12- Shame

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Dizer que a Catra tem mesmo um lado aceitável é algo que fere o meu ego. Mesmo com a sua personalidade irritante e presença quase que sempre indesejável, eu devo assumir: As aulas dela serviram para alguma coisa.

Agora eu estou fazendo algo que vai completamente contra a minha moral: tirando as rodinhas da bicicleta do meu pai.

Na prática não é difícil, na verdade é bem simples. O que me deixou receosa foi a consciência de que, um dia, essas rodinhas que eu estou tirando foram colocadas por ele.

Bem, na verdade foi pela Catra, mas a originalidade dele continua ali.

Por mais incrível que pareça, pedalar como uma pessoa normal é mais confortável do que eu pensava. Ainda estou desacostumada, mas não cheguei ao ponto de cair toda hora.

Um pouco confusa com as variedades de ferramentas presentes ali ao meu lado, mas também muito atenta a cada detalhe, em pouco tempo eu conclui o meu serviço. Senti medo em danificar alguma coisa, porém eu fui bem.

Subi para verificar o resultado e balancei um pouco. Dei um suspiro de alívio quando eu percebi que realmente deu certo.

A bicicleta da Catra continua no canto da garagem, parada e sem andar por algum tempo, sem uma previsão exata de quando voltará a ser útil. Sei que é um pouco babaca, afinal, foi um presente, mas eu não pretendo trocar a boa e velha bicicleta do meu pai tão cedo.

Esperei com que a minha mãe chegasse aqui, mas ao invés disso, me surpreendo com outra visita.

— Não creio! — Catra nem mesmo cumprimentou, entrou na garagem e esboçou um sorriso enorme.

Em todo esse tempo, eu só percebi agora, quando ela apareceu, que eu deixei o portão da garagem aberto durante esse tempo todo. Fiz uma cara de derrota e a garota riu.

— Bom dia para você também — Debochei.

— Até que eu não fui uma má influência para você.

Em tentativa de ignorá-la, coloquei a minha mochila nas costas e guiei a minha bicicleta até a calçada. Subi no banco e me preparei para pedalar.

Contudo, senti um peso na parte de trás que adiou a minha deixa. Cambaleei para o lado devido a surpresa e virei o rosto para trás.

— O que está fazendo?

— Acho que você devia me levar hoje.

Rolei os olhos e nem mesmo me dei ao trabalho de expulsá-la. Não entendo como o humor dela fica dessa forma logo pela manhã, mas a única certeza é que não é contagiante. Ainda continuo sem a mínima vontade de colocar meus pés naquela sala de aula.

Enquanto estava chegando, senti um aperto estranho no peito. Preocupada com os possíveis olhares e sussurros alheios, olhei para os lados. Catra talvez tenha percebido a minha atitude, mas permaneceu quieta.

Dei um suspiro de alívio quando eu vi que não havia ninguém de importância em minha volta e fiz sinal para a Catra descer rápido. Ela parecia confusa, mas assentiu.

— Calma, Adora. Não precisa ter pressa, ainda faltam dez minutos para a aula começar!

Dei um sorriso sem jeito e apressei o passo de forma com que a atrapalhasse a seguir meu ritmo. Esbarrei em algumas pessoas no meio do caminho, mas mesmo assim ela não conseguiu me alcançar.

Ao chegar na sala, joguei a minha boa e velha mochila vermelha no chão ao lado da minha carteira e cumprimentei os meus amigos.

— Adora, você tá bem? — Glimmer perguntou.

Assenti rápido com a cabeça e dei um sorriso.

Não demorou muito para aparecer a mesma garota que eu trouxe aqui mais cedo. Como de costume, ela não deixou de demonstrar a sua postura confiante e cabeça erguida que usa em todos os lugares — mais especificamente na escola —, mas que também me irrita só de andar por perto.

Ao perceber que eu estava encarando demais, desviei a minha atenção antes que as meninas também notassem.

Ela passou pelas carteiras sem nem mesmo olhar para mim e sentou-se no seu lugar.

Pouco tempo depois, outra figura indesejável apareceu em forma de professora, entrando na sala e acabando com o último vestígio de bom humor que havia em mim.

— Bom dia gente — Cumprimentou, recebendo a típica resposta sem sal que todas as salas de aula dão.

Todos os alunos demonstravam o menor interesse com o conteúdo que a professora passou: com exceção da Catra.

Hoje ela decidiu ser menos irritante do que os outros dias. Parou na carteira e ouviu atentamente a professora, vamos ver quanto tempo isso vai durar.

— Agora que estamos no final do semestre, preciso que vocês formem duplas

Sempre quando os professores falam sobre formar grupos para trabalhos, meu olhar se vira de instantâneo para os meus amigos. Quando se trata de duplas, eu faço sempre com a Lonnie e o Bow faz com a Glimmer.

Nesse caso, não foi diferente. Encarei sujestiva para garota atrás de mim e dei um sorriso.

Mas é claro que o meu sorriso se desfez imediatamente quando ela negou.

— Hoje não rola, Adora, foi mal. O Bow faltou e a Glimmer pediu para fazer com ela.

— Ah sim, entendi — Disfarcei e virei o rosto.

Procurei em volta com a cabeça feito uma criança perdida no parque. Quando não achei ninguém, perguntei se poderia ser individual, mas é claro que o meu pedido foi negado.

Até eu ouvir meu nome soar do fundo da sala

Não, aqui não! Por favor, não seja o que eu estou pensando...

Tentei me convencer que foi apenas impressão minha, mas a confirmação veio logo em seguida.

— Adora, tá sem dupla? — Catra disse alto o suficiente para não passar despercebido por Glimmer e Lonnie.

Tentei ao máximo não fazer contato visual com as duas e virei a minha atenção para a morena.

Balancei a cabeça rápido e fiz um joia com o polegar, torcendo para que isso seja o suficiente para cortar o assunto rápido e não ser necessário que ela dirija a palavra a mim denovo — não na frente de tanta gente.

Por sorte, ela pareceu entender. Contudo, senti meu coração bater rápido e tentei ignorar as minhas amigas me chamando.

Tudo o que eu quero agora é ouvir o sinal tocar indicando o horário da nossa saída.

[...]

Que a minha memória é ruim, não é surpresa para ninguém. Ontem mesmo a minha mãe deixou bem claro que hoje iria chover e que eu devia levar um guarda-chuva para a escola. É claro que, como quase todas as outras vezes, eu esqueci de levar.

Resultado? Cheguei em casa ensopada. Abri a porta e esperei a bronca que eu levaria da minha mãe — que irá me chamar pelo nome completo e dar uma palestra sobre dar ouvidos aos avisos das mães.

Ao invés disso, ela pulou a bronca e me chamou para conversar sério.

Nesses contextos, há duas possibilidades:
1- Ou ela ganhou na loteria e a sua vida irá mudar para sempre.
2- Você fez merda e irá levar o esporro do século.

Geralmente é a segunda opcão. No meu caso, não foi nenhum dos dois.

Senti minhas pernas começarem a tremer e sentei-me ao seu lado. Ela abriu um sorriso que me deixou confusa e começou a falar.

— Como o presente que eu disse que faltava no seu aniversário, nós vamos viajar para Bright Moon na semana que vem.

Rivalidade Recíproca - CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora