Capítulo 8

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LEON GUTTOMERSEN

Eu não sabia ao certo o que me esperava quando entrei na mansão de Lukas naquele dia. Marit caminhava ao meu lado, a postura sempre impecável, a expressão calma, mas os olhos carregados de um cansaço que só quem trabalha com Lukas poderia entender. Ela era boa no que fazia — sempre eficiente, sempre presente quando meu irmão precisava. No entanto, havia algo nela que me incomodava, e eu não sabia dizer exatamente o quê.

Quando cruzamos o imenso salão da mansão, percebi que algo estava errado. A atmosfera era pesada, o silêncio mais denso do que o habitual. Meus olhos imediatamente começaram a buscar Talita, como se, de alguma forma, eu soubesse que ela era o epicentro daquela tensão. E eu estava certo.

A encontrei em um canto da sala, o corpo encolhido, abraçando os joelhos de um jeito que partiu meu coração. O pânico em seus olhos era inconfundível. Seu rosto estava pálido, os lábios trêmulos, e os olhos, perdidos em um ponto distante, como se estivesse revivendo algo que a destruía por dentro. Ela não estava aqui, naquele momento. Não realmente.

— Talita? — minha voz saiu baixa, suave, mas ela não respondeu. Apenas um tremor percorreu seu corpo. Dei um passo à frente, sentindo minha preocupação crescer.

Marit parou ao meu lado, observando a cena em silêncio. Havia uma mistura de curiosidade e preocupação em seus olhos, mas ela não fez menção de se aproximar. Lukas apareceu logo atrás dela, o rosto endurecido, a mandíbula tensa. Ele estava lutando com algo dentro de si, eu sabia disso. A maneira como ele olhava para Talita, como se cada parte dele quisesse ir até ela, mas ao mesmo tempo algo o segurasse.

Mas eu não podia hesitar. Ela precisava de mim agora, não de alguém que lutava consigo mesmo.

— Talita... — me abaixei ao lado dela, tentando capturar seu olhar. Toquei suavemente seu braço, mas ela se encolheu, como se meu toque fosse doloroso. Aquilo me atingiu mais do que eu esperava. — Está tudo bem. Eu estou aqui. Você está segura.

Ela soltou um soluço fraco, os olhos ainda fixos no vazio, mas algo mudou em sua postura. Era como se estivesse tentando voltar à realidade, tentando se segurar em algo que a tirasse daquele pesadelo que estava revivendo.

— Leon... — ela murmurou, a voz tão baixa que mal pude ouvir. Mas meu coração apertou ao escutar meu nome. A maneira como ela me chamava... desesperada, vulnerável.

— Estou aqui — repeti, minha voz suave, quase um sussurro. Me aproximei mais, puxando-a delicadamente para meus braços. No começo, ela resistiu, mas então algo dentro dela cedeu, e ela se agarrou a mim, tremendo violentamente. — Você está segura agora. Ninguém vai te machucar.

Ela enterrou o rosto em meu peito, os soluços sacudindo seu corpo. Meu coração batia pesado contra minhas costelas. Eu sabia que ela estava começando a se lembrar... dos abusos, do que aquele maldito bispo havia feito com ela e com as outras meninas no monastério. Aqueles flashbacks deviam estar a despedaçando por dentro.

Enquanto eu a segurava, senti o olhar de Lukas sobre nós. Seus olhos estavam cheios de algo que eu não conseguia definir — raiva, ciúme, talvez até culpa. Ele queria estar aqui, eu podia ver isso, mas algo o impedia. Algo entre a sua própria possessividade e a sensação de que ele tinha falhado com ela de alguma forma.

Talita soluçou mais uma vez, e eu acariciei suavemente seu cabelo, tentando acalmá-la. Cada fibra do meu ser queria protegê-la, queria garantir que nada de ruim aconteceria com ela novamente. Mas eu sabia que não era tão simples assim. Ela estava dividida, sendo puxada por todos os lados. Por mim, por Lukas, pelos fantasmas do passado.

— Está tudo bem, Talita — murmurei contra seu cabelo, sentindo o cheiro suave que sempre me deixava mais leve. — Eu estou aqui, e nada vai te tirar desse lugar seguro. Você está comigo agora.

Ela levantou o rosto, os olhos vermelhos e inchados, mas havia uma luz de reconhecimento ali agora. Ela estava voltando, lentamente, para o presente. Para mim.

Mas então, algo mudou em sua expressão. Seu olhar se desviou para Marit, que ainda estava ali, silenciosa, observando tudo de perto. Eu vi o desconforto passar pelos olhos de Talita, uma insegurança que eu sabia exatamente de onde vinha.

— E... — ela sussurrou, quase como uma acusação. — O que ela está fazendo aqui?

Eu troquei um olhar rápido com Lukas, que ainda permanecia imóvel, como se lutasse para controlar suas emoções. Ele queria falar, eu sabia disso. Queria explicar por que Marit estava sempre por perto, especialmente agora. Mas o silêncio dele apenas aumentava a confusão de Talita.

— Ela só está aqui para ajudar — respondi, tentando manter a calma na minha voz. — Ela faz parte do time de Lukas, é apenas isso.

Talita olhou de mim para Lukas, depois para Marit, e voltou a mim, a dúvida evidente em seu rosto. Ela não disse mais nada, mas eu sabia o que estava pensando. Havia uma parte dela que estava começando a confiar em mim, mas ao mesmo tempo, algo nela estava se rompendo com a presença constante de Marit e o jeito que Lukas observava tudo de longe.

— Eu... não sei... — Talita murmurou, afastando-se levemente de mim. — Vocês dois... eu me sinto tão... confusa. Vocês me puxam em direções diferentes.

Aquelas palavras me atingiram como um soco. Eu sabia que ela estava dividida, mas ouvir aquilo em voz alta... doía. Porque, no fundo, eu queria que ela confiasse em mim. Queria ser aquele que a tiraria da escuridão.

Lukas deu um passo à frente, finalmente se aproximando, e eu vi a luta interna que ele travava. Ele não era o tipo de homem que expressava seus sentimentos facilmente, mas eu sabia o que ele estava sentindo. Ele queria estar no meu lugar, segurando Talita, confortando-a. Mas ele também era o chefe, o líder, e carregar essa responsabilidade muitas vezes o impedia de agir de forma que seu coração desejava.

— Talita, nós só queremos te proteger — Lukas disse, sua voz mais suave do que o habitual. — Mas eu entendo que isso deve ser difícil. Eu... — Ele parou, lutando para encontrar as palavras certas. — Eu sei que às vezes parece que estamos te empurrando em direções diferentes, mas você precisa saber que nós estamos juntos nisso. Nós dois.

Talita olhou para ele, depois para mim, e vi as lágrimas voltarem aos seus olhos. Ela estava confusa, sim, mas também estava começando a perceber algo. Algo que eu já sabia fazia tempo: ela estava no centro de tudo. No centro dos meus sentimentos e dos de Lukas. E isso a deixava ainda mais perdida.

Eu segurei sua mão, sentindo o leve tremor ainda ali. Eu não iria desistir de Talita, não importava o que viesse. E sabia que Lukas também não.

Dominada por Eles - Série Milionários 03Onde histórias criam vida. Descubra agora