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Capítulo Onze
Coisas que fazem você pensar “Mas que porra?” 
Adolf Hitler só tinha um testículo.

♤PRESENTE ♤
WANG YIBO

Encontrei-me preso entre dois mundos diferentes.
Como eu acabei aqui novamente?
Eu disse a mim mesmo na última vez, que nunca haveria outra. Sempre permaneceria fiel a quem eu era, não importaria o custo.
Afinal, já tinha pago um preço tão alto. Não poderia haver nada pior.
De qualquer maneira, as escolhas eram difíceis.
Talvez por isso, muitos de nós vivêssemos no limbo. Às vezes, o desconforto da indecisão era preferível à dor da escolha. Especialmente, quando tantas das decisões que fizemos em um momento poderiam alterar o resto de nossas vidas.
Sabia disso melhor do que a maioria
Talvez a vida fosse uma série de encruzilhadas e parecia que eu estava condenado a ficar no cruzamento debatendo que caminho percorrer, por tanto tempo, que era quase paralisante.
Talvez por isso estivesse sempre sozinho.
Deixado para trás.
Todo mundo estava passando por mim enquanto eu ficava parado, esperando por algum sinal, de que não iria fazer algo que me causaria uma barriga cheia de arrependimento.
A coisa era que não queria ficar parado.
Eu era um corredor, destinado à velocidade. Destinado a ir até tudo ao meu redor, ser apenas um borrão.
Que enorme justaposição eu me tornei. Querer muito conduzir rápido, mas sempre, sempre batendo os freios.
Minha vida não saiu do jeito que esperava. Inferno, onde eu estava agora, não era nem mesmo algo que já tinha imaginado.
Contudo…
Onde estava não era um lugar ruim para estar.
Encontrava-me em uma situação única. Com uma oportunidade única.
Não uma, na verdade, mas duas.
Indie ou pro.
Para alguns, talvez isso fosse fácil. Não para mim. A decisão de dirigir no NRR com meu irmão, minha nova irmã e meu melhor amigo Drew ou tomar um lugar para ganhar com a NASCAR, com um grande patrocinador, era algo em que estava esperando por meses.
Meses.
O relógio da paciência estava se esgotando com todos os envolvidos.
Muito em breve, ia ter que escolher ou desistir.
Não conseguia desistir. Esta era a minha chance, uma oportunidade para me libertar de onde estava e começar de novo. Não era uma coisa nova para mim, começar de novo.
Ou era?
Talvez por isso essa escolha fosse tão difícil. Talvez fosse por isso, que a decisão para tomar um lugar ao lado da minha família, não fosse tão desmiolada assim.
Talvez todo esse tempo, só estivesse no limbo.
Pulei no carro, afastei-me do que costumava ser, mas o motor parou no lado de uma estrada vazia. E lá estava eu, sentado.
Haiukan tentou me rebocar. Na verdade, ele fez.
Mas um homem só pode ser levado tão longe, até que ele consiga se segurar em seus próprios pés.
O tempo estava passando. Dias rolando pelo calendário. Senti uma temporada de mudança no ar, algo dentro de mim me perturbando cada dia mais.
Meu telefone me provocando com o correio de voz.
Ron Gamble tinha telefonado. Ele queria me ver.
Ele queria uma decisão.
O único problema?
Eu estava assustado.

................
XIAO ZHAN
Coisas que fazem você pensar “Mas que porra?”
Os seus mamilos alinham com a sua linha de orelha.

Eu não conseguia dormir.
Tinha uma reunião no início da manhã, mas não era por isso.
Insônia era a minha melhor amiga. Às vezes, a minha única companheira.
Quando o sono me escapava, eu não era do tipo deitar na cama e olhar para o teto. Em vez disso, me levantava, vestia e saía.
Ao longo dos anos, me tornei um conhecedor da noite, mais familiarizado com o centro da cidade no meio da noite e madrugada, do que em qualquer outro momento.
Gostava da escuridão. Ela encobria um monte de coisas. Também era tranquila; o que conduzia a um monte de pensamentos.
Evitava isso o máximo possível, mas você não pode fugir do que está em sua própria cabeça com muita facilidade. Sempre saía de uma maneira ou de outra.
O barulho das minhas botas pretas ecoou na calçada, enquanto caminhava pela rua recém-molhada. A chuva tinha parado, mas o ar ainda era espesso, devido ao tipo de chuvisco frio que possuía a capacidade de passar por sua pele e entrar profundamente em seus ossos.
O sinal de néon vermelho do CAFÉ, pendurado no edifício, moldava um fulgor vermelho em poças próximas e listras de néon sobre o tijolo vermelho-oxidado. Meu casaco de couro estava roto, um pouco gasto, mas era grosso e mantinha fora a pior mordida no ar. Debaixo dele, usava um simples moletom de capuz preto, o capuz puxado para cima, escondendo meus cabelos e rosto. Eu andava curvado, com meus ombros esticados sob minhas orelhas e ambas as mãos empurravam profundamente nos bolsos de minha calça de brim.
A grande janela de vidro na frente da cafeteria estava iluminada por dentro. Por que o lugar ficava aberto praticamente toda a noite era algo que eu nunca me preocupei em perguntar. Estava apenas contente que estava aberto. Acabava aqui mais vezes do que não, eu e alguns outros refugiados da noite, que nunca falavam uns com os outros.
Ninguém estava lá para conversar, mas de certa forma, era um grupo de apoio mesmo assim. Afinal, o que fazia com que essas pessoas estivessem no centro em uma cafeteria no meio da noite, provavelmente não era bom.
O cheiro profundo de café forte me atingiu no segundo em que a porta se abriu. Em seguida, uma onda de calor foi contra as minhas bochechas.
Puxei minhas mãos dos meus bolsos e tirei o capuz escondendo minha cabeça.
Ao mesmo tempo, acenei para a mulher atrás do balcão e tomei o meu assento habitual perto da janela no canto.
Aqui eu podia olhar para a rua, olhar para a noite, mas era mais difícil olhar para mim por causa da minha posição.
Uma caneca branca cheia com a fermentação preta apareceu na minha frente. O vapor flutuava em direção aos meus lábios.
“Obrigado.” Disse rouco.
Ela deixou cair alguns pacotes de creme na mesa marrom ao lado da xícara e arrastou-se para longe. Seus pés pareciam nunca sair do chão. Não sei por que ela sempre deixava os pacotes. Nunca os usei. Nem uma vez.
Às vezes achava que era sua forma de reconhecer o anonimato, que eu usava como um manto. Como se ela nunca tivesse me visto antes, nunca tinha me sentado nesta cabine de canto e ela não tinha ideia de como iria tomar o meu café.
Ou talvez ela fosse preguiçosa e não queria me dar a chance de pedir, na única vez que ela não os deixou.
Provavelmente era isso. Certamente ela não gastava tanto tempo pensando no cara que estava sentado no canto e nunca falava.
A bebida estava escaldante ao toque, quando envolvi uma única mão ao redor do corpo da caneca, enfiando alguns dedos sob a espessa e branca alça.
O café era sempre fresco aqui. Sempre quente. Um detalhe que nunca foi perdido por mim. Falava em nome de cuidados não ditos. Como a mulher atrás do balcão fosse suficientemente pensativa para se certificar de que a bebida era digestível.
Isso trouxe de volta a minha reflexão anterior, sobre o creme e o verdadeiro motivo para que ela sempre o trouxesse.
Era assim que passava a maior parte das minhas noites, naquelas horas em que o dia anterior morreu e o novo dia ainda estava nascendo. Pensando sobre o creme e as ações de uma mulher que não conhecia. Bebia xícara após xícara de café quase fervente, mantendo uma queimadura permanente na minha língua.
Aquelas horas calmas e escuras eram solitárias e, às vezes, ameaçavam me engolir. Remorso queimava muito mais do que qualquer café quente poderia e em algumas noites, me sentava lá e ansiava por uma pausa de sono oferecido, mas nunca concedido.
Essa era a minha punição, no entanto.
Nenhuma paz. Nenhuma ruptura com a realidade ou com a vida que criei.
Em vez disso, passava a noite como um fantasma, condenado a nunca cruzar, assombrado com negócios inacabados.
A minha caneca vazia fez um som oco, quando a coloquei uma última vez na mesa. A cafeína que consumi nunca me afetou, nunca me fez ficar ligado.
Às vezes pensava que me acalmava. Com mãos firmes, pesquei no bolso da minha calça jeans desbotada, tirei algum dinheiro e o atirei perto da xícara e do creme não utilizado.
Todo mundo ainda estava sentado em seus assentos designados. Mais ou menos como se fossem parte do desafio do manequim, mas ninguém estava tirando uma foto.
O ar da noite era energético e mordeu em minhas bochechas. O som de um motor a poucas ruas ecoou na noite e o som baixo do vento assobiando, escovou contra as minhas orelhas. Puxei meu capuz para cima e saí para a rua.
O sol nasceria logo. Outro dia se foi. Um novo dia chegou.
Acelerei na noite, mal percebi a montra em exibição ou o passar de carros. Apenas quando o céu começasse a iluminar, dirigiria para casa, tomaria banho e mudaria e dirigiria para o trabalho.
Minha cabeça estava caída, quando um som familiar cortou a noite.
Exatamente assim, um milhão de lembranças passaram por mim como uma tempestade.
Uma maré de saudade e culpa ameaçou me afogar e fiquei sem fôlego.
Então me lembrei.
Eu não me afogaria. Não essa noite. Nunca.
Aparentemente, podia respirar debaixo d’água.
Outra brincadeira cruel, outra punição.
Eu não vivia mais. Simplesmente sobrevivia.

......


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