Ele não me olha nos olhos desde aquele dia.
A rotina é a mesma, no primeiro dia, fora Kayin quem trouxera comida para mim, mas no dia seguinte e os seguintes depois dele, Kael apareceu.
Ele não provava mais a comida ou bebia da água.
Ele não chegava nem a encostar nos utensílios que eu usava, os trazia em uma bandeja, e quando precisava passar da bandeja para bancada, usava um guardanapo.
E tinha esse fato de ele não me olhar nos olhos. Sempre que me aproximava, ele se afastava, sempre que ia pegar o copo de sua mão, ele fazia de tudo para não encostar em mim.
Ele levou realmente ao pé da letra o que disse.
Sem que ele provasse, eu não sentia mais confiança em comer, e ele não me obrigou como da primeira vez.
Ele nem sequer parecia me enxergar.
E agora não estava sendo diferente. Já haviam se passado sete dias desde a nossa última "discussão".
Ele colocou o prato encima da bancada, acompanhado de um copo de água, com o guardanapo, que logo após colocou no bolso, ele não fazia questão de jogar na lixeira que estava no banheiro.
Não me olhou.
Apenas saiu, alheio às minhas encaradas nada discretas. Era como se ele estivesse alimentando um animal.
Ele parecia mais um robô do que qualquer coisa, sem expressão, sem voz, sem outros movimentos, apenas uma missão: deixar comida, tirar o prato.
Esperei sua raiva cair sobre mim durante esses dias, esperei chover ameaças e torturas, mas algo pior aconteceu, eu deixei de existir naquele lugar.
Torturar alguém como um animal é uma coisa, ignorar esse pessoa como se fosse irracional, como se não existisse, como se não importasse, conseguia ser algo pior.
Desta vez tentei comer.
Minha garganta fecha, a comida desce seca, estou suando frio.
Não tem veneno, mas meu corpo, minha mente, está tão adaptada a isso que reage ao que não existe.
Corro pro banheiro e vomito o pouco que comi.
Sinto meus olhos arderem...
Isso está acabando comigo.
Uma nova onda de vômito vem, não consigo conter, meu corpo está desgastado.
Meu corpo arqueia para despejar o conteúdo de meu estômago no vaso, sinto o ar ficar mais pesado.
Limpo os cantos da boca e me viro para voltar ao quarto.
Solto um grito.
Kael está dentro do banheiro, me observando com seus olhos sem vida alguma.
Ele não me olha nos olhos.
Porra, Kael, me encare de verdade, seu merda.
Passo por ele, tentando ignorar o fato que ele se afastou do caminho para que eu não chegasse a topar nele.
Sinto meu peito se contrair.
— O que você tem? — são as primeiras palavras dele em uma semana inteira.
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𝓨𝓸𝓾𝓻, 𝙵𝚘𝚛𝚎𝚟𝚎𝚛 𝘢𝘯𝘥 𝙀𝙫𝙚𝙧
RomantikEsse criminoso promete ser a catástrofe de sua vida, um serial killer contratado para tirar a vida de Emily Carson. Maldito seja Kael Antonella.