por Katherine Eastwood
Havia escolhido um restaurante próximo à empresa de meu marido, Liam, especialmente para facilitar o seu deslocamento após uma jornada de trabalho. O lugar exalava charme; velas acesas nas mesas e a suave música ao fundo criavam uma atmosfera intimista que parecia prometer um almoço especial. Eu me lembrava de como havia ficado encantada com a decoração vintage assim que entrei pela primeira vez, mas hoje, o encanto se transformara em ansiedade.
Fazia pouco mais de três meses que havia morado no Canadá. Três meses desde que aquele contrato de casamento se tornara minha nova realidade. Um casamento que, na superfície, era um acordo prático, mas que escondia camadas de emoções complicadas. Durante todo esse tempo, mesmo sabendo que a relação com Liam era apenas uma formalidade, meu coração frequentemente se deixava levar por sentimentos que pareciam mais profundos do que eu imaginava.
Estar grávida do meu ex-namorado, enquanto estava casada com outra pessoa, transformava cada momento em uma verdadeira montanha-russa emocional. Todos os dias, enquanto olhava pela janela do meu pequeno apartamento, desejava mentalmente que aquela criança que crescia dentro de mim fosse filha de Liam. Eu não sabia se era realista nutrir tais esperanças, mas a ideia de uma família com ele, mesmo que apenas imaginária, trazia uma mistura de conforto e dor.
Olhando Liam analisar o cardápio, ele estava ainda mais bonito desde a última vez que o vira; seus cabelos escuros estavam levemente bagunçados, como se tivesse passado então horas mergulhado em trabalho, e suas roupas, um terno sob medida, acentuavam sua silhueta forte e confiante. O sorriso que iluminou seu rosto ao me ver admirando-o fez meu estômago se revirar, trazendo à tona uma sensação que eu tentava desesperadamente suprimir.
— Você está muito bonita — disse ele, fazendo-me lembrar da manhã em que sai mais cedo do que o mesmo de casa. Mas que havia passado bons minutos em frente ao espelho, escolhendo a roupa certa para encontrá-lo mais tarde.
— Obrigada, você também está ótimo — respondi, tentando controlar a emoção na voz. Era difícil não me perder nos seus olhos castanhos, que refletiam uma compreensão silenciosa e profunda.
Pedimos nossos pratos e, enquanto a comida chegava, trocávamos olhares e sorrisos nervosos. A conversa fluiu naturalmente, como se não houvessem barreiras entre nós. Falei sobre as pequenas aventuras que vivia explorando a cidade, enquanto ele compartilhava histórias divertidas do escritório. Cada risada que trocávamos era como uma gota de amor lentamente se infiltrando em meio aos meus conflitos internos.
No entanto, a alegria da nossa refeição logo foi misturada a um sentimento de culpa que brotava do fundo de minha alma. Era incrivelmente egoísta querer que Liam fosse mais do que um mero parceiro de contrato, ao mesmo tempo em que sabia que eu carregava a sombra de um outro relacionamento. O simples fato de estar grávida de outra pessoa tornava tudo mais complicado, e eu me perguntei se havia espaço em seu coração para algo que poderia ser tão imprudente.
Conforme o almoço avançava a conversa se tornava mais pessoal. Liam perguntou sobre meus sonhos e aspirações, algo que eu não esperava que ele se preocupasse, dado o nosso arranjo.
Respondi sobre a vontade de me estabelecer, construir uma vida e ter uma família. As palavras saíram de forma espontânea, quase como uma confissão involuntária. O olhar dele se tornou intenso, e eu percebi que ele estava absorvendo cada palavra.
— Você sabe, eu sempre admirei sua determinação — disse ele, um pouco hesitante. — Eu sinto que você merece ser feliz, independentemente da situação.
Seu olhar sincero me desarmou, e as palavras que eu ainda guardava em meu peito começaram a se formar. Apesar da confusão que habitava minha mente, o amor que eu nutria por ele era palpável, como uma corda invisível nos unindo. A atração crescia, e meu medo de perder essa conexão me fazia hesitar.
— E sobre você? O que você deseja? — perguntei, curiosa. Eu queria saber se ele, em algum momento, havia pensado no que poderia ser "nós".
Ele pousou o garfo, os olhos brilhando. A resposta estava tão próxima, mas havia uma hesitação que pairava no ar, como se o peso das decisões futuras estivesse prestes a derrubar a frágil ponte entre nós.
— Honestamente? Eu gostaria que tivéssemos mais tempo juntos. O que temos é bonito, mesmo que complicado — disse ele, ecoando meus pensamentos.
Meu coração disparou com a sinceridade daquela declaração. Estava claro que nossos sentimentos eram mais complexos do que apenas um arranjo econômico. Eu queria crer que havia esperança, que poderíamos transformar esse laço em algo genuíno. Mas a lembrança da vida que eu carregava dentro de mim, fruto de uma relação do passado, tornava tudo tão incerto.
— O que você realmente quer? — Liam perguntou de repente.
O tempo pareceu congelar. Olhei para ele, absorvendo a pergunta que, sem dúvida, guardava significados infinitos. O que eu queria? A resposta trazia à tona todas as minhas incertezas. Eu queria Liam, queria aquele momento, mas ao mesmo tempo, sentia o peso da responsabilidade que carregava.
Enquanto caminhávamos novamente até a entrada do prédio em que trabalhava, parei ali mesmo em frente a portaria para me despedir. Eu ainda não havia respondido a sua pergunta, ainda estava analisando ela.
— Eu... — comecei, hesitando. A verdade estava na ponta da língua, mas o medo de magoá-lo e a realidade da minha situação eram barreiras quase intransponíveis. — Eu quero... quero ser feliz.
A sinceridade da minha resposta parecia ecoar entre nós, e Liam se aproximou ainda mais. Ele segurou meu rosto entre as mãos, a intensidade de seu olhar derretendo qualquer resistência que eu ainda pudesse ter. O toque era quente e firme, e meu coração pulsava como se soubesse que, naquele momento, tudo poderia mudar.
— Então vamos descobrir juntos o que isso significa, — disse ele, e, antes que eu pudesse pensar, inclinou-se e selou nossos lábios em um beijo que uniu nossos mundos de uma forma que eu nunca imaginei possível.
Era doce e apaixonado, cheio de promessas não ditas. Eu finalmente permiti que os sentimentos transbordassem, abraçando a ideia de que, talvez, o destino tinha reservados mais capítulos para nós dois.
E, enquanto os fogos de artifício da vida explodiam ao nosso redor, percebi que, mesmo enfrentando incertezas, nosso amor poderia ser a luz que nos guiaria para um futuro inesperado, repleto de novos começos.