Pensamentos

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Narrado por Solano


— Nós vamos dar o jeito, Júnior, confia em mim, você não vai ser um refém da nossa família, isso eu te prometo.

Não conseguia parar de pensar na promessa que fiz ao Júnior. Precisava achar uma solução para nós. Queríamos a mesma coisa, mas estávamos separados por tantos empecilhos e a distância física, nesse momento, é o maior deles.

— Você anda distante por esses dias — Petterson me chama a atenção.

— Desculpa, problemas de família e do coração — confesso a ele.

Eu já gostava dele, mas depois que conheci a sua família e fui tão bem recebido, senti uma empatia ainda maior.

— Hum, teve um momento da minha vida que esses dois problemas eram quase o mesmo, foi o preço que paguei por me apaixonar pela minha prima.

Fico com vontade de me abrir para ele, mas o medo de sofrer preconceito ainda é muito grande, me falta coragem.

Chego em casa depois do trabalho e meu apartamento parece vazio demais. Depois de falar com a minha mãe e Júnior, tenho uma péssima noite. Não consigo parar de pensar na promessa que fiz a ele e que não tenho ideia do que fazer para cumpri-la. Porra! Não tenho nem coragem de falar com alguém sobre o assunto. Sou um covarde de merda.

Afundado no meu próprio desgosto, procuro consolo no vício. Lá estou eu, mais uma vez, em uma mesa de pôquer, único lugar que sinto alguma coisa, aquela adrenalina que me faz não querer parar.

Sei que estou indo por um caminho que vai me levar ainda mais para o fundo do poço, mas não tenho forças para lutar, parece que tudo de mais importante na minha vida foi tirado de mim. Preciso de ajuda, mas por que é tão difícil pedir e me abrir com alguém?

No fim da noite, depois de muitas perdas e ganhos, saio do cassino quinhentos reais mais pobre do que quando entrei, a sorte realmente parece que me abandonou.

Depois de mais um dia de trabalho visitando obras, Peterson me estende novamente uma boia de salvação, me convidando para um futebol com o pessoal do trabalho. Ele organiza os times e aceito, não consigo ficar dentro da minha própria casa e não quero perder o pouco dinheiro que ainda tenho.

Consigo me distrair, os caras são legais, mas nada consegue tirar aquela angústia do meu peito.

— Como vão as coisas? Te achei um pouco mais animado hoje, mas ainda parece que tem uma sombra em seus olhos — ele pergunta quando sentamos próximos para tomarmos uma cerveja após o jogo.

— Parece que estou no olho de um furacão, um espiral de problemas, tá foda.

— Não sei pelo que estás passando, mas se puder ajudar de algum jeito, sou um bom ouvinte — ele dá de ombros e cogito falar, mas ele não precisa ouvir todas as minhas merdas.

— Você não precisa ouvir as minhas merdas, vai por mim — dou voz aos meus pensamentos.

— Sabe, Solano, quando eu era mais novo, uns vinte anos, eu tinha um melhor amigo, o Diogo. Nós estudamos a vida inteira juntos, passamos no vestibular e cursamos a mesma faculdade, tudo parecia bem, até que ele morreu de uma hora para a outra; ele tirou a própria vida. Isso me dói até hoje, pois não tenho ideia os motivos que o levaram a tomar essa medida drástica, ele nunca disse nada, a família também não fazia ideia e ainda me pego pensando que se tivéssemos conversado mais, eu poderia ter tentado ajudar de alguma forma.

Vejo que o que me conta ainda o abala. Penso em Júnior, tenho medo de que ele possa fazer alguma besteira, sou a única pessoa que tem conhecimento sobre os seus sentimentos, me sinto responsável por ele e não sei o que faria se acontecesse algo assim.

Um Bom GarotoOnde histórias criam vida. Descubra agora