Capítulo 08

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Capítulo 08

AS AGUAS TURVAS DO RIO GUAÍBA refletiam o céu carregado e fechado, enquanto os barcos de resgate e jet skis passavam pelas ruas alagadas, agora irreconhecíveis. Simone e Soraya estavam a bordo de um dos barcos de resgate, acompanhadas por bombeiros, navegando com cautela. A tensão era palpável, mas ambas mantinham o foco na missão: resgatar e ajudar o maior número possível de pessoas.

De repente, um grito angustiado quebrou o silêncio, atraindo a atenção de todos. À frente, um grupo de bombeiros lutava para manter um homem sobre um pedaço de madeira flutuante. O corpo do homem se sacudia incontrolavelmente.

— Convulsão! — Simone exclamou, imediatamente reconhecendo os sinais — Precisamos chegar até ele agora!

Soraya, ao focar no homem, sentiu um choque percorrer seu corpo. Mesmo à distância, ela reconheceu o rosto contorcido de dor. Era Daniel, um antigo amigo da faculdade de medicina. Eles haviam perdido contato há anos, mas a amizade e as memórias compartilhadas voltaram com força total, atingindo-a como uma maré.

— O que foi, Soraya? — Simone perguntou, notando a mudança na expressão dela.

— É o Daniel —  Soraya murmurou, os olhos arregalados de surpresa e medo — Ele... Ele é meu amigo. Temos que salvá-lo!

O barco acelerou, o motor rugindo enquanto se aproximavam do grupo. Simone pôs a mão no ombro de Soraya, uma tentativa silenciosa de apoio. Um ato que nem ela pensou direito por que estava fazendo.

— Vamos, Soraya. Ele precisa de você agora.

Chegando ao local, Simone e Soraya saltaram do barco, a água fria subindo até suas coxas. Com a ajuda dos bombeiros, conseguiram levantar Daniel para o barco. Seus movimentos convulsivos estavam diminuindo, mas ele ainda estava inconsciente e em perigo.

— Vamos, precisamos estabilizá-lo — Simone disse, assumindo o comando — Soraya, você pode...?

— Sim, sim, claro — Soraya respondeu, tentando conter a onda de emoções que ameaçava dominá-la. Ela sabia que precisava ser forte. Daniel estava lutando pela vida e dependia dela para sobreviver.

Enquanto Simone começava a avaliar a condição de Daniel, Soraya respirou fundo e tentou se concentrar. Ela notou que as convulsões estavam cessando, mas Daniel estava pálido e seu pulso fraco.

— Preciso de uma via intravenosa — Soraya disse, a voz mais firme — Temos que reidratar ele e administrar anticonvulsivantes.

Soraya estudava o rosto pálido do amigo, tentando não deixar as lembranças dominarem seu lado médico.

Simone rapidamente organizou os suprimentos, enquanto os bombeiros estabilizavam o barco para facilitar o procedimento. Soraya, com mãos experientes mas trêmulas pelo nervosismo, inseriu a agulha e iniciou a infusão de fluidos. Simone preparou a medicação, passando-a para Soraya.

— Ele vai ficar bem — Simone disse calmamente, tentando transmitir confiança — Estamos fazendo tudo o que podemos.

Soraya assentiu, sentindo as lágrimas queimarem nos olhos.

— Obrigada, Simone. Eu... eu não sei o que faria sem sua ajuda agora. A outra tentou um pequeno sorriso, num raro momento de empatia entre as duas.
— Ele vai melhorar!

O tempo parecia parar enquanto as duas médicas trabalhavam em sincronia, focadas unicamente em estabilizar Daniel. Após alguns minutos, que pareceram uma eternidade, o pulso de Daniel começou a se fortalecer e sua respiração se estabilizou.

— Ele está reagindo — Soraya disse, aliviada —  Precisamos levá-lo para um local seguro e monitorá-lo.

Simone acenou, organizando a equipe para o transporte seguro de Daniel.

Anatomy - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora