00' - prologue

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🎵 take you like a drug
I taste you on my tongue

boa leitura!

◾️Christopher◾️

Ela rodopia de braços abertos sobre o palco. Seus olhos estão fechados e a voz ecoa por todo o teatro sem que ela erre uma única nota, mesmo estando dançando animadamente enquanto canta. É tanto talento que ela nem vacila. Isso é o que a faz ser tão fascinante. Eu a olharia e a ouviria por horas, mesmo que tivesse que perder todas as minhas aulas e meus treinos para isso. Dane-se a faculdade, ela é o único futuro que eu enxergo para mim. E desde que a ouvi cantar pela primeira vez, isso se firmou na minha mente.

Dulce Maria é um anjo que está encarcerado na vida que outras pessoas escolheram para ela. Desde que a vi pela primeira vez, eu soube que ela se sentia presa. Ela é brilhante no curso de direito de Stanford, sendo considerada uma das melhores alunas da instituição. Mas não há brilho em seus olhos quando ela está fazendo isso. O brilho aparece quando ela canta ou quando toca algum instrumento. Ser uma estrela é realmente o que ela deseja para si.

Aplaudo audivelmente quando ela termina a canção. Seu grande sorriso aparece e ela faz uma reverência como se o teatro estivesse cheio. Antes, eu costumava me esconder nas sombras para que ela não me visse a assistindo. Nós nunca tínhamos interagido um com o outro ainda e ela sequer havia se dignado a olhar na minha direção por mais de dois segundos. Mas agora que criamos um laço, eu sento na primeira fileira e a vejo cantar para mim e só para mim.

— Maravilhosa! — exclamo ao ficar de pé.

— Você não está atrasado para o seu treino? Não quero que fique levando broncas por minha causa. — ela vai até as escadas do palco e desce dele, começando a se aproximar de mim.

— Não me importo com as broncas se puder ouvir a sua voz incrível.

Ela ri negando com a cabeça e pega o seu casaco, que deixou em um dos assentos ao chegar ao teatro.

— Bom, eu já estou atrasada e não quero levar bronca. — se vira e começa a ir até a saída.

— Quer carona?

— Christopher, você tem treino.

— E daí?

Ela se vira antes de chegar às portas de saída e me encara com o olhar semicerrado.

— Para com isso.

— Se você aceitasse sair comigo fora do campus, eu não teria que catar cada migalha de tempo que eu tenho com você.

— Vou ter que dizer de novo pra você ir atrás de outra? Eu não pretendo namorar ninguém. Homens são só distração e eu não posso me distrair.

— Ai. — coloco a mão no peito fingindo sentir dor. — Como a dona de uma voz de anjo consegue ser tão fatal?

— Talvez seja a voz de uma sereia. — dá de ombros com um sorrisinho travesso nos lábios.

Não dá, eu consigo amar até mesmo o jeitinho ácido dela, porque ele sempre vem acompanhado de uma carinha inocente. Ninguém imagina que Dulce é o tipo de pessoa que fala as coisas na cara, porque ela não costuma falar com ninguém e está sempre seguindo o roteiro de sua vida minuciosamente. Mas eu adoraria dar um jeitinho nessa língua afiada.

— Você vai ceder. — me aproximo ficando cara a cara com ela, poucos centímetros nos separando. — E quando isso acontecer, você vai implorar pra ser minha.

Dulce pisca quase em câmera lenta e então solta uma risada tão musical quanto sua voz.

— É tão fofo ver alguém acostumado a sempre ter o que quer finalmente encontrando algo que ele não vai ter. — faz um biquinho desdenhoso e dá um tapinha leve em minha bochecha. — Eu sou uma coisa que você não pode comprar, herdeiro do ouro.

SirenaOnde histórias criam vida. Descubra agora