A VERDADE ERA QUE DOMINGO não queria sair do nosso quarto. Não queria ver ninguém e nem ter que conversar com outra pessoa que não fosse ela. E foi o que fiz, enviei mensagens para Ethan, Brandon e Amber avisando que não estaríamos disponíveis o dia todo, o que fez minha irmã vibrar com a informação.
Ela com certeza sabia o que significava.
Era óbvio que somente havia tomado a decisão por não ter nenhum compromisso em minha agenda em relação ao trabalho, caso contrário, não poderia passar o dia ao lado da Kate.
— Que horas são? — Suas mãos cobriam seus olhos tentando evitar a luz solar que atravessava as persianas.
— Dez ou talvez onze. — Respondi tentando fazer o cálculo mentalmente de acordo com a última vez que havia olhado o celular.
— O que está fazendo aqui ainda? — Perguntou talvez pensando que eu tivesse algum compromisso pelo trabalho.
— Ficaremos aqui hoje. — Respondi. — Quer dizer, é claro, se você quiser.
Nós literalmente ficamos o domingo inteiro no quarto em que estávamos hospedados apesar de termos parado algumas vezes para fazer refeições. Ficar ao seu lado me causava algo que não conseguia explicar, não sei o motivo de estar tão na dela.
Em alguns segundos ficava pensando quais eram os seus sentimentos por mim, afinal fazia poucas semanas desde o seu término com Oliver.
Gostaria que seus sentimentos por ele se apagassem rapidamente.
Não me lembro ao certo em qual horário dormimos, mas o despertador que deixei ativado para não perder a hora na segunda-feira tocou e agradeci por minha irmã ter insistido para vir conosco nessa viagem.
Não queria deixar Kate sozinha, hoje ela estava exausta assim como eu, porém ela tinha o privilégio de poder continuar dormindo.
Enquanto me arrumava para as palestras e também o almoço que teria para assinar dois contratos olhava-a dormir. Sempre que possível nessa hora era possível vê-la mais calma, não parecia se preocupar com os problemas a nossa volta.
Eu estava exausto, apesar de tudo ser muito produtivo e próspero para nossa empresa meu corpo exigia um descanso. Desejava que em algum momento pudesse realmente tirar férias poder relaxar tanto a minha cabeça quanto meu corpo. Era claro que agora conseguia me enxergar fazendo tudo isso ao lado dela.
No outro dia...
A gravata de certa forma começava me incomodar, tentei afrouxá-la um pouco, mas vi que na verdade esse era o momento certo de estar bem arrumado porque estava seguindo para o restaurante onde encontraria um importante empresário.
Austin olhava como se dissesse ou então como se quisesse ser agradecido por reforçar que eu não trouxesse Kate para este almoço, mesmo sabendo que era possível se eu desejasse.
Se em alguns dias atrás no baile de sua empresa Kate já havia ficado enciumada, se ela visse a forma como a filha do meu parceiro estava me olhando, ou melhor, flertando comigo, ela com certeza ficaria muito raivosa.
Olhei diversas vezes o celular como se esperasse por alguma mensagem dela, porém provavelmente estaria aproveitando Paris ao lado de minha irmã. Hora e outra me perdia em meus pensamentos imaginando se ela contaria para minha irmã sobre a noite que passamos a primeira vez juntos.
Neste momento flashes daquela noite e também o nosso domingo passou pela minha família fazendo com que eu a imaginasse nua, quando uma mão tocou a minha sobre a mesa reparei como ela poderia anotar que eu estava longe daquela reunião pelo menos em pensamento.
Uma chuva grossa se formava do lado de fora, fazendo-me agradecer mentalmente meu parceiro de negócios por ter tirado os guarda-chuvas do carro mesmo com a fina garoa que fazia horas antes.
— Meu jovem, você poderia acompanhar Sienna até a rua ao lado? A uma loja que ela gostaria de ir. — O senhor fazia tudo pela filha, e por mais que eu quisesse negar seu pedido, sabia que tudo fazia parte de um jogo. Ele queria me testar. Queria ver até onde eu iria pelos negócios.
— Claro. — Concordei ao abrir o guarda-chuva.
Sienna riu ao meu lado e entrelaçou nossos braços, fazendo com que nós dois ficássemos de baixo da proteção.
Nossos passos precisaram ser apressados, e quando menos esperávamos ao atravessar a estreita rua, um vento forte soprou, fazendo com que o guarda-chuva em minha mão voasse para longe, impossibilitando-me de pega-lo novamente.
Dessa vez a segurei pela mão e corremos assim. Encharcados e rindo.
— Ai meu Deus, estou horrível. — Ela falou assim que chegamos na calçada, nos abrigando abaixo de uma sacada de loja.
— Para de charme, nem mesmo a chuva pode acabar com a sua beleza. — Afirmei, mesmo que fosse óbvio.
— Você tem certeza que não quer dar uma escapadinha comigo? — Ela perguntou ao se aproximar e torcer minha gravata, fazendo com que bastante água que estava acumulada caíssem sobre o chão.
Sorri com seu convite. Mas balancei a cabeça em concordância.
— Cuide-se. — Falei ao beijar o topo de sua cabeça. — Nos vemos em uma próxima viagem.
— Sabe onde me encontrar. — Lembrou, enviando-me um beijo no ar.
Mesmo sendo uma mulher mimada, e acostumada a ter todos os seus caprichos quando queria, ainda assim Sienna era uma boa pessoa. Não poderia simplesmente ignorar o que passamos juntos.
Apesar de boa parte se tratar de uma loucura e desejo carnal, tínhamos momentos bons. Conversas intensas sobre assuntos diversos que faziam parte do nosso dia-a-dia.