Capítulo 5: Infância

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Guardo meu telefone no bolso, e volto para a mesa onde estava sentada com Diego. Ele da um sorriso ao me ver.

- Desculpe a demora, era meu chefe. Ele estava preocupado comigo e me deu uns dias de folga - Tento dizer com leveza.

- Isso é maravilhoso, assim posso passar mais tempo com você - Disse, brincalhão - Só se você quiser, é claro.

- Amanhã tenho quimio no Santa Tereza - Respondo.

- E para sua sorte será meu plantão - Daniel diz em um sorriso.

Diego fazia tudo parecer mais agradável em meio ao caos que estava na minha vida. Depois da nossa conversa, fiquei mais tranquila em relação à ele. Mas o medo de ter alguém me observando não passou. Dou um gole do café com leite.

- Você sabe muito sobre mim e eu não sei quase nada de você - Falei, com curiosidade.

- O que você quer saber? - Perguntou em um sorriso de lado.

- Quem é você?

Diego sorri, parecendo ponderar a profundidade da pergunta. Ele coloca a xícara de café na mesa e se inclina ligeiramente para frente.

- Sou um cara simples, na verdade. Médico por profissão, aventureiro por paixão. - Ele pausa, parecendo escolher cuidadosamente as próximas palavras. - Passei boa parte da minha vida tentando entender as pessoas, as dores delas, os medos. Talvez por isso tenha escolhido a medicina.

Eu o observo atentamente, tentando ler nas entrelinhas do que ele diz. Há uma profundidade nos olhos dele que me intriga, uma mistura de gentileza e algo mais sombrio.

- E por que se interessou por mim? - Pergunto, com um sorriso que tenta mascarar a ansiedade que sinto por dentro.

Ele dá de ombros, desviando o olhar por um momento antes de voltar a me encarar.

- Acho que vi em você algo que reconheço em mim. Uma luta silenciosa. Uma batalha que ninguém vê, mas que está lá, todos os dias. E... - Ele hesita, como se não tivesse certeza se deveria continuar. - Acho que todos nós precisamos de alguém que nos veja realmente, não é?

Seus olhos encontram os meus. Ele tem razão.

- E você, Mariana? - Ele pergunta de repente, quebrando o silêncio que havia se instalado entre nós. - O que você quer?

Eu suspiro, pensando na pergunta. O que eu quero? Minha vida tem sido um turbilhão de tratamentos e hospitais, de noites solitárias e pensamentos sombrios. O que eu realmente quero?

- Quero paz - Digo finalmente, quase sussurrando. - Quero poder acordar um dia e não sentir que estou perdendo uma batalha para o tempo.

Diego parece entender, um olhar suave cruzando seu rosto. Ele estende a mão e cobre a minha gentilmente.

- Talvez a gente possa encontrar isso. - Ele sugere, e há uma sinceridade tão crua em sua voz que quase dói.

Eu apenas sorrio, grata por aquele momento de conexão, mas ainda com um leve desconforto no fundo da minha mente. A sensação de estar sendo observada não me abandona. Olho ao redor do café discretamente, procurando por algo fora do lugar, mas tudo parece normal. Mesmo assim, o pressentimento permanece, um lembrete sutil de que, às vezes, o que vemos na superfície é apenas uma fração da verdade.

- Por que escolheu trabalhar no Santa Tereza? - Pergunto, tentando mudar de assunto e, talvez, aliviar a tensão.

Diego ri, como se a pergunta fosse mais leve.

- Na verdade, foi uma coincidência. Eu estava buscando uma nova oportunidade quando um amigo me falou sobre o hospital. Acabei gostando da equipe e da atmosfera. Mas agora... - Ele olha diretamente para mim. - Acho que foi o destino.

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