Acordo com pontadas brutais atingindo minha cabeça. A dor é tanta que me leva ao banheiro para vomitar. Mal me recuperei da última sessão de quimioterapia, e hoje preciso encarar outra vez.
Meu tipo de câncer é agressivo. Já fiz diversas cirurgias para expulsar o melanoma do meu corpo, mas ele sempre volta, mais forte. A quimioterapia é uma rotina amarga, um ritual que acontece todo domingo, uma rotina à qual não consigo me acostumar.
Olho para o espelho e quase não reconheço a imagem refletida. Antes, meus olhos eram brilhantes, cheios de vida; agora, estão apagados, cercados por olheiras profundas. Meus cabelos caíram há meses, e por mais que eu tente disfarçar com roupas e perucas, nada consegue esconder a realidade: estou definhando.
Vou até o chuveiro e, com as mãos trêmulas, tiro a roupa, apoiando-me na parede do banheiro. Deixei uma cadeira de plástico dentro do box para tomar banho com mais conforto. Ultimamente, a fraqueza é constante.
Ligo o chuveiro e sinto a água morna cair sobre meu corpo, proporcionando um alívio momentâneo. O cheiro suave de flores do campo do sabonete líquido mistura-se com o vapor quente, preenchendo o espaço. Fecho os olhos, deixando a sensação da água levar embora, ainda que temporariamente, o peso que tenho carregado. Meus músculos doem, a fadiga parece impregnada na minha pele, mas a água morna oferece um conforto que não sentia há muito tempo.
Enquanto passo o sabonete pelo corpo, noto as marcas que o tempo e a doença deixaram. Minha pele está mais pálida, meus ossos mais aparentes. Evito me olhar no espelho, pois os olhos que vejo são os de uma estranha, uma sombra do que um dia fui. Hoje, só por hoje, gostaria de me sentir como antes, forte e invencível. Apoio-me na cadeira enquanto a água continua a escorrer, agora fria, e sinto um leve arrepio.
Tento desligar o chuveiro, mas minha mão não responde como deveria. O tremor é mais intenso, e um medo repentino me invade. Fecho os olhos, respirando fundo, tentando me acalmar. É apenas um momento ruim, penso. Só um momento.
Então, um barulho estranho ecoa pelo banheiro, um rangido baixo e agudo, como se a porta estivesse sendo empurrada lentamente. Meus olhos se abrem num sobressalto, e eu me viro rapidamente, tentando enxergar através do vidro embaçado do box. Nada. Apenas o som constante da água batendo no chão e o eco do meu coração pulsando nos ouvidos. Meu corpo congela.
Um pensamento atravessa minha mente como um relâmpago: será que tranquei a porta de entrada? Tento lembrar, mas minha mente está nublada pela fraqueza e pela exaustão.
Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha, ignorando o pensamento de que talvez eu não esteja sozinha. Quando abro a porta do banheiro, tenho uma surpresa: uma única rosa vermelha deixada no chão, com um bilhete.
Pego o papel com as mãos trêmulas e o abro com cuidado.
"Me deixe cuidar de você, D."
Meu coração dispara ao ver a inicial. Diego prometeu me dar espaço, prometeu não me pressionar. Por que ele estaria aqui, no meu apartamento, sem me avisar? E por que deixaria uma rosa no chão do banheiro?
A rosa, de um vermelho vibrante, contrasta com o cinza da minha rotina. Minhas mãos tremem quando dobro o bilhete e coloco a rosa sobre a pia. Respiro fundo, tentando acalmar os pensamentos que se atropelam na minha mente.
- Diego? - chamo, minha voz mais fraca do que eu esperava. Espero por uma resposta, mas tudo o que ouço é o silêncio esmagador do apartamento vazio.
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O Universo entre nós
RomanceMariana, Diego e um céu infinito a ser explorado. Mariana, com um câncer terminal, e Diego, com uma vida saudável, se encontraram por um acaso que parecia predestinado. Apaixonada pelas estrelas desde a infância, Mariana sempre sonhou em ser astrôno...