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    Xiao Zhan

Coisas que fazem você pensar “Mas que porra?”
Na Alemanha, o botão “like” do Facebook foi recentemente declarado ilegal.

Realmente não tinha ligações para fazer.
Só disse isso para dar-lhes algum tempo.
Para me dar algum tempo.
Foda-se, senti como bater no acelerador, acelerando para longe e não voltando.
Não podia. Prometi a Yibo que estaria aqui. Manter essa promessa, estar aqui para ele, era muito mais importante para mim do que o que eu sentia.
Merda.
Sentei-me no banco do motorista do Audi, o calor entrando no carro frio e olhei para o para-brisa, sem ver nada.
Ele me defendeu. Colocou seu corpo na frente do meu. Poucos minutos antes, estava tremendo quando cheguei perto, um pouco inseguro, mas me protegeu.
O que eu deveria fazer com isso?
Não acho que poderia ir embora (ou acelerar o meu carro).
Mas-
Bam! Bam! Bam!
Eu me movi bruscamente para a batida súbita, surpreso ao ver alguém parado bem ali, na janela. Nem sequer o vi se aproximar.
Apertei um botão e o vidro abaixou. O ar de inverno carregava o cheiro fresco e distinto de neve rodopiando e misturando-se com o calor.
“O quê?” Entonei.
Liu segurou a palma da mão no teto do meu Audi e se inclinou.
Bloqueamos nossos olhares. Não estava prestes a recuar. Se ele quisesse ir à outra rodada, aceitaria.
O olhar no rosto de Yibo, quando ele nos viu lutando, brilhou em minha mente. O olhar antes que ele fosse todo feroz em Liu.
Temeroso. Assombrado. Assustado.
Meu estômago se torceu. Não gostei de ver aquele olhar. Entendi tudo muito bem.
“Estou saindo.” Liu disse. “Mas eu estou observando você. Cada movimento que faz, vou ver.”
Ele estava saindo?
“Onde está o Yibo?” Perguntei suspeito.
“Lá dentro.”
“Ele está bem?” Perguntei um pouco acusatório. É melhor Liu não o ter aborrecido.
Fez um som impaciente. “Claro que ele está bem.”
Então, ele estava saindo sem seu irmão, sabendo que eu ainda estava aqui. Me fez desejar ter ficado do lado de fora da porta e espionado um pouco.
Queria saber o que Yibo disse sobre mim.
“Olha, não vou fingir que estou feliz por você estar aqui. Mas é o que ele quer. E Miam gosta de você. Mesmo quando digo a ela para não gostar.”
Fiz um som divertido. Sentia falta dela.
“Então vou te dar outra chance. Não foda. Não foda com meu irmão. Ele tem passado por muito mais do que alguém deveria.”
Senti minhas sobrancelhas enrugarem. Sua postura não me preocupava.
O que me preocupava era o que não sabia sobre Yibo. “Quer elaborar?”
Ele me deu um olhar, como se devesse saber melhor do que perguntar.
Eu fiz, mas perguntei de qualquer maneira.
“Isso, é para ele compartilhar. E quando ele...” Os músculos de sua mandíbula se apertaram. Seus olhos escureceram.
Esperei ansioso, que ele terminasse.
Ele bateu no teto do meu carro, desviando o olhar e depois de volta.
“Conclusão? Se você o machucar de alguma forma, mato você.”
Poderia ter dado um milhão de respostas.
Entre na fila.
Já ouvi isso antes.
Me matar? Gostaria de ver você tentar.
Continue. Ponha-me fora de minha miséria.
Não disse qualquer das melhores respostas que tinha. Em vez disso, saí com algo que nenhum de nós estava esperando.
“E se ele me machucar?”
Liu recuou, endireitando-se da janela. Podia dizer que minha resposta o pegou desprevenido.
Bom.
“Estarei observando você.” Murmurou e se afastou.
Fechei a janela e desliguei o motor.
Olhei para a porta que dava para o hangar. Yibo estava lá dentro. Com uma exalação pesada, encostei a cabeça contra o assento e fechei os olhos.
Estou pronto para isso?
Quero estar.
Não tenho certeza se alguma vez estarei pronto.
Mesmo que meus olhos estivessem fechados e estivesse sentado aqui sozinho em meu carro, senti sua presença. Era inquietante, tanto quanto era bem-vinda.
Abri os olhos, olhei para o teto do Audi por uma breve pausa, então com cautela, abaixei meu queixo. Yibo estava lá, assim como sabia que estaria.
Além do humor sombrio, ele parecia morto, os olhos afixados onde sentava.
Vestia uma flanela vermelha e preta. Não parecia muito “lenhador” ou homem da montanha sobre ele. Em vez disso, pareceu ligeiramente quente. A camiseta preta abaixo, só fez parecer mais áspero.
Seus cabelos estavam mais mansos do que quando saiu da cama, mas ainda estava eriçado do lado da cabeça, sob o vento. Meu olhar varreu seus traços faciais, checando para ter certeza de que ele não estava chateado ou até mesmo machucado. Se estivesse, sabia que me arriscaria a sair desse carro e perseguir Liu, antes que ele voltasse para o jato que aterrissou.
Como é que nem sequer o ouvimos aterrissar?
Porque estávamos muito envolvidos um com o outro para ouvir ou notar qualquer outra coisa.
Yibo parecia bem, talvez um pouco cauteloso enquanto me observava, mas isso não era algo fora do comum. Suas mãos estavam enterradas nos bolsos de sua calça jeans e mesmo tentando esconder em seu olhar, eu ainda ouvia a pergunta que estava fazendo silenciosamente.
Você vai ficar?
Meus dedos se enrolaram em torno da maçaneta da porta, antes que mesmo percebesse que me mexia. A porta se abriu e o cheiro espesso do inverno correu. Estava frio pra caralho aqui fora. A temperatura me acordou, me tirou do transe em que estava e me arrastei para onde Yibo esperava.
Os olhos dele. Quem disse que eram janelas para a alma, deve ter conhecido alguém como Yibo. Nunca pensei muito sobre essa afirmação, mas agora...agora não haviam palavras mais verdadeiras.
O que vi quando ele olhou para mim assim, como se ele estivesse nu e inseguro, mas querendo tanto confiar em mim – isso enrolou meu peito como um torno e quanto mais olhava, mais apertado se tornava.
“Você deixou seu boné para trás.” Ele observou.
Assenti lentamente.
“Caso quisesse me beijar de novo.”
Oh, eu quero.” Ele murmurou, tão baixo que quase não ouvi.
Meu estômago queimava, como se as borboletas houvessem flutuado tão ferozmente sob minhas costelas, que suas asas pegaram fogo.
Deslizei meu braço entre ele e seu lado, em torno de suas costas. Ambas as mãos saíram de seus bolsos e ele se aproximou um pouco mais. Puxei-o mais apertado no meu lado.
Caminhamos para dentro e eu estava, mais uma vez, impressionado com o quão intensamente odiava este hangar. Não porque não era um lugar agradável para carros. Inferno, era.
Mas não era lugar para Yibo.
“Nós devemos conversar.” Eu disse.
Lentamente, como se ele não quisesse, Yibo se afastou do meu braço. O vi recuar para um banco de ferramentas próximo e pegar um envelope. “Passe por isso, comigo? Quero assiná-lo agora.”
Engoli em seco. Algo se alojou em minha garganta e tive a súbita vontade de correr atrás de Liu, para conseguir alguns golpes mais sólidos.
Yibo não tinha tido a certeza de que assinaria um contrato até que seu irmão saísse daqui. Obviamente, o cara tinha muita influência sob seu irmão.
Obviamente, ele lhe disse para assinar com a NRR.
Não queria Yibo no NRR. Eu o queria na NASCAR. Comigo. “Talvez você deva pensar mais nisso.” Disse a ele.
Sua cabeça inclinou para o lado. “Pensei que você queria que eu decidisse o mais rápido possível, por causa da entrevista da GearShark e do início da temporada da NASCAR.”
“Quero que você tenha certeza do que está fazendo.”
“Tenho certeza. Mais certo do que eu já estive.” Ele parecia seguro, confiante. Adorava o olhar dele, mas odiava que o estava tirando de mim.
Ele não é seu para ser tirado. Certo como o inferno, não parecia nesse momento.
Limpei minha garganta. “Então, eu acho que Liu ajudou você a decidir.”
Yibo acenou com a cabeça.
Fiz um som e me virei. Isso era difícil. Mais do que pensava que seria. Eu queria chamar Gamble e dizer-lhe para ir se foder por me enviar aqui. Então queria fugir, ir para outro lugar e começar tudo de novo.
Fiz isso uma vez.
Não foi divertido então. Seria pior agora.
“Zhan.” A voz de Yibo estava tão próxima. Então senti sua mão, seus dedos envolvendo meu pulso.
Olhei para ele. Ele estava tão perto, mas tão longe.
“Não vou mentir.” Eu disse asperamente. “Estava esperando que você escolhesse a NASCAR.”
“Eu fiz.”
Pisquei. Pisquei novamente. Era como se meu cérebro tivesse feito uma tomada dupla, mas o resto de mim não se mexeu. Então, de repente, uma vez que percebi o que ele tinha dito, girei para encará-lo. “Você escolheu NASCAR?”
Ele meio que sorriu, balançando a cabeça. “Você está surpreso?”
“Bem, sim.” Zombei.
Um olhar percorreu suas feições, um desejo cauteloso. Lentamente, ele estendeu a mão e escovou as costas de seus nódulos sobre minha mandíbula. “Não deveria ter sido uma grande surpresa.” Sussurrou.
Meu coração agarrou. “Tudo em você é uma surpresa.” Murmurei.
Avancei abruptamente, inclinei meu rosto e coloquei meus lábios nos dele. Tive que beijá-lo naquele momento. Não havia outro curso de ação.
Respirei enquanto nossos lábios se fechavam, como se não bastasse beijá-lo, como se eu tivesse que encher meus pulmões com o ar que acariciava sua pele.
Ele ficou surpreso, mas então, toda a rigidez drenou de seu corpo e nós derretemos juntos. Um dos meus braços envolveu seus ombros e puxei-o para mais perto. Yibo era alto, mas eu era mais largo do que ele, talvez uma polegada mais alto.
Ele se encaixou perfeitamente no meu domínio. Ele preencheu todos os lugares vazios, embora fosse eu que o cercasse, ele me fazia sentir completo.
Os dedos de Yibo dobraram-se na parte de baixo das minhas costas, agarrados em minha camisa e depois soltou. Eu me encostei um pouco mais perto, enquanto nossos lábios saboreavam um ao outro uma e outra vez.
Lambi a língua dele, aquele lábio inferior carnudo que tanto amava e deslizei sobre seus dentes.
Meu sangue martelou de necessidade e fui um pouco mais profundo. Ele gemeu e engoli. O gosto era algo que queria que nunca acabasse.
Seu peito estava pressionado contra o meu. Nossos corpos se esfregaram enquanto nos beijávamos e lutamos para nos aproximarmos. Não poderia dizer se era meu coração ou o seu, que batia tão fortemente. Não tinha me sentido assim há tanto tempo. Não sentia todas as razões para me afastar e puro instinto assumiu.
Eu me aproximei, agarrei-o ainda mais e comecei a andar. Seus passos arrastaram-se pelo chão enquanto continuávamos a nos beijar e praticamente o empurrei pelo chão, até que suas costas atingiram um grande armário.
Estendi a mão, embalando a parte de trás de sua cabeça com a minha palma e então mergulhei em sua boca com ferocidade renovada. Seus dedos cavaram em meus lados, ancorando seu corpo perto e ele me beijou de volta, com toda a paixão que pensei que nunca mais encontraria.
Rasguei minha boca livre e nós dois ofegamos. Então continuei beijando sua mandíbula e seu pescoço.
