentativa valente para correr para o lado de Matt, mas não haveria nenhuma corrida hoje. Meu corpo falhou, recusando-se a andar.
Apertei minhas mãos e flexionei meus dedos. Eles ainda funcionavam, então os usei. Puxei-me meio rastejando, meio arrastando para Matt, o tempo todo tentando permanecer focado e chamando seu nome.
Pareceu que demorou muito para chegar até ele. O tempo todo rezei a Deus para que ele ficasse bem.
Por favor, por favor, Deus,  eu implorei. Não deixe que a morte que foi feita para mim o reivindique. Ele é bom demais para morrer Eu o alcancei, minha mão fechando em torno de sua bota. “Matty.”
Solucei. “Estou aqui. Oh merda, me desculpe.”
Ele ainda não respondeu, então rastejei até seu corpo, em parte, esparramado sobre seu peito.
O capacete estava quebrado. O sangue cobria o que eu podia ver do seu rosto. “Matt.” Tentei de novo, segurando o capacete com quase nenhuma força.
Puxei e puxei, mas não consegui tirar isso.
Um soluço quebrou em meu peito e o som saltou da minha garganta como um lamento alto, ou um uivo em uma lua cheia.
Apertei seus ombros, agarrei sua mão e bati em seu peito. “Acorde!” Pedi.
Mas ele não o fez.
“Chamem o 9-1-1!” Gritei, mas não sei com quem falei.
“Aguente firme.” Disse a ele, toda a minha energia escorrendo, deixando-me, sentindo-me estranhamente vazio. A umidade vazou dos meus olhos, quando minha cabeça caiu em seu peito. Tentei me agarrar à consciência.
Lutava para ficar lá, no momento, com Matt. “Tudo vai ficar bem.” Eu disse a ele.
Mas nada estava bem. Sabia isso dentro de mim. Até mesmo o golpe na minha cabeça, o naufrágio, e em seguida, literalmente rastejando para seu corpo, não foi suficiente para bloquear o fato de que isso foi tudo culpa minha.
Sirenes, à distância, eram um som bem-vindo. Ajuda para Matt estava a caminho.
A escuridão acenando engoliu-me inteiro.

......

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