Capítulo 11

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LEON GUTTOMERSEN

A sala estava estranhamente silenciosa, exceto pelos passos apressados do médico que acabava de chegar. Talita estava deitada na cama, a pele pálida, o corpo frágil. Tinha desmaiado assim que o bispo saiu, e todos nós estávamos preocupados. Lukas não parava de andar de um lado para o outro, sua expressão tensa. Fiz o meu segurança levar minha mãe para a sua casa, ela estava nervosa em relação à Talita.

O médico, um homem mais velho de poucas palavras, aproximou-se da cama e começou a examiná-la cuidadosamente. Ver Talita tão vulnerável era algo que eu nunca tinha imaginado. Ela sempre foi forte, mesmo quando sua vida parecia ter sido tirada de suas mãos naquele monastério. Mas agora, a fragilidade dela parecia me atravessar como uma lâmina.

— Ela vai ficar bem? — perguntei, incapaz de conter minha ansiedade.

O médico olhou de relance para mim antes de continuar com seu trabalho, como se soubesse que palavras não seriam suficientes naquele momento. Após alguns minutos, ele se levantou lentamente e limpou as mãos.

— Ela está grávida — anunciou, direto.

O impacto de suas palavras fez o ar sair dos meus pulmões. Senti o chão tremer sob meus pés. Lukas parou de andar e virou-se abruptamente para o médico.

— Grávida? — ele repetiu, incrédulo. Seus olhos estavam cheios de uma fúria silenciosa. — Como isso é possível?

A palavra ecoava em minha mente, e por um segundo, esperei que houvesse algum engano. Mas o olhar no rosto do médico não deixava dúvidas.

— No estado físico e emocional em que ela está... — o médico começou, hesitante. — Posso dizer com quase total certeza que isso não é fruto de uma relação consensual.

Eu vi o rosto de Lukas se transformar, sua raiva mal contida agora transbordava. Ele sabia. Eu sabia. Talita havia sido abusada dentro do monastério, aquele lugar que deveria ter sido um santuário para ela.

— Malditos... — Lukas murmurou, seu corpo tenso como uma corda prestes a se romper. — Quem fez isso com ela?

Me aproximei de Talita e toquei sua mão. Ela estava inconsciente, mas eu jurei naquele momento que faria qualquer coisa para protegê-la. Qualquer coisa.

Lukas olhou para mim, os olhos inflamados de raiva e dor, e eu soube que, embora estivéssemos em lados opostos em muitas coisas, naquele instante compartilhávamos o mesmo propósito.

— Eu vou encontrar quem fez isso — ele prometeu, sua voz carregada de ódio. — E eles vão pagar.

— Nós vamos protegê-la — completei, sentindo a tensão entre nós dois. O que era apenas um juramento para ela, começava a se confundir com os sentimentos que cresciam em mim.

Lukas me encarou por alguns segundos, e eu soube que ele também sentia algo por Talita. Aquele laço tênue entre irmãos estava se esticando cada vez mais.

Mas nada disso importava agora. O que importava era Talita. E eu não iria deixá-la sozinha nesse pesadelo. Eu a protegeria, custasse o que custasse. O clima na sala estava cada vez mais pesado. O silêncio era sufocante, e Lukas, com os punhos cerrados, sinalizou para que eu o seguisse para um canto mais afastado. Eu sabia que ele não conseguia ficar parado, não com toda essa raiva borbulhando dentro dele. E, francamente, eu também não conseguia.

— Isso aconteceu dentro do monastério? — Lukas perguntou, a voz baixa, mas carregada de tensão. — Diga que não foi lá, Leon. Diga que foi antes dela ser levada.

Eu sabia que ele estava se agarrando a qualquer esperança. Queria acreditar que aquele lugar, por mais corrompido que fosse, não teria cometido um crime tão horrendo contra Talita. Mas eu não podia mentir para ele.

— Lukas, eu... Não sei ao certo. Mas tudo aponta para isso. Ela estava lá, e o tempo que passou naquele lugar... — comecei, mas fui interrompido por passos rápidos e vozes no corredor. Thomas e Erik chegaram, ambos com expressões sérias e apressadas.

— Descobrimos algo sobre o monastério — anunciou Thomas, sem perder tempo, os olhos de Erik passando rapidamente de mim para Lukas e, finalmente, para Talita, ainda desmaiada ao lado do médico. Ele franziu a testa.

— O que aconteceu com ela? — Erik perguntou, preocupado.

Lukas fez um gesto impaciente com a mão.

— Não importa agora. Fale logo. O que vocês descobriram?

Thomas respirou fundo e foi direto ao ponto.

— Nos últimos cinco meses, vinte meninas foram levadas para o monastério na Alemanha. Sem justificativa aparente, sem registro. Pesquisamos os nomes delas, e nenhuma consta como estando realmente no monastério alemão.

Lukas e eu trocamos um olhar rápido. Isso não era coincidência.

— Provavelmente, é tráfico — continuou Erik, a voz sombria. — Essas meninas foram compradas por alguém, ou simplesmente... não têm mais serventia.

A raiva dentro de mim começou a queimar mais forte. Era óbvio o que estava acontecendo ali. Aquilo era muito maior do que qualquer um de nós havia imaginado. Eu senti uma onda de náusea ao pensar em Talita, vulnerável, aprisionada naquele lugar.

— O bispo... ele abusava dessas meninas, não abusava? — deixei escapar, minhas palavras saindo com mais força do que eu pretendia.

Erik imediatamente olhou para Talita, deitada, pálida e frágil.

— Ela também? — ele perguntou, a voz cheia de choque e indignação.

Lukas, com os olhos cheios de fúria contida, murmurou entre dentes:

— Ela está grávida.

O olhar de Erik se fixou em Lukas, confuso e alarmado. Ele deu um passo à frente, o tom acusatório.

— O que você fez com ela, Lukas?

— Não fui eu — Lukas rosnou, sua paciência se esvaindo rapidamente.

Erik virou-se para mim, os olhos buscando alguma confirmação. Eu balancei a cabeça, negando.

— Não foi nenhum de nós. Isso aconteceu dentro do monastério. E pelos flashbacks que ela teve... — engoli em seco, sentindo uma raiva avassaladora me dominar — Foi o bispo.

O silêncio que se seguiu foi como o prelúdio de uma tempestade. Lukas fechou os olhos por um breve momento, como se estivesse tentando controlar a fúria dentro dele, enquanto Erik encarava Talita, seu rosto uma máscara de incredulidade e revolta.

— Vamos destruir aquele lugar — Lukas murmurou, finalmente abrindo os olhos, cheios de determinação. — E todos que fizeram isso vão pagar com a vida.

Thomas e Erik assentiram, sérios. E eu soube, naquele instante, que não havia volta. O monastério, aquele lugar corrupto e cheio de segredos sombrios, havia selado seu destino.

E eu, não importa o que acontecesse, protegeria Talita até o fim.

Dominada por Eles - Série Milionários 03Onde histórias criam vida. Descubra agora