Phillip sentia o peso da porta batendo atrás de si como um ponto final em uma vida que, até aquele momento, parecia impossível de mudar. Suas mãos tremiam levemente enquanto ele segurava a mala, pequena demais para representar tudo o que estava deixando para trás. O céu nublado e o vento frio da tarde de Londres combinavam perfeitamente com o turbilhão de emoções dentro dele.
Enquanto caminhava pela rua de paralelepípedos, o som de cada passo parecia mais alto, ecoando a decisão que acabara de tomar. Ele tinha saído de casa. Pela primeira vez, ele tinha realmente tomado uma decisão que não era controlada por seu pai. O sentimento era uma mistura estranha de alívio e desespero.
Thomas, seu pai, havia feito da sua vida um campo de batalha. Cada dia era uma nova tentativa de quebrá-lo, de moldá-lo na imagem perfeita de George, o irmão mais velho, que fazia tudo do jeito que o pai queria. Mas Phillip não era George. Nunca seria.
Chegando ao prédio de apartamentos onde seu amigo Miles Carpe morava, Phillip sentiu a mão hesitar na campainha. Será que estava fazendo a coisa certa? Mas ele sabia que não havia mais como voltar. A discussão com Thomas ainda ecoava na sua mente. As palavras cortantes, o desprezo, a frustração acumulada. Não havia mais espaço para dúvidas.
Ele apertou a campainha e, alguns segundos depois, Miles abriu a porta. Seu rosto surpreso logo se transformou em preocupação ao ver o estado de Phillip.
"Phillip? O que aconteceu? Você está bem?"
Phillip tentou sorrir, mas só conseguiu soltar um suspiro exausto.
"Eu... saí de casa. Não aguentava mais, Miles. Preciso de um lugar pra ficar, só por um tempo."
Miles abriu completamente a porta, dando passagem para Phillip entrar no pequeno apartamento. O lugar era modesto, mas acolhedor. Um sofá gasto, uma pequena mesa de jantar com algumas cadeiras e estantes cheias de livros e discos espalhavam-se pelo ambiente.
"Claro, entra. Você sabe que é sempre bem-vindo aqui." - Miles fechou a porta atrás de Phillip e o observou com um olhar preocupado. - "O que aconteceu lá em casa? Foi o Thomas de novo?"
Phillip soltou a mala no chão e se jogou no sofá, passando as mãos pelos cabelos enquanto tentava organizar os pensamentos. A imagem do pai gritava em sua mente, as palavras de humilhação ainda frescas.
"Foi o Thomas, como sempre... Ele nunca vai me deixar em paz, Miles. Sempre comparando com o George, me chamando de fraco, de inútil. Hoje foi a gota d'água."
Miles se sentou na cadeira em frente a Phillip, claramente sem saber como confortá-lo, mas atento a cada palavra.
"Eu sabia que as coisas estavam ruins, mas... assim tão sério? O que ele disse desta vez?"
Phillip respirou fundo antes de falar, como se precisasse de forças para repetir o que ouvira.
"Ele disse que eu sou um fracasso, que nunca vou conseguir ser como o George. Ele acha que só porque o George faz tudo o que ele quer, isso é o certo. Mas eu... eu não sou o George. Nunca fui. E ele nunca vai aceitar isso."
Miles assentiu, cruzando os braços enquanto processava o que Phillip dizia.
"Ele sempre foi assim com você, desde que éramos garotos. Eu nunca entendi por que ele tem tanto essa obsessão com o George."
"É porque o George é o filho perfeito, né? Aquele que seguiu a carreira que o Thomas queria, que sempre obedece, que nunca questiona. Mas eu... eu não consigo viver a vida que ele planejou pra mim. Eu tentei, Miles. Por tanto tempo, eu tentei."
O desespero na voz de Phillip era evidente, e Miles inclinou-se um pouco para frente, preocupado.
"Você fez tudo o que pôde, Phillip. Mas chega uma hora em que você tem que cuidar de você mesmo. Não dá pra viver à sombra das expectativas dele pra sempre."
Phillip olhou para Miles, vendo no amigo a compreensão que ele nunca encontrava em casa. Desde os tempos de escola, Miles havia sido uma das poucas pessoas que entendia a pressão que Phillip enfrentava, especialmente vindo de um pai como Thomas.
"Eu só não sei o que fazer agora. Não tenho um emprego, não tenho ideia de como começar do zero."
Miles balançou a cabeça, determinado a não deixar Phillip se afundar.
"Primeiro de tudo, você tem onde ficar. Pode ficar aqui pelo tempo que precisar. A gente resolve isso com calma."
"Eu não queria ser um peso, Miles."
"Você não é um peso. A gente é amigo há anos. Eu não vou te deixar na mão agora."
Aquele gesto simples de apoio trouxe um alívio temporário a Phillip, mas ele sabia que precisava pensar no futuro. Ele não podia ficar ali indefinidamente. Precisava de um plano, de alguma forma de sustento.
"Olha, eu sei que não é muito, mas o dono do pub onde eu trabalho está precisando de mais gente pra ajudar. Não é nada glamouroso, mas é um começo. E, enquanto isso, você pode procurar outra coisa."
Phillip soltou um riso amargo.
"Eu passei a vida toda tentando ser algo... E agora estou começando do zero."
"Talvez isso seja bom, Phillip. Começar do zero significa que você pode escolher o que fazer agora. Sem o Thomas ditando suas decisões."
Phillip assentiu lentamente, tentando absorver essa nova perspectiva. Talvez Miles estivesse certo. Talvez esse fosse o momento em que ele finalmente pudesse descobrir quem era de verdade, longe das sombras do pai e do irmão.
"Talvez. Mas eu não vou mentir... estou com medo."
"É normal ter medo. Mas você não está sozinho, cara. A gente vai passar por isso juntos."
O apoio de Miles era exatamente o que Phillip precisava naquele momento. Ele sabia que a estrada à frente seria difícil, mas, pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu que havia uma pequena chance de tomar as rédeas de sua própria vida.
Enquanto os dois amigos continuavam conversando, Phillip sentiu um peso sair de seus ombros. Ele ainda tinha um longo caminho pela frente, mas, naquele momento, ele tinha algo que fazia toda a diferença: esperança.
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My Salvation - Philoise
Fiksi PenggemarQuando eu me vi perdida em meio às minhas tempestades, você foi o meu raio de sol... Quando pensei que estava destinada a sofrer, você trouxe a luz que eu jamais imaginei encontrar... Eloise Bridgerton passou anos aprisionada em um relacionamento se...