Capítulo 3: Você de novo?

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As luzes se acendem, e as flores e as cartas que estavam aqui há momentos desaparecem.Meu telefone toca, e dou um pulo de susto, mas logo vejo o nome "mãe" aparecer na tela.

- Mariana, você está bem? O que aconteceu? - pergunta minha mãe, preocupada.

- Oi, mãe. Passei mal nesta madrugada. Fui ao hospital, mas já estou em casa.

- Fiquei preocupada, filha. Você não atendia o telefone.

- Deve estar fora de área - minto. - Não se preocupe, já estou melhor. Daqui a pouco vou trabalhar.

- Tudo bem, filha. Se cuide.

Desligo o telefone com um peso na consciência. Eu devia ter contado a ela? Não, não quero preocupá-la.Vou ao banheiro e tomo um banho rápido, tentando esquecer o ocorrido.

Coloco meu uniforme do planetário e faço uma maquiagem leve para cobrir as olheiras, embora o olhar de cansaço seja difícil de esconder. Pego a chave do carro e desço, preparando-me para enfrentar mais um dia.

Meu relógio de pulso marca 10 horas da manhã. O sábado está nublado, como é típico em São Paulo. O clima é ameno, com a temperatura em 22 graus - nem quente, nem frio, apenas um conforto morno que quase me engana.

Enfrento um pouco de trânsito, mas consigo chegar a tempo. Meu turno começa às 11 e termina às 18 horas. Enquanto dirijo, o trânsito é o de sempre, mas hoje parece mais lento, como se o tempo tivesse desacelerado, permitindo que meus pensamentos se expandissem além das preocupações cotidianas.

Cada semáforo vermelho se torna uma pausa prolongada, um momento a mais para eu refletir sobre a sensação estranha que me acompanhou desde ontem. O rádio toca uma música suave, mas eu mal ouço, perdida em uma neblina de pensamentos. Passo por ruas familiares, e mesmo o movimento da cidade parece ter perdido seu ritmo habitual. As lojas, os pedestres, tudo parece envolto em uma espécie de torpor.

Aperto levemente o volante, tentando manter a calma. O ponteiro do relógio digital no painel do carro se move devagar, como que arrastado pelo peso do dia. Finalmente, o planetário surge à vista.

Estaciono o carro e fico sentada por um momento, observando a fachada envelhecida do prédio. O céu nublado parece pressionar ainda mais, e uma sensação de inquietação se instala no meu peito. Suspiro, desligo o motor e pego minha bolsa no banco do passageiro.

Assim que entro no planetário, o ambiente familiar me acolhe. A entrada ainda está vazia, apenas algumas luzes acesas, e o cheiro de café recém-feito flutua pelo ar. Caminho até minha mesa e coloco minha bolsa sobre a cadeira, tentando espantar o cansaço que ainda persiste.

Marina chega com um sorriso no rosto e dois copos cheios de café.

- Um para mim e o outro para... mim - diz ela, sorridente e brincalhona, enquanto me entrega um dos cafés.

- Nossa, Mari, você está péssima. O que aconteceu? - pergunta ela, agora com um olhar preocupado.

- Passei a madrugada no hospital porque vomitei. E você não vai acreditar quem estava lá.

- Quem? - pergunta ela, curiosa.

- Diego - respondo.

- O homem misterioso? Que coincidência... - diz ela, pensativa.

- E o que ele disse?

- Disse que morava em Milão e recebeu uma proposta para liderar um projeto de tratamento de câncer agressivo no Brasil, e que também veio visitar o avô doente.

- E como você está se sentindo em relação a isso?

- Não sei, não me convenceu muito. Foi muita coincidência encontrá-lo, e você não sabe o pior.

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