inefável ; richard rios.

neuf.

[7:37 a.m] 1 semana depois.

O sol matutino e o vento gelado se faziam presentes no CT. Estava com a cabeça abaixada e com os olhos fixos na chuteira que eu estava vestindo, meus músculos estavam relaxados mas a tensão se instalava dentro de mim.
Melissa me aceitou em seu Instagram, mas voltamos à estaca zero quando a garota me bloqueou novamente no WhatsApp após eu ter curtido uma foto dela, sendo que eu só curtia fotos dos meus parceiros de equipe e família, o que causou um certo burburinho e rumores na internet.

— O RÍOS É FODA! – Dudu entrou no vestiário gritando, tirando minha atenção dos meus pensamentos e me fazendo levantar a cabeça para olhar para o garoto.

— Foda? Ele é fodao, o mais pica e o mais brabo. – Gabriel Menino entrou na onda e eu continuei sem entender, olhando com dúvida para os dois.

— O que eu fiz? – Disse com total desinteresse e completamente cansando, sem pique para a gritaria pela manhã.

— Irmão, você simplesmente tá pegando a protegida do Veiga. – Revirei meus olhos pela forma de como eles se referiram a ela e levei minha mão até meu rosto.

— É porque você não estava aqui em 2022, mas o Scarpa já apanhou por ter beijado a Melzinha. – Gomez diz entrando na conversa e eu começo a prestar atenção no que eles estavam falando.

— Como foi isso? – Scarpa foi um dos jogadores mais falados que já passaram pelo Palmeiras, em cada canto do CT tinha alguém pronto para fazer um comentário sobre ele. E saber que ele já beijou Melissa me deixou um pouco incomodado.

— Foi na única festa de elenco que a Mel foi. – Menino continuou a falar. — Ela cumprimentou todo mundo normalmente e foi pra' um canto com a Bruna, o Scarpa foi lá conversar com ela e eles ficaram. Veiguinha já tava no brilho, bebaço e deu um soco não muito forte no Scarpinha.

— Foi foda esse dia. – Piquerez disse segurando a risada, como se estivesse lembrando exatamente como foi no dia.

— E vocês tiraram da onde que eu tô' com ela? – Me fiz de desentendido, querendo saber se os rumores já estavam sendo muito comentados.

— Tá em nárnia? Tá geral falando disso. – Endrick me olhou como se fosse óbvio e apontou para o próprio celular. — Você só segue umas dez mulheres no Instagram, contando com as da sua família e só curte foto da gente. O perfil da Melissa é privado e ela segue pouquíssima gente, então se vocês não estavam querendo que ninguém soubesse desse rolo, foram muito burros.

— Não estamos ficando. – Me levantei do banco e fui vestir minha camisa do time. — Dei uma carona pra ela no dia do aniversário do Veiga e só isso.

— Ah para, Colômbia. Cê tava quase beijando ela no dia das fotos aqui no CT. – Gomez me deu um tapa fraco na nuca e eu apenas dei de ombros, enquanto negava.

— Que que tem a ver? Não beijei e fé. – Eu era um ótimo mentiroso. — Agora calem a boca e vamos treinar antes que o diabo Veiga pegue a gente falando da irmã dele.

Saí do vestiário ansioso e inquieto em relação a garota. Me sentia um pouco culpado por ter insistido em segui-la e por ter curtido as fotos delas e isso ter causado os rumores.
Passei a noite em claro lendo todos os comentários de todos os posts feitos sobre ela para ver se achava  algum comentário ofensivo ou cruel demais.
Tentei mandar mensagem na DM da garota e até cogitei em parar de seguir ela e a deixar em paz, mas isso só pioraria mais as coisas.

Voltei minha atenção ao treino quando uma garrafinha de água jogada por Veiga, voou em minha direção e ouvi a voz do treinador Abel, mandando eu prestar atenção nas palavras dele.

O treinamento começou e, apesar da minha tentativa de focar no que estava sendo dito, minha mente continuava a vagar para a situação com Melissa. Cada passe, cada drible parecia uma distração para o caos interno que eu estava enfrentando. O grito de Abel firme e cortante, interrompeu meus pensamentos e me trouxe de volta ao campo.

— Vamos lá, pessoal! Foco total – Abel gritava, observando cada movimento com um olhar crítico. — Se concentrem nas jogadas, na posição, no que está acontecendo ao seu redor. Nada de distrações!

Pelo canto do olho pude ver Dudu e Gabriel trocando sorrisos e olhares discretos, como se estivessem rindo da minha situação. Engoli em seco e me forcei a seguir o ritmo do treino, tentando não me deixar abalar. O campo estava mais gelado do que o usual, e eu podia sentir a diferença em cada corrida que dava, mas esse era o menor dos meus problemas.

Durante o intervalo, sentado sozinho em um canto do campo, tentei respirar fundo e me acalmar. O barulho do treinamento continuava no fundo, e eu me permiti alguns momentos de introspecção, tentando colocar as ideias em ordem.
Enquanto estava distraído, alguém se aproximou. Era Endrick, que parecia preocupado, mas também curioso.

— E aí, mano, tá tranquilo? – Ele perguntou, com um tom de genuína preocupação na voz.

— Tá suave. – respondi, tentando não demonstrar demais. — Só tô tentando lidar com esses boatos todos.

— Olha, não faço ideia do que aconteceu realmente, mas uma dica: às vezes é melhor se afastar um pouco e deixar a poeira abaixar. As pessoas acabam esquecendo rápido e o burburinho diminui.  – Eu assenti, mais para mostrar que estava ouvindo do que realmente acreditar que seria a solução. Endrick não era o tipo de pessoa que daria conselhos vazios.

O treino continuou e, apesar de todos meus esforços para manter a cabeça no jogo, era difícil. Quando o treino finalmente acabou segui para o vestiário, olhando ansioso para o meu celular na expectativa de alguma mensagem vinda dela, o que não ocorreu.

Na saída me peguei pensando sobre o que realmente importava. Se eu queria ser reconhecido pelo desempenho no campo ou se as questões pessoais e os rumores acabariam por desviar meu foco.
Talvez fosse a hora de dar um passo atrás e reavaliar o que realmente queria.

A última coisa que eu sabia era que precisava de um tempo para colocar os pensamentos em ordem e talvez encontrar uma maneira de lidar com a situação sem deixar que ela definisse minha carreira ou minha própria paz de espírito.