Capítulo 38

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Em silêncio Soraya acariciava o rosto sereno de Bernardo. O rapaz dormia profundamente sob efeito dos remédios.

— Meu bem, não acha melhor irmos para um hotel, voltamos amanhã de manhã — diz Simone.

— Não, eu quero ficar!

— Amor, a médica disse e você também sabe que ele não acorda mais hoje, prometo que amanhã cedo estaremos aqui, hum...vamos? — Simone tentou mais uma vez, se aproximando e tocando o ombro da mulher.

Soraya suspirou, sendo vencida pelo cansaço de uma noite mal dormida e uma viagem longa.

— Ok, mas amanhã estarei aqui o mais cedo possível! — ele se inclinou para perto do filho e lhe deu um beijo suave na testa — mamãe te ama, meu menino. Amanhã estarei aqui.

Simone pegou suas coisas e as dela e em seguida saíram.

No corredor de acesso à saída, Lilia estava em pé anotando algo na prancheta sobre o balcão.

— Doutora Lília, com licença — Soraya se aproximou.

Lília se virou.

— Ah, olá!

— Estamos indo, mas estarei aqui amanhã cedo. Qualquer novidade eu deixei meu contato aqui na recepção.

— Ok, eu aviso. Vá tranquila, seu filho está bem.

Soraya suspirou.

— Obrigada, com licença.

Lília assentiu e as observou sair pelas portas automáticas.

Um carro privado as esperava na entrada do hospital, Simone o chamou para levá-las ao hotel. Durante o percurso, o celular de Soraya começou a vibrar.

— Alô?

— Soraya, sou eu Bruna, me diz que o Bernardo está bem, por favor, diz, eu estou nervosa...— a voz tremida da menina do outro lado da linha era nítida.

— Oi, minha querida, sim, ele está bem, fique calma. Eu estava na França quando me ligaram do hospital, vim o mais rápido que pude, acabei de sair do hospital onde ele está. Me disseram que ele foi operado, está fora de perigo e só acorda amanhã.

— Aí, graças a Deus. Eu estava aflita, nervosa sem notícias, não posso me imaginar sem ele, Soraya...

— Nem eu, nem eu....mas fique calma. Amanhã bem cedo eu vou estar aqui de volta ao hospital e atualizo você, está bem?!

— Obrigada, Soraya. Até amanhã.

— Até!

Desligou.

Soraya deixou o celular no banco e fechou os olhos.

— Meu amor, ele está bem!  — Simone tocou sua mão.

— Eu só vou ficar tranquila quando eu ver ele abrir os olhos. Bernardo é meu único filho, Simone! Não imagino minha vida sem ele.


[...]

Simone tomou banho primeiro e foi se deitar, enquanto Soraya foi logo depois. Seu semblante estava carregado de preocupações, mesmo já tendo visto seu filho. Mas há quem diga que coração de mãe nunca mais é o mesmo depois que tem filho, a preocupação é dobrada até quando o filho está bem.

— Vem cá — Simone chamou Soraya com uma das mãos.

— Estou cansada — Soraya suspirou pesado.

— Eu sei, foi só um susto, Bernardo vai se recuperar e já já vai estar andando normalmente. Esqueceu que ele tem a melhor médica do mundo como mãe dele?

Soraya esboçou um pequeno sorriso ao se aconchegar nos braços de Simone. Se sentia segura por estar ali, protegida no meio de um caos que anda vivendo.

— Agora descansa, amanhã voltamos pro hospital.

— Meu bem, sua família deve estar estranhando que ainda não voltou para o Brasil, por isso se quiser ir embora não tem problema — Soraya levantou a cabeça e olhou para Simone.

— De jeito nenhum, só volto pro Brasil com você e Bernardo, não vou deixar você sozinha aqui — ela afasta os cabelos do rosto de Soraya — e não se fala mais nisso. Vamos dormir.

— Tá bem! — selinho — te amo.

— Eu também te amo.



***

Hilda compartilhava a mesa do café da manhã com Thiago enquanto numa mão segurava a xícara de café e na outra o tablet onde lia as notícias.

— Mas o que é isso? Meu Deus, mas... Não não...

— O que houve?

— Meu neto, ele levou um tiro na faculdade.

— Nossa, esse mundo realmente tá perdido — disse ele pouco se importando.

— É só isso que você tem para falar?

— Ah, menos, ele morreu por acaso?

— Não, claro que não, está vivo, aqui diz que foi internado lá mesmo.

— Então pronto!

Hilda jogou o guardanapo na mesa e saiu em direção ao escritório.



***

— Bom dia, como se sente? — Lilia entrou no quarto de Bernardo logo cedo.

O rapaz ainda estava sonolento, abria os olhos devagar, tentando se acostumar com o ambiente e a luz forte do dia.

— Bernardo? Entende o que eu digo? — ela se aproximou da cama, verificando as pupilas dele com uma lanterna.

— Sim, entendo! O que houve?

— Eu sou Lília Backer, médica responsável por você! Você levou tiro num atentado à sua faculdade, passou por uma cirurgia complicada e ainda recente, precisa de cuidados. Sua mãe esteve aqui ontem e já deve estar chegando daqui a pouco novamente.

— Meu Deus, eu me lembro, foi horrível, meus amigos...eles...meu Deus — suas lágrimas caem.

— Eu lamento muito, mas ambos vieram a falecer ainda no local. Só encontramos você com vida!

— Bom dia, com licença! — Soraya bateu na porta já entrando.

— Entre!

— Meu filho...

— Mãe....

Ambos se abraçaram.

[...]

Enquanto isso do lado de fora, Simone resolveu não entrar, deixando que mãe e filho ficassem a sós. A bolsa de Soraya ficou com ela também, por isso sentiu o telefone dela tocar. Na tela do aparelho não tinha nome, apenas um número desconhecido. Por via das dúvidas resolveu não atender. Mas na segunda chamada, não resistiu a tentação.

— Alô?

— Soraya, como está meu neto?

Simone reconheceu a voz de Hilda, mas quando pensava se respondia ou não...

— Simone, Soraya pediu para você entrar...

Lilia chamou pelo nome dela, com Simone na chamada ainda ativa. Rapidamente a mulher desligou, torcendo para não ter sido descoberta.

Anatomy - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora