19- Secrets

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Certo, eu não devia me aproveitar da boa memória da Madame Rizzo logo agora que ela está em investigação para Alzheimer, porém agora foi inevitável.

Cheguei mais cedo no trabalho e fui direto para a porta dos fundos, onde dava na casa da Rizzo.

Na garagem, havia um carro branco muito bonito e incomum de ver aqui pelas ruas. Não entendo de automóveis, mas só de olhar é notável que o carro custa no mínimo meio milhão.

Estranhei, pois não é viável para a Madame Rizzo comprar um carro desse porte de repente, mas ignorei.

Respirei fundo e contei até três antes de bater a porta. Aquele registro no diário do meu pai pode ser a chave para o meu futuro. Não sei o que me espera, e se há mesmo algo me esperando, mas não posso deixar isso passar, não agora.

Ela sabe de alguma coisa que talvez agora, com a melhora da sua memória, tenha recursos para me alimentar esperanças. Sei que é um pouco rude me aproveitar dessa sua melhora repentina, mas eu não vou descansar até ter uma resposta favorável.

Dei três batidas e esperei ansiosa, demorando um pouco para ser correspondida.

Quando a mais velha abriu a porta, estranhei um pouco e senti uma pontada no coração. Aquela Rizzo cheia de energia e motivação parecia mais cabisbaixa e cansada. Antes, quando alguem a chamava, ela atendia em questão de segundos com uma animação contagiante.

— Mara, queridinha! Finalmente você chegou

Suas palavras foram como tirar um band-aid rapidamente de um machucado fresco, arrancando toda a esperança que há pouco estava tão renovada.

Não consegui manter o sorriso que estava estampado em mim, mas me esforcei para manter os planos.

— Sou a Adora, Madame Rizzo. A Mara não chegou ainda.

A mulher me olhou confusa por uns instantes, até decidir ignorar o que eu disse.

— Para de brincar com isso, Mara! Você veio me ajudar a fazer uma torta — A mais velha me puxou pelo braço, me fazendo caminhar na mesma velocidade que ela.

Quando ela começa a falar sobre fazer tortas e me chamar de Mara, é quando a memória dela está nos piores dias.

Durante o caminho, meu ombro esbarrou em um dos grandes quadros da sua casa digna de uma mulher mais velha com uma idade considerável. A decoração balançou ameaçando cair, foi quando nesse instante, Rizzo segurou como se aquilo dependesse da vida dela.

— Mara, tenha mais cuidado! — Disse — Esse quadro é...

Ela olhou para a imagem por algum tempo, tentando se recordar de alguma coisa, como se não soubesse o motivo pelo qual tem tanto apego pela moldura.

Era uma foto de uma mulher muito parecida com ela. Carregava uma espada antiga e vestia uma roupa que me lembrou um cavalheiro.

Balancei a cabeça e refleti pelo pouco tempo que eu tinha ali. Vale a pena mesmo forçar a memória dela?

Não fode, Adora.

— Madame Rizzo — Comecei — Eu sou a Adora, e não vim aqui fazer tortas.

Mais uma vez, ela me olhou sem entender, desviando sua atenção do quadro para mim.

Rivalidade Recíproca - CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora