capítulo 22

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30 seconds in hell

Maya

As últimas 48 horas foram um borrão. Não me lembro da última vez que comi, dormi ou até mesmo tomei um banho decente. O hospital cheirava a desinfetante e tristeza, e o som contínuo das máquinas ao redor me lembrava a cada segundo o quão perto Billie havia chegado de me deixar.
Eu nunca tinha sentido algo assim antes. Esse medo esmagador de perder alguém. O nó constante na minha garganta, as lágrimas que ameaçavam cair a cada vez que a imagem de Billie na sala de cirurgia voltava à minha mente. Eu não conseguia pensar em outra coisa.

Finneas esteve ao meu lado o tempo todo, mas poucas palavras foram trocadas. Acho que ele sentia o mesmo que eu, só que ele era melhor em esconder isso. Ele precisava ser forte por mim, talvez, e eu precisava dele mais do que imaginava.

Estávamos há dois dias assim. O relógio do hospital marcava o tempo com crueldade, e tudo o que eu podia fazer era esperar. Sentada na cadeira dura ao lado da cama de Billie, segurei sua mão como se fosse minha âncora. Mesmo inconsciente, o toque dela me dava algum tipo de conforto, uma esperança tênue de que ela voltaria para mim.

Então, ouvi um som. Quase imperceptível, mas lá estava ele. Um murmúrio suave, vindo dela. Abri os olhos de imediato e olhei para Billie. Seu rosto estava sereno, mas... seus olhos. Eles estavam entreabertos, como se ela estivesse tentando se orientar. Meu coração quase parou.

"Billie?" Minha voz saiu baixa, cheia de medo e expectativa.

Ela piscou devagar, seus olhos claros focando em mim com dificuldade. Aquela pequena ação, algo tão simples, me fez sentir como se o mundo estivesse voltando a girar. Ela estava ali, de volta.

"Maya..." A voz dela era rouca, fraca, mas ouvir meu nome vindo dela foi o bastante para quebrar algo dentro de mim. Senti as lágrimas subirem aos meus olhos e deixei que caíssem livremente.

Eu me inclinei mais para perto, meus dedos apertando a mão dela. "Você está aqui," eu sussurrei, como se estivesse tentando me convencer de que era real. "Você está viva."

Mas, antes que eu pudesse absorver o alívio que tomava conta de mim, o barulho da máquina que monitorava seus batimentos cardíacos disparou. O som agudo ecoou pelo quarto, e os números no monitor começaram a piscar em vermelho.

"Não... não, não!" O pânico subiu pela minha garganta enquanto a linha no monitor se estabilizava em um som contínuo, sem pulsação. O coração de Billie tinha parado.

"Finneas! Chama alguém!" Eu gritei, a mão de Billie ainda firme na minha enquanto meus olhos se arregalavam de medo. O desespero me esmagou, enquanto tudo ao meu redor parecia se mover em câmera lenta.

Dentro de segundos, a sala foi tomada por médicos e enfermeiros. Eu fui afastada, minha mão sendo arrancada da dela à força enquanto eles gritavam ordens e traziam o desfibrilador. Meu corpo congelou. Não podia ser real. Não agora. Eu mal tinha acabado de tê-la de volta.

Os segundos se arrastaram como horas enquanto eu assistia, impotente, os médicos tentando trazer Billie de volta. A visão do desfibrilador sendo preparado, o som das vozes frenéticas me esmagava. O tempo parou completamente quando vi o corpo dela se contrair com o choque.

"Não... por favor..." murmurei, meus joelhos ameaçando ceder. Finneas me segurou pelo braço, me impedindo de cair. Eu sabia que ele também estava em pedaços, mas ele não demonstrava. Só apertava meu braço, sua própria maneira de me manter conectada à realidade enquanto o caos explodia ao redor.

O segundo choque veio. E então... o som da máquina mudou. O barulho contínuo cessou, dando lugar a batimentos fracos e ritmados.

"Temos um pulso!" alguém anunciou, e naquele instante, o ar que eu nem sabia que estava segurando escapou dos meus pulmões.

Eu me afastei de Finneas, avançando para o lado de Billie enquanto os médicos ainda a cercavam. Meu coração ainda estava na garganta, o medo de perdê-la tão presente quanto nunca.

"Ela está estável," o médico disse, virando-se para mim. "Foi uma arritmia. Tivemos sorte, mas ela vai precisar de monitoramento intensivo nas próximas horas."

Eu assenti, ainda incapaz de falar, mas as lágrimas caíam sem parar. Eu quase a tinha perdido, de novo. Meus dedos tremiam quando voltei a segurar a mão de Billie, mais forte dessa vez, como se pudesse protegê-la da própria fragilidade de seu corpo.

Os médicos saíram um a um, e Finneas se afastou para deixar que eu tivesse meu momento com ela. Eu me aproximei mais, beijando sua mão levemente, sem soltá-la.

"Você prometeu que não ia me deixar," sussurrei, minha voz quebrada. "Você prometeu."

Os olhos de Billie se abriram novamente, mais fracos do que antes, mas ainda assim presentes. Ela olhou para mim, e apesar de toda a fraqueza, havia uma determinação silenciosa ali.

"Nunca... vou deixar," ela sussurrou, e o pequeno sorriso nos lábios dela foi suficiente para me fazer desmoronar de vez.

Eu me inclinei sobre ela e beijei sua testa, deixando as lágrimas caírem livremente. Ela estava aqui. Ela estava viva, e, de alguma forma, eu sabia que superaríamos isso juntas.

Mas o medo de perdê-la, aquele medo que tinha me acompanhado por tanto tempo, ainda estava lá. E talvez nunca fosse embora completamente.
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Novamente: não pago terapia

My Dear Stalker - Billie Eilish| G!POnde histórias criam vida. Descubra agora