꧁•⊹٭𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 10٭⊹•꧂

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Quando abro meus olhos, sinto uma leve dor, menor do que antes, mas não inexistente, o clima está frio novamente, a ternura que senti, desapareceu.

A última coisa que me lembro é de Kael limpando o ferimento.

Olho ao redor, e não há ninguém.

Como se não tivesse passado de um sonho.

Mas a dor permanece. É o que me faz apegar a realidade. Aquilo foi real.

Kayin era o nome do irmão de Kael. E ele me bateu porque tentei "fugir".

Que horas devem ser agora?

Vou até o banheiro a passos lentos, e quando me deparo com meu reflexo, sinto vontade de chorar outra vez. Me sinto imponente, como nunca me senti antes.

E sinto raiva. Ódio puro.

Meus olhos estão inchados, a gola do moletom manchada com meu próprio sangue, o nariz com gaze e esparadrapo, o cabelo uma completa bagunça.

Eu só queria ser capaz de esquecer esse último mês.

Lavo somente os olhos, escovo os dentes e penteio o cabelo, sempre com cuidado para não acabar tocando o machucado recente, mas quando estou desfazendo um nó, sinto uma pontada leve na lateral da cabeça.

Certo, tem isso também.

Retiro o moletom e o coloco na pia, deixando a água jorrar sobre ele, espero que não manche, não tenho muitas roupas assim.

Vou até o quarto, para o cantinho onde organizei as roupas que recebi e pego uma blusa preta, sem detalhes.

Assim que ela passa por minha cabeça, tento não encostar em nenhum ponto vital, a porta é aberta e preciso me apressar, um grunhido me escapa pela maneira como o colarinho deslizou pelo meu nariz.

Olho para trás imediatamente, não me permitindo ficar de costas para o perigo.

É Kael.

Ele está com uma expressão cansada, como se não tivesse dormido direito.

E traz uma bandeja com um cacho de uvas, bananas fatiadas e mingau.

É o meu primeiro café da manhã aqui.

Olho para o prato e depois para ele, alternando entre os dois, ele parece focado no meu rosto.

Algum tempo depois ele sai de transe e apoia a bandeja na bancada, pega um garfinho, de plástico, e come algumas frutas, depois prova o mingau.

Ah.

Eu não tinha parado para pensar nisso ainda, mas ele já se adiantou.

Hoje ele está sem mangas, o que me permite ter uma breve visão de seus braços definidos, mas ainda faz uso de uma calça social preta.

Ele deixa a bandeja ali e vai em direção ao banheiro, ouço o ruído de água sumir. A torneira ainda estava ligada.

Sente-se — é uma ordem, mas não soa como uma.

Ele sai do pequeno cômodo, e espera que eu me sente, pegando a bandeja outra vez.

Eu não preciso que ninguém me dê comida na boca, obrigada. — digo.

Vejo um risinho de canto.

Isso não estava em meus planos, mas se você prefere assim... — ele me encara, e sinto algo me percorrer.

Talvez seja medo.

Desvio o olhar.

Não estou com fome, pode ir. — digo.

𝓨𝓸𝓾𝓻, 𝙵𝚘𝚛𝚎𝚟𝚎𝚛 𝘢𝘯𝘥 𝙀𝙫𝙚𝙧Onde histórias criam vida. Descubra agora