Cabeça-dura

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Narrado por Solano


A decisão de Ju vir para Balneário conversar com Flaviano, se deu depois de sua conversa com ele por telefone. Flaviano continuava irredutível, debochou do nosso caçula quando esse propôs a ajuda de um psicólogo e não baixou a guarda de jeito nenhum.

Também não fui feliz ao visitá-los, nem contei a Júnior para não o desanimar, mas seu pai ainda está muito magoado e fora de si. Senti pena da minha cunhada e de Lorenzo, que sofrem com a ausência de Júnior e o péssimo humor de Flaviano.

Minha esperança é esta conversa entre nós três, de frente, cara a cara, queria ver se Nano ainda se comportaria do mesmo jeito.

Levei uns quarenta minutos para chegar no aeroporto de Navegantes. Como fui por dentro da cidade para evitar a BR 101, tive que atravessar por uma balsa que faz a travessia entre os munícipios de Itajaí e Navegantes, mas tinha quase certeza de que na volta o Ju não iria querer voltar pelo mesmo caminho, ele sempre teve muito medo de água.

O voo, vindo de Congonhas, chegou quase às vinte e três horas, Ju desceu com uma mochila nas costas e abriu um sorriso em minha direção assim que me viu.

— Oi, mano — nos abraçamos com saudade.

— Fez boa viagem? — Pergunto enquanto nos dirigimos para a saída.

— Sim, foi um voo tranquilo. Como você está?

— Preocupado — sou sincero. — Essas atitudes do Nano estão me tirando o sono. Até entendo a sua mágoa, mas acho que ele está indo longe demais.

— Conversei bastante com o Júnior, ele está triste demais, coitado. Ele só quer voltar para casa, está preocupado com a faculdade e com o irmão.

— Lorenzo sente muito a falta dele, quando estive lá, ele me perguntou sobre o irmão, se eu tinha falado com ele. A Iara está proibida de ligar para o filho, acredita? O Nano quer castigá-lo, mas também está punindo toda a família — destravo o carro que está no estacionamento.

— Não acredito que você comprou essa peça de museu, é bem a sua cara — ele debocha do meu carro e leva um tapa no pescoço assim que senta no bando do carona.

— Caralho, mano! Sempre odiei esses tapas — ele diz bravo esfregando onde bati.

— Isso é para aprender a não falar mal do meu bebê — ele revira os olhos enquanto pego a estrada em direção a BR.

Vamos conversando sobre o seu trabalho, sua namorada e nossos pais. Conto um pouco dos meus fins de semana de surfe e dos novos amigos que fiz.

— E o coração, ainda não encontrou nenhuma catarinense que o balançasse? — Ele pergunta e foco na estrada com o meu pensamento bem longe dessas terras.

— Não, saí com algumas mulheres, mas nada que fizesse meu coração balançar — não estou mentindo, o único que conseguiu quebrar minhas barreiras foi o garoto levado para longe de mim.

— E você, quando vai colocar um anel de noivado na Millena? — Pergunto e ele não me responde. Escuto o seu suspiro e o olho brevemente. — O que houve?

— Não sei, eu gosto dela, estamos juntos há um tempo, quando somos só nós dois é o paraíso, mas perto de outras pessoas, sei lá, ela fica ciumenta, se torna possessiva, até com a própria família.

— Você tem que pensar bem o que quer para o seu futuro, acho que ter uma conversa sincera e fazê-la ver que se sente desconfortável com esse comportamento pode ser um começo, mesmo que isso possa magoá-la. É melhor do que assumir um compromisso e depois não conseguir cumprir, ainda mais se vocês tiverem filhos.

Um Bom GarotoOnde histórias criam vida. Descubra agora