Sirena

23' - easy come, easy go

🎵 yes, I would die for you, baby
but you won't do the same

boa leitura!

◾️Dulce◾️

Está sendo difícil manter a bateria social carregada essa noite. John Aubinet, apesar de ter mais rugas que um maracujá maduro, parece ter o espírito de um jovem de vinte anos e não parou de rir, beber e dançar ao som da banda de jazz. E ele está amando ouvir todo o conhecimento que eu tenho sobre música.

Após muitas horas de bajulação, eu me retiro para ir ao banheiro. Há uma mulher retocando seu batom no espelho e eu abro um breve sorriso para ela enquanto vou até uma das pias para lavar as mãos suadas e cheias de micro-organismos depois de apertar as mãos de muitos homens e mulheres que me foram apresentados. A maioria dos homens, é claro, eu já conheço, mas soube fazer o meu papel perfeitamente bem.

De todo modo, eu posso me acostumar com ambientes assim. Festas chiques com comida cara e música de qualidade. Pessoas ricas trocando suas experiências sobre negócios e mulheres que realmente entendem de joias e sapatos de grife. É agradável poder ter uma noite glamourosa onde eu não sou o enfeite em cima de um palco, nem o objeto dos futuros anseios sexuais de algum homem que não me merece.

Observo meu reflexo no espelho depois que a única moça ao meu lado deixa o ambiente. Preciso começar a considerar a possibilidade de deixar a Velvet Oasis. Eu não gosto de trabalhar como uma acompanhante de luxo. E apesar de apreciar os olhares de adoração, isso se torna cada vez menos valoroso quando eu sei que vou terminar a noite tendo que transar com alguém mesmo que esteja com a libido no subsolo. Pelo menos o Christopher tem aliviado essa parte, mas sei que não vai ser assim para sempre.

Se eu não fizer ele confiar em mim em breve, estarei fadada a continuar nesse trabalho desumano, servindo de souvenir para homens milionários que estão entediados com suas próprias esposas. Eu queria ser uma esposa, na verdade. A esposa do Christopher. Mas uma esposa que ele jamais trairia. Da mesma forma que ele adota uma fúria assassina quando algum homem se aproxima de mim, eu também poderia escalpelar algumas pessoas que se atrevessem a tentar ter o que é meu.

Eu tenho a necessidade de ser o mundo dele, não apenas para que ele queira me proporcionar tudo, mas para que ele seja o meu mundo também.

Ouço a porta do banheiro ser aberta e me esquivo para perto do espelho, disfarçando ao fingir limpar algum borrado na maquiagem dos meus olhos. Mas ao invés de ver uma mulher entrando como previ, vejo ombros cobertos por um paletó preto bem atrás do meu reflexo.

Volto a manter a postura e encaro seriamente o olhar sério que me olha de volta.

— Errou a porta, querido? Esse é o banheiro feminino. — digo segurando um tom de desdém na minha voz.

— Você gosta de ser a bonequinha dele? — Nicholas questiona com acidez.

— Eu pareço uma boneca, não é? — pisco os meus cílios de um jeito inocente.

— Você não é burra, Sirena. Sabe que ele só te trouxe aqui para te usar.

— Ah, é mesmo? — finjo uma surpresa dramática.

— Ele não gosta de você da forma que está achando.

— E o que você pensa que eu estou achando?