10- Teacher

48 5 5
                                    

— Sei lá, Mara — Falei sem jeito enquanto organizava os discos — Não sei se eu devia tomar alguma atitude

— Você? Adora? Cogitando em tomar uma atitude? — Rolei os olhos e dei um soco leve no seu ombro.

— Idiota, só não queria deixar essa história por isso mesmo. Eu sei que tem alguma coisa que ocorreu no passado, sabe, entre nós duas... Não é como se saber dessas coisas fosse mudar a minha vida, mas queria entender um pouco ela.

— Se acalma, Adora — Disse — Olha, se a dúvida está partindo de você, não adianta esperar com que a atitude parta dela. Não precisa fazer nada muito mirabolante, sei lá, só para tirar essas suas dúvidas da sua cabeça.

— E o que você espera que eu faça? — Perguntei

— Ela não disse que iria te ajudar com a bicicleta?

— Mara, você não tá pensando em...

Ela deu de ombros e sorriu.

— Mara!

— Você tem um dia inteiro, Adora.

Respirei fundo e pensei um pouco.

— Tá bom, vou considerar a hipótese. Se isso ferir muito o meu ego, eu vou continuar odiando ela.

— O enterro é seu!

[...]

Terminei o meu trabalho na loja e fui direto para a casa da Madame Rizzo. Olhando para ela, daquela forma, eu sentia meu coração apertado. Até uns meses atrás, o único problema envolvendo ela era o fato de sempre confundir eu e a Mara, o que até então, nós levávamos na brincadeira. Agora, ela nos olha e não reconhece, como se fôssemos completas estranhas.

— Boa tarde, Rizzo, como você tá? — Mara chegou cautelosa, se esforçando para puxar assunto aos poucos. Sinto como se ela soubesse mais do que eu sobre a situação da mais velha. Dessa forma, não ousei falar muito, deixei com que ela fizesse o trabalho.

A mulher inclinou a cabeça para o lado e nos encarou por um tempo, como se soubesse que não somos estranhas, ao mesmo tempo que não reconhecia de imediato.

— Oi queridinhas, o que estão fazendo aqui? — Falou finalmente, nos dando a certeza que ela não tem ideia de quem somos.

Mara respirou fundo e abaixou a cabeça em derrota.

— Terminamos o trabalho na sua loja, já estamos indo para casa, quer ajuda com alguma coisa? — Ela balançou a cabeça.

— Não mesmo, podem ir! Estou esperando a... — Ela franziu o cenho e forçou a mente.

— Ah, sim! Nós entendemos. Tenha um bom dia, Rizzo.

Ao sair da loja, Mara desviou o olhar de mim o tempo todo. É claro que isso não foi o suficiente para impedir com que eu notasse a lágrima que escorria pelo rosto dela. Ver essa situação e não saber o que há com a Madame Rizzo — não como a Mara deve saber — me corta o coração. Espero que tudo fique bem logo.

[...]

"Não sei que dia de fevereiro (estou com preguiça de verificar o calendário) de 2011

Faz alguns meses que eu não escrevo aqui, mas não quero desperdiçar minha moral sentindo remorso por um diário (com todo respeito, é claro).
Ainda não consegui falar com a minha esposa sobre os meus planos de mudança, mas ainda assim eu trago boas noticias!
Nessas férias, eu consegui levar a minha esposa e a minha filha para Bright Moon. Esse lugar me trás tantas lembranças... E agora trouxe mais uma.
Primeiro, eu pedi a minha esposa em casamento lá.
Agora, foi a primeira vez da minha Adora visitar o meu lugar favorito! Não sei se é por genética, mas mesmo muito nova, ela pareceu gostar do lugar até mesmo mais do que eu. Quando visitamos a praia, seus olhinhos claros brilharam tanto quanto o sol. Durante a viagem, ela raramente chorava, á não ser quando precisamos ir embora.
A Adora não fala muito, mesmo tendo quase quatro anos. Apesar disso, ultimamente ela tem falado muito de uma coleguinha de escola. Parece que o nome dela é "Catra". Descobri recentemente que somos vizinhos da família dela. Não achei legal o jeito da mãe dessa garota. Quando fui falar sobre marcar das duas sairem mais vezes, ela foi tão grosseira que senti que só de estar perto dela já era motivo de ofensa. Não gosto da ideia da minha filha estar perto dessa mulher, sabendo que, além disso, ela também é diretora da escola delas.
Não é como se houvesse muita escolha de escolas, afinal, essa cidade é um cúbiculo. É claro que essa realidade vai mudar a partir do momento que a mudança acontecer!"

— Eu e a Catra? Amigas? — Interroguei em voz alta.

Nunca pensei que, em alguma realidade, eu seria amiga da Catra. Mas eu também não imaginava que meu pai teria o mesmo objetivo que o meu.

Nesse momento, quase que concretizei a hipótese de ter algum passado com a Catra. Mas as anotações do meu pai não foram o suficiente.

Por isso mesmo eu me troquei em questão de poucos minutos para perder o mínimo de tempo possível.

Desci as escadas correndo e verifiquei se a bicicleta ainda estava na garagem. É claro, estava. A mesma bicicleta rosa e sem sinal de rodinhas presentiada pela garota que eu estava prestes a chamar.

Catra... Nunca imaginei sair com ela, mesmo que só casualmente para andar de bicicleta. As vezes a curiosidade nos humilha.

Eu não podia pensar demais, senão o meu ego certamente seria ferido. Até ontem eu mal aceitava chamar a Catra de "colega de turma". Que hipocrisia estar, nesse momento, apertando a campainha da casa dela.

Diferente do que eu esperava, não foi a Catra que me atendeu.

Senti meu corpo inteiro se arrepiar e engoli seco, tentando esboçar um sorriso que com certeza saiu torto.

— Fale — A mulher é alta e séria. Possui cabelos pretos começando a ficar grisalhos. Sua voz soou tão firme e seca que me senti até mesmo um pouco ofendida.

Vê-la de perto me dá calafrios. É completamente diferente na escola. Ela mal sai do escritório e só precisamos lidar com essa mulher quando ela precisa fazer um comunicado geral na frente da escola toda. Contudo, nunca precisei conversar diretamente.

— A Catra está? — Foi as palavras que consegui tirar da minha boca em um único suspiro, rapidamente.

Ela balançou a cabeça e fechou a porta, me deixando em dúvida se eu de fato veria a Catra ou receberia um dos maiores foras da minha vida.

Felizmente, a garota de olhos heterocromáticos apareceu bem na minha frente, claramente tentando esconder um sorriso ao me ver. Parece que a surpresa não foi tão ruim assim.

Puxei a bicicleta para a linha de visão dela e dei um sorriso envergonhado.

— Eai, topa me ajudar?

Rivalidade Recíproca - CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora