Acordei com as pálpebras pesadas, dificultando com que eu abrisse meus olhos. Com o mínimo que eu tentava acordar, o sol transmitia da janela uma ardência desconfortável que dificultava ainda mais. Abrindo apenas uma brecha dos meus olhos, olhei para o travesseiro ao meu lado e senti o cheiro da Catra.
Dei um sorriso por esse cheiro ter marcado boa parte do meu quarto, mas também senti uma leve onda de decepção por ter acordado sem ela.
Espera... Ela ficou aqui até eu dormir?
Nessa manhã, eu queria sorrir mais. Tenho certeza que acordaria bem pior caso a Catra não tivesse aparecido, queria expressar melhor a minha gratidão por ela.
Por agora, tudo o que posso fazer é me apressar para tentar não chegar atrasada na escola.
[...]
Quando a professora chamou nós duas para apresentar o trabalho, falando em voz alta os nossos nomes, a sala foi tomada por sussurros e expressões confusas.
Levantei-me da carteira devagar e cautelosa devido a minha timidez diante do momento. Olhei em volta com as mãos para trás e tentei juntar o mínimo de sanidade que eu tenho para não acabar surtando antes de apresentar o trabalho.
A Catra se tornou alguém muito relevante na minha vida, mas isso não nos tornou um casal. Considerando o nosso histórico de desentendimentos e discussões durante todos esses anos, demonstrar esse tipo de companheirismo na frente de tanta gente é quase como assumir um noivado ou confessar um crime.
— Boa tarde, gente — Agradeci aos céus quando Catra resolveu tomar a iniciativa do trabalho.
Diferente das outras apresentações, todos os alunos estavam prestando atenção em cada atitude nossa. Não me senti muito segura com isso, mas tenho que enfrentar essa situação se quero uma boa média no final do ano.
Esperei a Catra terminar de falar enquanto verbalizava mentalmente a minha fala que teria de dizer logo em seguida. Só de pensar, o meu corpo tremia.
— O nosso trabalho vai abrangir sobre a diferença da imperatividade categórica e da imperatividade hipotética em relação a moralidade humana que Kant conceituou.
Sem querer, quando fui ajeitar a posição do cartaz para ficar mais visível, minha mão tocou na de Catra. Os sussurros e risadas voltaram a tomar conta da sala e um pedido de silêncio da professora foi necessário.
Disfarcei rapidamente, mas precisei conter um sorriso quando vi a Catra rir da situação. Rolei os olhos e dei espaço para a mesma continuar.
A sala continuava em choque, mas aos poucos, isso parou de ser uma preocupação minha. Não devo explicações para ninguém, não há o que temer.
[...]
— E então ela veio com um questionário enorme sobre nós duas e eu tive que bancar a filhinha mimada da diretora para ela sair do meu pé. É serio, aquela garota é insuportável! — Catra reclamou durante o caminho para casa.
— Você poderia ser menos cruel, Catra. Tá na cara que a Amanda é gamada em você! — Ela fez uma careta expressando nojo e eu não pude deixar de rir da situação.
— É uma pena que eu estou "gamada" em uma loira metida já faz um tempinho, então a Amanda terá que se contentar com a minha não-reciprocidade — Provocou. Colocou uma mão na minha cintura, me puxando para mais perto, e depositou um beijo na minha bochecha.
— Você é tão idiota...
— E você está tão vermelha... — Imitou a forma que eu falei de uma maneira irritante. Rolei os olhos sem desfazer o sorriso e desviei o meu olhar envergonhado.
Quando o caminho me permitiu enxergar um pouco mais a frente, avistei a loja da madame Rizzo. Todas as lembranças dos acontecimentos de ontem veio a tona como um flashback vívido.
Lembrei-me da forma como a Rizzo me olhou desentendida, ou da forma que eu decepcionei a Mara. Não senti vontade de chorar, não depois de ter chorado tudo o que eu pude ontem com a Catra, mas isso também não impediu o meu coração de sentir uma dor imensa.
— Adora, tá tudo bem? Você ficou quieta donada...
Respirei fundo e refleti algumas vezes sobre as minhas próximas ações, dessa vez com mais calma. Pensei por tempo suficiente até chegar em frente ao local.
— Tudo bem se você me esperar por um tempinho? Vou ser rápida, prometo.
Ela assentiu apenas uma vez com a cabeça e deu um sorriso curto. Céus, como ela é linda...
Me questionei algumas vezes se isso é mesmo algo ético a se fazer, mas cheguei a conclusão de que nada será resolvido se ninguém tomar iniciativa.
Entrei na loja e ouvi o sino que estou familiarizada a ouvir todos os dias, indicando que alguém entrou. Junto disso, também ouvi barulhos vindo do depósito, deve ser a Mara... Preciso muito me redimir com ela.
Olhei para trás para confirmar que Catra estava mesmo me esperando (e também para recarregar a minha coragem) e dei um sorriso ao vê-la acenar. Virei a minha atenção para o depósito novamente e me aproximei devagar.
— Mara, está aí? — Perguntei.
A minha pergunta foi respondida quando vi uma garota de cabelos loiros e longos saíndo de lá. Nunca a vi em toda a minha vida, mas estava usando o uniforme da loja como uma funcionária comum.
— Desculpe-me, mas quem é você? — Ousei perguntar.
— A Mara não estará aqui por alguns dias — falou curta, seca e direta. Seu rosto mal se estremecia para falar e seu olhar era tão mortal quanto ao da mãe da Catra.
— Certo... — Falei, esperando a minha pergunta ser respondida.
— Me chamo Diana, vou cuidar da loja para a minha vó. Ela não está em condições e acredito que esse seria um desejo dela.
Meu coração apertou e eu fiquei alguns segundos processando a informação.
— E...Ela está bem? Onde ela... — Gaguejei e não consegui terminar a frase.
— Acabei de dizer que ela não está bem! — Disse, mas definitivamente não foi em um tom de brincadeira — Ela está em cuidados médicos agora.
A olhei com a boca entreaberta, sem conseguir processar corretamente.
Há poucos dias ela parecia tão bem... Até a memória mostrou-se melhor! É tão estranho ouvir essas coisas que não fui capaz de acreditar completamente.
— Você deve ser a Adora — disse, me fazendo assentir rápido com a cabeça — Você não vai vir trabalhar por um tempo.
— O quê? Mas e... — Ela nem mesmo me deixou terminar
— Não se preocupe, resolveremos a parte financeira mais tarde. Por agora, está dispensada.
Apontou para a porta de saída e eu não consegui nem mesmo pensar em uma frase contraditória. Olhei para a Catra pela porta de vidro, e parecia tão preocupada quanto eu.
— Adora, o que rolou?
Balancei a minha cabeça e franzi as sombrancelhas.
— Não é nada demais, é sério.
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Rivalidade Recíproca - Catradora
Fanfic"A Catra... Essa garota não me deixa em paz! Eu odeio ela!" O ensino médio é a época em que as responsabilidades surgem rigorosamente. Há a sensação de incerteza sobre o que fazer do seu futuro, e é claro que não foi diferente para Adora. Além de l...