De joelhos

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Narrado pelo Júnior


— Como foi na faculdade, Júnior? — Minha mãe pergunta enquanto jantamos.

Geralmente faço o meu próprio lanche, ovos mexidos ou um sanduíche, mas eles, inclusive o meu irmão, gostam de arroz, feijão, carne e salada.

Dona Iara, minha mãe, trabalha somente de quinta a sábado, ela é especialista em cabelos loiros e tem uma clientela fixa no salão onde atende. De segunda a quarta ela está em casa cozinhando, limpando e cuidando da organização do nosso apartamento.

Meu pai às vezes a ajuda secando uma louça ou até cozinhando alguma coisa, até que não é tão inútil. Lorenzo e eu ajudamos a manter tudo organizado, o lema é: sujou, limpou, obrigação de quem tem que obedecer, mas enquanto meu irmão reclama, eu não ligo muito, até porque depois que for morar sozinho um dia, terei que fazer tudo.

— Está tudo bem, tenho um trabalho grande para entregar em um mês, mas já comecei a pesquisar — dou de ombros respondendo a sua pergunta.

— Viu, Lorenzo, você tem que se espelhar no seu irmão, só fica nesses joguinhos, depois tem dificuldade de concentração.

Seu Flaviano, meu pai, nunca perde a oportunidade de importunar o menino, se bem que comigo era a mesma coisa, exceto que ele me comparava a ele mesmo quando mais novo. Minha mãe não costuma se meter em seus sermões e eles concordam em quase tudo.

— Não liga para ele, Lo, quando eu tinha a sua idade, ele também pegava no meu pé — falo para o meu irmão quando ele já está em sua cama

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— Não liga para ele, Lo, quando eu tinha a sua idade, ele também pegava no meu pé — falo para o meu irmão quando ele já está em sua cama.

Nós não dividimos o mesmo quarto, além da suíte dos meus pais, o apartamento, que é alugado, possui mais dois quartos onde podemos ter a nossa privacidade.

— Odeio quando ele fala assim comigo — Lorenzo diz com um bico enorme e lágrimas nos olhos.

— Eu sei, não pensa que comigo foi diferente, até você crescer um pouco e conseguir entender mais as coisas, era eu quem recebia as suas ofensas e frustrações — falo me lembrando da minha infância.

Se meu pai sequer sonhar o que eu faço escondido de seus olhos, tenho certeza de que entraria para a estatística dos filhos que são expulsos de casa depois de serem espancados pelos pais.

Deixo um beijo nos cabelos de Lorenzo e saio de seu quarto indo para o meu. Tenho certeza de que minha mãe também iria até o meu irmão para um carinho antes dele adormecer. Uma pena ela ser tão apaixonada pelo marido e fechar os olhos para  as suas atitudes. Seus pais, meus avós maternos, nunca gostaram muito do genro, eles apenas o toleravam e o tratavam bem, por ela e por nós, infelizmente, partiram cedo demais.

O mais engraçado de tudo isso, é que na família do Sr. Flaviano, ele é tratado como quase um herói, seus irmãos o adoram, seus pais o veneram e ele retribui todo esse carinho, nem parecendo a mesma pessoa. Ainda tento entender se ele é falso com eles ou somente não gosta de seus filhos.

Um Bom GarotoOnde histórias criam vida. Descubra agora