Ele inclinou a cabeça, me dando acesso e lambi e belisquei na direção da tatuagem de seta apontando no pescoço.
Queria afundar meus dentes naquele ponto. Eu queria chupar a carne e deixar uma marca, de modo que a seta apontasse como um sinal aceso, para coisas que precisavam de atenção extra.
Apenas o pensamento, apenas a intenção de fazê-lo, me fez rosnar como um predador. Com o som, empurrei meus quadris para frente e prendi Yibo ainda mais contra o armário. Meus dedos enrolados nas bordas da flanela e da camiseta, arrancando o tecido longe desse ponto.
Alguma coisa mudou no ar. Demorou um segundo para quebrar a névoa da necessidade mas eu o fiz.

O corpo de Yibo estava rígido agora e em vez de ficar apenas preso entre eu e o armário, ele estava encurralado contra ele, como se estivesse tentando fugir.
As mãos contra os meus lados estavam vibrando e tremiam tanto. Até senti um ligeiro tremor em seus joelhos.
Levantei a cabeça, a poucos centímetros do local que estava morrendo de vontade de possuir. Seus lábios estavam rosados, lustrosos e ligeiramente inchados pelo modo como nós havíamos ido um ao outro.
Mas em vez do olhar nebuloso, com tesão em seus olhos que eu esperava, havia pânico...
Medo. 
Recuei instantaneamente, mesmo que tivesse a sensação de erguer uma língua de um poste congelado. Eu não conseguiria deixá-lo ir completamente, então uma mão permaneceu pressionada contra seu abdômen.
“O que eu fiz?” Perguntei; minha voz áspera.
Ele olhou para mim e desviou o olhar. Sua cabeça tremeu uma vez, na negativa.
“Diga-me.” Exigi.
“Eu...eu não posso.” Sua voz estava trêmula.
Senti-me obrigado a dizer algo, a entender. A vibração no ar era inconfundível, mas eu não entendia. “Você sabe que eu não vou te machucar, certo?”
Yibo não disse nada. Em vez disso, seu olhar permaneceu longe. Suas mãos trêmulas caíram dos meus lados e senti que estava perdendo algo, algo que queria ferozmente.
“Ei.” Eu disse um pouco mais vigorosamente, um pouco mais irritado do que pretendia. Minha mão segurou seu queixo, forçando seu rosto para o meu.
“Quem machucou você?”
Seus olhos procuraram os meus. O medo desapareceu, mas o que deixou em seu rastro era a miséria óbvia. “Me desculpe.” Ele sussurrou.
“Pelo quê?” Perguntei.
“Está sempre lá.” Ele continuou como se estivesse falando para si mesmo e não para mim. Os olhos escuros, que pareciam um aperto para o meu peito, oscilavam em mim, perfurando-me com a desolação. “Não posso fazer isso.”
Deixei cair seu queixo, prendendo seu corpo com os braços, pressionando minhas palmas contra o armário. “Fazer o que?”
Ele gesticulou entre nós, sua língua lançando-se para molhar seus lábios.
“Isto. Pensei que poderia. Eu quero.” Sua voz se quebrou. Seus olhos imploraram para que eu entendesse. “Deus, eu quero. Mas agora-“ Ele parou, balançando a cabeça. “Tenho medo que eu vou apenas trazer você para baixo comigo. A única coisa pior do que estou dizendo agora é que um dia você me olhe e perceba que cometeu um erro.”
Ele estava me rejeitando.
Isso machuca.
Doía pior do que apenas dor.
Não era nada menos que aniquilação total.
Eu finalmente tinha começado a me abrir. Finalmente comecei a talvez sentir novamente, apenas para ser servido com um prato frio.
Afastei-me do armário, me afastei dele e olhei para o chão frio.
Em que diabos eu estava pensando? Sabia melhor do que isso! Abrir-me a isso novamente, era nada menos que suicídio.
“Tenho que ir.” Eu disse rápido.
Não olhei para trás. Não disse outra palavra.
Dirigi rápido fora de lá, meus pneus deixando trilhas na neve recém-caida.
.....

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