Capítulo 7: Sentimentos

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Sinto meu coração palpitar ao meus olhos encontrar os olhos dele. Ele sorri e me ajuda a pegar a bagunça que fiz no chão.

— Seus olhos parecem jabuticabas — ele diz, com um sorriso suave que traz uma sensação de calor ao meu peito, mesmo em meio à confusão e ao cansaço.

Eu rio, um riso suave que mal consigo acreditar que ainda sou capaz de soltar. Faz tanto tempo que não escuto um elogio despretensioso, que quase esqueço como responder.

— Obrigada, Diego — digo, minha voz ainda fraca, mas com uma pitada de alegria inesperada. — Acho que é a coisa mais doce que já ouvi.

Ele termina de recolher meus papéis e me entrega com um cuidado delicado, como se cada folha fosse um pedaço frágil de mim. Nossos dedos se tocam, e é como se uma pequena corrente elétrica passasse entre nós.

— Você está bem? — ele pergunta, seus olhos examinando o meu rosto, tentando decifrar o que se passa por trás das minhas olheiras profundas e da peruca cuidadosamente ajustada

— Tive um susto hoje de manhã... — começo, hesitando por um momento. Não quero que ele se preocupe mais do que já deve estar.

— Mas estou bem agora. Eu acho.

Diego franze a testa, preocupado, mas antes que ele possa perguntar mais, eu decido mudar de assunto. Não quero falar sobre a rosa, o bilhete, ou o sentimento estranho de estar sendo observada. Pelo menos não agora.

— Preciso ir, não quero me atrasar para a quimio. — Tento soar mais animada do que realmente estou, mas ele conhece meu truque.

Ele assente, e seguimos juntos para a entrada do hospital. Ao caminharmos lado a lado, sinto uma mistura de medo e esperança, uma dualidade constante que se tornou parte da minha vida ultimamente.

Ao entrarmos no hospital, o relógio marca 6:50, me ajeito e apresso o passo até a ala de oncologia.

— Até mais tarde, jabuticaba. — Diego diz com uma voz doce.

Dou apenas um sorriso e caminho até meu destino.

Ao atravessar o corredor da ala de oncologia, vejo as cadeiras já ocupadas por rostos familiares — algumas pessoas lendo livros, outras conversando em voz baixa com familiares. Tento evitar o contato visual e me dirijo direto para a recepção, onde a enfermeira de sempre me cumprimenta com um aceno gentil.

— Bom dia, Mariana. Tudo certo? — pergunta ela, com um sorriso encorajador.

Eu apenas balanço a cabeça e entrego meu cartão de paciente. Enquanto ela verifica meus dados no sistema, meus pensamentos vagam de volta para Diego. "Jabuticaba". O apelido que ele me deu, por causa dos meus olhos escuros. De alguma forma, a simplicidade daquele apelido me dá uma sensação de normalidade, mesmo nos momentos mais difíceis.

— Mariana? — a voz da enfermeira me traz de volta para o presente. — Pode seguir para a sala de infusão. O Dr. Vinícius virá te ver em alguns minutos.

Agradeço e sigo para a sala de infusão, encontrando minha poltrona habitual ao lado da janela. Tento me concentrar na vista lá fora — o movimento dos carros, as pessoas apressadas nas calçadas — qualquer coisa para afastar o nervosismo que sempre acompanha cada sessão de quimioterapia.

Enquanto a enfermeira ajusta a agulha e prepara o soro, sinto uma pontada de dor, mas já estou acostumada. Fecho os olhos e respiro fundo, tentando encontrar um pouco de calma. Mas o silêncio é interrompido por um sussurro.

— Não deixe que te vejam fraquejar.

Meu corpo fica tenso, e meus olhos se abrem rapidamente. Não é a primeira vez que ouço essa voz, mas sempre parece tão real, tão próxima. Olho ao redor, mas ninguém parece ter notado nada. Sinto um calafrio correr pela espinha e tento me concentrar na minha respiração.

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