Febril

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Narrado por Solano


Meus primeiros dias de trabalho foram satisfatórios. Os colegas do meu setor eram atenciosos e meu gestor imediato paciente, embora eu tivesse experiência profissional. Conheci as regras da empresa, visitei algumas das obras e não pude deixar de reparar nas belas mulheres por onde passava.

Eu estava há um tempo sem transar, com tudo o que me aconteceu no Rio, não tive cabeça para nada além de arrumar minhas coisas e partir. Tinha até pensado em ligar para o amigo de Flaviano, que se dispôs a me mostrar um pouco da vida noturna na cidade, mas era o meu primeiro fim de semana com a família do meu irmão e preferi ficar com eles.

E falando em família, percebi que estava me esbarrando com Júnior sempre que saía do banheiro, é claro que poderia ser coincidência, se não fosse seus olhares para o meu corpo. Meu sobrinho poderia enganar os seus pais e talvez até os seus amigos, mas eu tinha experiência, conhecia rapazes como ele, os olhares cobiçosos eram os mesmos.

Fiquei um pouco preocupado com o Lorenzo devido a sua febre, mas meu irmão parecia tranquilo ao telefone e Júnior também, deveria ser coisa de criança. Como nunca tive filhos e meus sobrinhos cresceram longe de mim, não poderia opinar.

Sentei-me no sofá da sala para ver algum programa de esportes, sempre fui apaixonado por futebol, até fiz escolinha quando era moleque e tinha o sonho de me profissionalizar, mas acabei torcendo o joelho e tive que fazer uma cirurgia, foi quase um ano de fisioterapia e o sonho virou somente lazer.

O surf veio na adolescência, meu padrinho, irmão da minha mãe, tem uma casa no litoral paulista e sempre que possível, ia passar as férias lá. Meus primos, que são mais velhos, me ensinaram e, quando fui morar no Rio, anos depois, voltei a praticar.

Eu estava à vontade, vestido de calção e camiseta e ao ver o olhar cobiçoso de Júnior sobre meu corpo, me lembrei que meu sobrinho ainda era muito jovem e com os hormônios à flor da pele, mesmo sendo seu tio, eu era um homem e pelo que vinha percebendo, ele era no mínimo bissexual.

Ele que tentava ser discreto, por alguns segundo perdeu a compostura e resolvi o confrontar:

— Quer alguma coisa, Júnior?

Achei que negaria ou até iria sair correndo, mas para a minha surpresa, não foi o que fez.

— Querer eu quero, mas não posso — seu sorriso e sua última olhada antes de se retirar da sala, fez meu pau pulsar involuntariamente. Caralho! Precisava sair da casa do meu irmão o mais breve possível. Deus me livre se ele desconfiasse do que se passava na cabeça de seu filho perfeito.

Júnior não voltou mais à sala e agradeci por isso. Quando o restante da família chegou, Lorenzo parecia um pouco abatido.

— Tá tudo bem com ele? — Pergunto enquanto o menino se deita encolhido no sofá, bem ao meu lado.

— Ele está gripado e com a garganta infeccionada, já compramos o antibiótico e agora é só seguir o tratamento — minha cunhada explica.

— Se eu tivesse um filho, acho que iria pirar — acaricio os cabelos do garoto sentindo sua pele ainda um pouco quente.

— Passamos por mais sustos com o Júnior, para pais de primeira viagem é tudo mais aterrorizante — Flaviano está tomando um copo de água enquanto conversamos.

— Imagino — não tenho planos de ser pai, mas se em um acaso do destino isso acontecer, queria demonstrar mais afeto.

Meu pai e Flaviano, que são os meus exemplos de paternidade, eram bons, mas faltava mais cumplicidade com os filhos, impor respeito para mim é diferente de impor medo.

Um Bom GarotoOnde histórias criam vida. Descubra agora