Prisão

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O sol mal havia nascido quando Eloise acordou, sua cabeça ainda latejando pela tensão acumulada. A briga da noite anterior com Theo reverberava em sua mente como um eco doloroso. Ela tentou respirar fundo, mas seu peito estava apertado, como se uma força invisível a estivesse comprimindo. Olhou ao redor, as sombras do apartamento silencioso ainda parecendo sufocantes.

Ela sabia que a qualquer momento Theo acordaria e seria mais um dia de tensões e agressões veladas - ou, pior, diretas. Enquanto se dirigia para a cozinha para fazer uma xícara de chá, o som do celular vibrando a fez parar. A tela do telefone mostrava o nome de seu irmão, Colin, e por um momento, Eloise sentiu uma pontada de esperança. Há tempos não falava com ele ou com qualquer um de seus irmãos. Eles sabiam que ela estava ocupada, morando em Nova York, mas não sabiam o quanto de sua ausência era fruto de manipulação e medo.

Ela hesitou, sabendo que Theo odiava quando ela falava com a família sem avisá-lo. Mas algo dentro dela gritou por um momento de conexão, uma chance de sentir algo além do controle de Theo.

Eloise deslizou o dedo sobre a tela, atendendo a chamada.

Eloise: "Oi, Colin."

A voz de seu irmão a saudou com entusiasmo. Colin: "Eloise! Finalmente consegui falar com você. Como você está, mana?"

Ela engoliu em seco, tentando soar natural. Eloise: "Estou bem, só ocupada com o trabalho. E você?"

Colin: "Eu estou ótimo! Na verdade, liguei para te convidar para a comemoração do aniversário do papai. Estamos organizando uma festa em Aubrey Hall. Vai ser incrível, e todos os Bridgertons estarão lá. Faz tanto tempo que você não vem... Vai ser uma oportunidade perfeita para nos reunirmos."

O coração de Eloise acelerou. A ideia de voltar a Londres, de estar com sua família, era tentadora. Fazia quase dois anos desde sua última visita, e mesmo naquela vez, Theo havia insistido em ir com ela, monitorando cada movimento, cada conversa, como se ela fosse uma prisioneira.

Eloise: "Eu... adoraria ir, Colin. Mas não sei se será possível. As coisas aqui estão um pouco complicadas no momento."

Colin: "Complicadas como? Você está sempre ocupada, Eloise. O que está acontecendo? Mamãe está com saudades. Todos nós estamos."

Eloise ficou em silêncio por alguns segundos, tentando formular uma desculpa que soasse plausível. Ela abriu a boca para responder, mas foi interrompida pelo som de passos atrás dela. Theo apareceu na cozinha, o olhar severo já fixado nela.

"Com quem você está falando?"

Ela rapidamente desligou a chamada, sem dizer adeus, sua mão tremendo. "Era Colin. Ele só queria saber como eu estou."

Theo estreitou os olhos, cruzando os braços. "E o que mais ele queria?"

"Nada demais. Ele só mencionou que minha família está organizando uma festa de aniversário para meu pai. Ele queria que eu fosse."

Theo deu um riso seco, um som carregado de desprezo. "Ah, claro. Eles querem você de volta. Mas você sabe que isso não vai acontecer sem mim, certo?"

Eloise sentiu o frio invadir seu corpo. Sabia onde aquilo levaria. "Eu não disse que iria, Theo. Eu só... pensei que poderia ser uma boa ideia."

"Poderia ser uma boa ideia?" Ele repetiu, avançando um passo em sua direção, sua voz ganhando um tom ameaçador. "Você acha que pode simplesmente pegar um avião e me deixar aqui? Você acha que vai para Londres sem mim?"

Ela abaixou a cabeça, sabendo que qualquer resposta errada poderia resultar em mais uma briga. "Eu nunca disse isso. Eu só pensei em ir com você, se fosse possível."

Theo balançou a cabeça com um sorriso cruel. "Comigo? Por que você acha que eu iria querer passar um fim de semana com sua família ridícula? Você sabe o que eles pensam de mim. Sempre questionando, sempre desconfiados. E para quê? Para você voltar e ouvir os sussurros sobre como você deveria estar de volta com eles, e não aqui comigo?"

Eloise tentou argumentar, sua voz quase um sussurro. "Não é isso, Theo. Eu só queria ver minha família. Faz tempo."

Ele se aproximou mais, agora apenas a alguns centímetros dela. Sua voz abaixou, mas o tom era ameaçador. "Se você quer ir, você vai. Mas só se eu for junto. E vou te dizer uma coisa, Eloise, se alguém disser algo que eu não gosto, se qualquer um dos seus irmãos fizer um comentário, nós vamos embora. E você nunca mais verá sua família de novo. Entendeu?"

Eloise assentiu lentamente, sentindo as lágrimas se acumularem em seus olhos, mas se recusando a deixá-las cair. "Entendi."

Theo se afastou, satisfeito com a submissão dela. "Ótimo. Agora, vamos esquecer isso por enquanto. Eu tenho que sair em uma hora. Prepare algo para o meu café da manhã."

Com isso, ele saiu da cozinha, deixando Eloise sozinha novamente. Ela soltou um suspiro trêmulo, apertando as bordas da mesa para se estabilizar. A dor que sentia não era apenas pelas palavras duras de Theo, mas pela verdade que sabia estar por trás delas. Mesmo se fosse a Londres, ela estaria sob o controle dele, como sempre.

Ela pegou o telefone novamente e, hesitando por um momento, decidiu mandar uma mensagem rápida para Colin. Precisava inventar uma desculpa que justificasse sua ausência, sem levantar suspeitas.

Eloise: "Oi, Colin. Sobre a festa... não vou poder ir. As coisas estão realmente complicadas por aqui, e não vou conseguir tirar folga do trabalho. Diga ao papai que sinto muito. Mando meus parabéns e prometo visitá-los assim que puder."

Ela sentiu um nó se formar em sua garganta enquanto enviava a mensagem. Era sempre assim. Cada vez que sua família a convidava para algo, Theo encontrava uma maneira de impedir. Às vezes, ele dizia que estava tudo bem, que ela poderia ir, mas no último minuto, criava um motivo para que ela ficasse, ou a fazia prometer que ele iria junto, o que tornava a viagem insuportável.

Eloise terminou de preparar o café da manhã de Theo, seus movimentos mecânicos, enquanto sua mente vagava. Ela pensava em como era fácil, antes de se casar com ele, viajar para Londres, passar tempo com sua família, rir, ser ela mesma. Agora, parecia que cada decisão, por menor que fosse, tinha que ser aprovada por Theo. Seu mundo havia encolhido tanto que mal se reconhecia.

Quando Theo voltou para a cozinha, ele se sentou à mesa, pegando o prato que ela havia preparado. Ele comeu em silêncio por alguns minutos antes de finalmente levantar o olhar para ela.

"Vou sair para resolver algumas coisas. Quando eu voltar, espero que a casa esteja em ordem. E lembre-se do que eu disse. Se você quer ver sua família, só vai com as minhas condições. Nada de surpresas."

Eloise assentiu em silêncio, observando enquanto ele terminava sua refeição e saía pela porta. Quando o silêncio finalmente tomou conta da casa, ela se permitiu respirar um pouco mais fundo. Cada vez mais, a vida com Theo parecia uma prisão, e cada vez mais, ela se sentia sem forças para escapar.

Enquanto olhava pela janela, o sol começando a brilhar lá fora, Eloise se perguntou se algum dia teria coragem de contar a alguém o que realmente estava acontecendo. Sabia que precisava de ajuda, mas o medo de Theo e de suas represálias ainda era muito forte. Por enquanto, o silêncio continuaria a ser seu companheiro, mas dentro dela, uma pequena faísca de esperança ainda queimava. Ela sabia que, de alguma forma, precisava encontrar uma maneira de se libertar.

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