Capítulo 8: O que vem depois

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Capítulo com conteúdo sensível

Diego

Sua pele era macia ao meu toque. E como ela é linda. Nosso beijo era quente, e parecia que o tempo havia parado. Mariana me fazia delirar.

Jesus.

Eu me encontrei perdido no calor dela, mesmo na frieza da sala de oncologia. As paredes brancas e estéreis ao nosso redor pareciam quase se desfocar, como se o mundo tivesse diminuído em importância. O som do monitor ao fundo e o cheiro de desinfetante eram apenas um pano de fundo distante. Naquele momento, o que importava era a conexão intensa que compartilhávamos.

- Diego - ela sussurrou, seu olhar misturado com uma vulnerabilidade que só tornava tudo ainda mais real. - Você me faz sentir como a explosão de uma supernova.

As palavras dela me atingiram com uma força inesperada. Eu a segurei com mais firmeza, sentindo a textura da roupa dela sob meus dedos.

- Você é incrivelmente linda, Jabuticaba. - respondi, a minha voz quase um sussurro.
- E você tem a habilidade de transformar qualquer lugar em algo... Incrível.

O ambiente ao nosso redor parecia menos opressivo, mais suportável. Eu não podia deixar de me perguntar se, por um momento, a dor e o sofrimento haviam sido afastados por causa da nossa conexão. O beijo era uma fuga da realidade dura, um lembrete de que, apesar de tudo, havia beleza e esperança.

Quando finalmente nos separamos, o olhar dela ainda estava fixo no meu, cheio de um calor que parecia desafiar o ambiente clínico ao nosso redor. Eu a abracei, sentindo o conforto dela contra mim, e por um breve instante, nada mais parecia importar além daquele espaço entre nós dois.

Uma enfermeira entrou na sala, com os olhos fixos nos meus.

- Doutor? Temos uma ocorrência na emergência.

- Te encontro depois Mariana.

Ela dá um sorriso tímido, e saio da sala a deixando lá.

Tento focar no meu trabalho e no caos que está na emergência. Mas meu pensamento insiste em pairar sobre Mariana e nosso beijo. Foi tão intenso, e... Tenho medo de ter estragado tudo.

Um paciente com câncer chegou tento uma parada cardiorespiratoria. Todos correm de um lado para o outro.

— Qual a ficha do paciente? — Pergunto a enfermeira da emergência.

— Câncer de pulmão, paciente fumante, estágio avançado.

Meus olhos se voltam para o homem na maca. Eu o reconheço de imediato. Havia atendido essa mesma pessoa alguns dias atrás. Lembro-me de ter pedido que parasse de fumar, com uma gravidade que parecia óbvia, mas pelo jeito ele não me ouviu, ou talvez não quis ouvir. A visão dele, pálido e lutando por ar, faz algo apertar dentro de mim.

Tantas vidas que poderiam ser salvas, tantas escolhas que poderiam ser diferentes. Tento empurrar esses pensamentos para longe enquanto me aproximo, meu corpo entrando no modo automático. Começamos a manobra de ressuscitação.

O som do desfibrilador sendo preparado me traz de volta ao momento presente, afastando, por enquanto, a lembrança do beijo com Mariana.

— Vamos lá, precisamos de adrenalina! — ordeno, tentando focar no que importa agora: salvar mais uma vida, se for possível. Mesmo no meio do caos, uma parte de mim ainda se pergunta sobre Mariana e o que o futuro reserva para nós.

A enfermeira administra a adrenalina e nós retomamos as compressões torácicas. O monitor cardíaco continua emitindo um som monótono, insistente, um lembrete constante da luta que estamos enfrentando. Eu olho para o rosto do paciente, um rosto marcado pelo tempo e pelo vício, e me pergunto se ele sabia o quão perto estava de perder tudo.

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