Capítulo 2: Você me conhece, Mariana

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Mal preguei os olhos essa noite

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Mal preguei os olhos essa noite. Além de ter passado mal, a imagem do homem que conheci ontem no planetário não saía da minha cabeça.

O relógio de cabeceira marcava 3 em ponto da manhã. Levanto-me correndo da cama e vou até o banheiro vomitar. A última qumioterapia que fiz está acabando comigo.

Meus cabelos começaram a cair no início, o que me abalou bastante. Mas hoje sei lidar com isso, e uso uma peruca de fios humanos da mesma cor do cabelo que eu tinha.

Com o estômago revirado, apoio-me na pia do banheiro, tentando recuperar o fôlego. Sinto uma dor aguda na cabeça e fecho os olhos com força, tentando afastar a pontada que parece perfurar meu crânio.

Volto para o quarto, abro o guarda-roupa e procuro uma roupa para trocar. Visto uma calça de alfaiataria bege e uma blusa de linho branca. Pego meu celular e a chave do carro e sigo para o hospital.

Moro no 5º andar, então desço de elevador, me apoiando nas paredes para tentar sustentar meu corpo, enquanto a tontura se torna mais intensa. Cada passo é um esforço, um teste de resistência contra o meu corpo que parece querer desistir.

Chego à garagem e caminho até o carro. Ao dar a partida, meu coração bate acelerado, não só pelo esforço físico, mas pela lembrança daquele homem estranho no planetário. Algo nele me perturbou de um jeito que eu não consigo entender. Seus olhos... havia algo ali que eu não consegui decifrar.

No hospital Santa Tereza, pego uma senha e espero pela triagem. Explico para a enfermeira que faço tratamento para um câncer e que estou passando mal. Ela, com um olhar de preocupação, rapidamente me encaminha para o médico.

Sou levada a uma sala de consultas, onde me pedem para aguardar. Minhas mãos estão frias e suadas, a náusea ainda me assombra. Tento me distrair olhando os cartazes de campanhas de saúde nas paredes, mas minha mente insiste em voltar para o homem no planetário. Aqueles olhos escuros, tão penetrantes, como se pudessem ver através de mim. Meu estômago se revira só de lembrar.

A porta se abre, e eu olho para cima, esperando o médico de plantão. Para minha surpresa - e choque - é ele. O mesmo homem. Meu coração dispara no peito. Ele usa um jaleco branco, um estetoscópio pendurado no pescoço, mas é impossível não reconhecê-lo. Os mesmos olhos. A mesma expressão indecifrável.

- Mariana Garnier, como vai? - Ele diz com um sorriso de lado.

- Diego... - Minha voz falha, e corro em direção à lixeira para vomitar novamente.

- Está tudo bem, não precisa dizer nada. - Ele se aproxima, tocando minhas costas com uma leveza desconcertante.

Quando ele ajeita meus cabelos para trás do meu pescoço, um arrepio percorre minha espinha.

- Eu vou cuidar de você, não se preocupe.

Essas são as últimas palavras que ouço antes de tudo escurecer.

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