HAVIA COMBINADO COM Kate que iria acompanhá-la até a casa de Oliver para buscar seus últimos pertences que ainda estavam lá. Apesar de não estar muito a vontade em comparecer em sua residência, mesmo conhecendo seu pai e mantendo laços com ele, não queria mais problemas.
E definitivamente estar em sua presença, casado com sua ex-noiva, provavelmente acarretaria a certos desentendimentos entre nós dois.
Ainda não havíamos nos encontrado em um local tão privado, longe de holofotes, o que poderia ser prejudicial para o nosso encontro.
Enquanto eu aguardava no pé da escada, com uma funcionária que fez questão de permanecer ao meu lado, não sei se me vigiando ou apenas para não me deixar só ali. Kate estava no andar de cima com uma pequena mala de mão.
Segundo a mesma, se fossem somente por suas roupas ela não teria vindo. Mas haviam alguns papéis e cartões que estavam ali.
Havíamos sido avisados que Oliver estava no andar de cima também, porém no seu escritório em uma reunião com um país de fora. Por isso o horário.
A tempestade já havia iniciado do lado de fora e outra estava prestes a iniciar dentro daquela casa.
A previsão de tempo havia acertado ao indicar que o dia seria repleto de nuvens, vento e muita chuva. O que era ruim para o meu trabalho, já que tinha duas reuniões, uma em cada canto da cidade. O trânsito dificultaria muito os meus horários. Detestava chegar atrasado.
— Então quer dizer que você vai mesmo embora? — Ouvi a voz dele soar lá em cima.
— Você achou mesmo que eu voltaria? — Perguntou amargurada.
— Irá jogar todos os nossos anos juntos, fora? — Perguntou a ela.
Enquanto ali embaixo, a senhora me olhava desconfortável ao ouvir aquela conversa junto comigo.
Kate riu ironicamente.
— Tem certeza que está me fazendo essa pergunta? — Perguntou ela sarcástica. — Você trepa por meses com outra enquanto estou fora e tem a cara de pau de me perguntar se tenho coragem de jogar todos os nossos anos juntos?
— Você irá mesmo ficar casada com ele? — Insistiu.
— Liam é um homem de verdade. — Respondeu em alto e bom tom.
— Vai me dizer que está apaixonada por ele? — Riu debochadamente. — Acha mesmo que ele será capaz de fazê-la se apaixonar? Você nunca sentirá por ele, o que sentiu por mim.
Mais uma vez sua risada invadiu o andar de cima. Era possível ouvir agora as rodinhas de sua mala se movimentarem pelo chão.
— Acha que é difícil se apaixonar por Liam? — Perguntou Kate. — Ele é um homem inteligente, responsável, que se importa com a família e por mais sacana que você e a ex-noiva dele tenham sido conosco, preferiu se casar com uma estranha, do que ver tudo que seu pai demorou anos para construir, desmoronar por conta de dois descabeçados.
— Ainda não respondeu minha pergunta. — Ele falou e agora pude vê-lo segurar sua mala, fazendo-a parar no alto da escada.
— Está vendo aquele cara ali embaixo? — Ela perguntou apontando para mim. — Ele abriu mão de seus compromissos e suas responsabilidades em muitos momentos para se certificar que eu estivesse bem. Então, é fácil se apaixonar por alguém como Liam, muito fácil.
Subi a escada para ajudá-la com a mala. Ainda sem dizer uma única palavra. Quando o vi segura-la mais uma vez, a impedindo de descer, fora a minha vez de intervir. Afastei seu braço, e a auxiliei com a mão descer os degraus, mas bastante atento ao homem atrás de nós, para caso ele tentasse alguma coisa, mas não tentou.
Manteve-se calado até o último degrau, quando notou a distância entre nós, resolveu que seria o momento de deixar um pequeno recado.
— As coisas não ficarão assim por muito tempo. — Avisou.
Quando Kate se virou, decidida a responde-lo, toquei sua cintura, sussurrando um "deixo-o" em seu ouvido.
Não valia a pena se estressar e gastar mais palavras com ele.
Encontrei seus olhos marejados no instante que adentrei o carro após deixar sua mala no porta malas.
Acariciei sua coxa com o polegar e a vi limpar as pequenas lágrimas que insistiram em cair.
— Não sei explicar porque estou assim. — Falou chorosa. — Eu costumo ser forte sempre.
— Não tem problema em chorar às vezes. — Afirmei. — Não sei como reagiria se fosse você, e estivesse tendo que abrir mão de um relacionamento de anos.
Katherine estava mais emotiva do que o normal, quer dizer, não que eu tenha convivido muito tempo ao seu lado. Mas nesse um mês e pouco que estávamos juntos, ela estava se tornando cada dia mais frágil.
Tudo que costumava fazer normalmente, precisava pensar ainda mais, para não machucá-la. Até mesmo minhas atitudes, principalmente quando se tratava de deixá-la um pouco mais sozinha do que o normal, a afetava.
Embora agora Kate estivesse se interessando em voltar ao trabalho, me procurava muitas vezes em diversas horas do dia, talvez demonstrando um pouco de carência.
— Tem certeza que ficará bem sozinha? — Perguntei mais uma vez, insistindo se ela ficaria bem na clínica sem a minha companhia, já que eu tinha uma reunião muito importante para ir.
— Serão somente alguns exames de rotina. — Ela concordou ao sair do carro. — Nos vemos no jantar?
— Claro. Até logo. — Concordei.
Katherine se afastou a passos lentos até a entrada da clínica. Segundo ela, desde que fora para o Canadá não havia mais realizado seus exames e talvez estivesse precisando preencher algumas possíveis vitaminas que estavam faltando em seu organismo.
Muitas vezes duvidava disso, talvez ela sentisse que algo estiva errado dentro dela.