CAP | 20

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Já havia se passado uma semana desde que voltara de viagem e estava cada vez mais distante, talvez propositalmente. Apesar do nosso casamento ser falso, era nítido que ela estava enciumada.

Enquanto tentava ignorar as tensões que cresciam entre nós três, o desconforto começou a aumentar na minha nuca. Estava sentado em meu escritório, sentindo meu pescoço e ombros doerem por ter dormido em uma má posição na noite anterior.

Emma entrou para deixar alguns documentos, e a sua presença suave trouxe uma leveza ao ambiente carregado.

— O que aconteceu com você? — perguntou, observando meu desconforto com um olhar preocupante.

— Uma noite mal dormida — respondi, tentando mudar meu foco, movendo meu pescoço de um lado para o outro.

— Aprendi uma técnica de massagem para essa região. Deixe-me ajudar — disse Emma, dando um passo à frente.

O convite estava lá, inegável e irresistível. Antes que eu pudesse pensar, ela se aproximou e começou a acariciar meu pescoço. Era incrível como um toque tão simples poderia causar uma onda de relaxamento que se espalhava por todo o meu corpo. Fechei os olhos, permitindo-me perder na sensação da sua mão firme e gentil.

No entanto, foi neste exato momento que a porta do escritório se abriu com um rangido, e meus olhos se abriram rapidamente para encontrar Kate parada ali, com uma mistura de choque e fúria estampada em seu rosto. A expressão dela era de alguém que acabou de descobrir uma traição, mesmo que não houvesse nada mais entre mim e Emma além de uma amizade profissional.

— O que está acontecendo aqui? — Kate questionou, sua voz cortante como vidro.

Eu queria responder, queria explicar que era apenas uma massagem casual, mas as palavras pareciam desaparecer na minha garganta. O ar encheu-se de uma tensão palpável, e as emoções começaram a eclodir, como uma tempestade que estava prestes a se abater sobre nós.

Emma se afastou rapidamente, mas o dano já estava feito. A insegurança e o ciúme de Kate eram claros. O que deveria ser um ato inocente agora havia se transformado em um incêndio.

— É apenas trabalho, Kate! — finalmente consegui dizer, tentando suavizar a situação, mas a indignação em seus olhos não se dissipou.

— Trabalho? Isso parece mais pessoal do que profissional — retrucou, cruzando os braços, como se estivesse se protegendo de algo muito maior.

A sala estava impregnada de emoções não resolvidas. O silêncio se arrastou entre nós, denso e pesado. Eu sabia que precisávamos conversar, mas como abordar tudo isso? A verdade era que Kate estava certa sobre algo: tudo havia mudado. E a mudança não era fácil de engolir.

— Kate, podemos conversar? — sugeri, levantando-me da cadeira.

Ela hesitou, mas o orgulho dela era uma barreira complicada. Emma percebeu a tensão e deu um passo para trás, como se a presença dela fosse uma mancha na nossa tentativa de resolução.

— Eu vou... trabalhar em algo — disse Emma, saindo do escritório rapidamente e fechando a porta atrás de si.

Quando ficamos sozinhos, o peso do momento foi quase insuportável. Eu olhei para Kate, tentando ler nela um caminho para diálogo.

— Você não precisa ficar assim — disse, tomando um fôlego profundo.

— Assim como? Com uma estranha fazendo um massagem em você? É complicado, Liam. Você sabe como isso parece! — respondeu, sua voz tremia levemente.

Na verdade, eu não sabia como era aquilo. A incerteza do nosso relacionamento havia chegado ao ponto de ebulição. E, enquanto Kate expressava sua dor e desconfiança, eu sentia que talvez estivéssemos em direções opostas.

— Ouça, Kate, eu entendo que você esteja chateada, mas isso não significa que eu quero estar com a Emma. Você sabe que nosso casamento é uma conveniência, não um amor verdadeiro — disse, tentando ser claro.

Eu via a luta em seus olhos; ela estava dividida entre o desejo de acreditar em mim e o impulso de se proteger de qualquer mágoa futura. Como eu poderia convencê-la de que a presença de Emma não significava nada? Era preciso um esforço conjunto, um abrir de coração, algo que havia sido esquecido entre nós.

— Eu só quero saber o que você realmente sente, Liam! — ela exclamou, a vulnerabilidade se infiltrando em sua voz rígida.

A verdade era que estávamos bem antes dela resolver ir embora. Estávamos juntos, construindo algo que ia além de um casamento falso. Mas ela decidiu se afastar, e embora houvesse gostado muito dela, sua ausência desenvolveu algumas incertezas.

— Eu sinto que você está distante desde que voltou. Precisamos nos reconectar, precisamos entender quem somos agora, separados pelo tempo e pelas experiências — respondi, em um impulso sincero.

— E quanto a Emma? — Kate perguntou, a acusação implícita ressoando nas palavras dela.

— Emma é minha funcionária, nada mais. O que aconteceu naquele momento foi um mal-entendido, um instante isolado em meio a toda a confusão que estamos vivendo — eu disse, esperando que a sinceridade pudesse passar através das barreiras que erguemos um ao outro.

Kate pareceu considerar minhas palavras. O brilho nos olhos dela suavizou um pouco, mas havia uma sombra de dúvida que ainda precisava ser enfrentada. Ela queria ouvir mais, mas não sabia se estava pronta para aceitar o que estava por vir.

— Eu só quero que você seja honesto comigo, Liam. A última coisa que eu quero é ter que competir por você — disse ela, sua voz quimicamente misturada entre esperança e insegurança.

— Você nunca terá que competir por mim, Kate. Eu quero que possamos reconstruir o que tivemos. Não sou perfeito, mas estou disposto a lutar por você e pelo que podemos ser — declarei, sentindo a verdade em cada palavra.

Uma fração de segundo pareceu se estender entre nós, uma possibilidade de novo começo, um espaço para redescobrir o que havia se perdido. Kate olhou para mim, e me perguntei se ela via a sinceridade em meus olhos.

Finalmente, ela soltou um suspiro profundo, como se estivesse liberando um peso que não sabia que carregava. Os sentimentos confusos não desapareceriam da noite para o dia, mas talvez houvesse uma luz tênue à frente.

— Vamos conversar sobre isso. — respondeu, e ao invés de ciúmes, havia uma mudança no tom dela, uma decisão em relação à construção de algo novo. — Eu vim para convidá-lo para almoçar comigo, caso não esteja ocupado.

E, à medida que conversávamos havia uma sensação de renovação, e, mesmo que o caminho à frente fosse longo e cheio de desafios, a determinação mútua de querer chegar lá juntos reacendeu uma chama que pensei estar extinta. Essa história ainda tinha muitos capítulos para serem escritos, e estava decidido a vivê-los ao lado de Kate, quem quer que ela se tornasse no futuro.

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