Capitulo 3

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TALITA NARSEN

Acordei com uma dor de cabeça lancinante, que parecia pulsar em sincronia com meu coração. Cada movimento doía, como se meu corpo estivesse cheio de hematomas invisíveis. Esforcei-me para abrir os olhos e ver onde estava. Reconheci imediatamente o teto familiar do meu quarto no monastério. Ao meu lado, Hulda estava sentada, segurando um pequeno copo com remédios.

— Bom dia, Talita – disse ela suavemente, percebendo meu desconforto – Aqui, tome isso. Vai ajudar com a dor.

Aceitei os remédios com um aceno agradecido, engolindo-os rapidamente. O gosto amargo ficou na minha boca, mas logo senti um alívio começando a tomar conta do meu corpo.

— Você também está se sentindo mal? –perguntei, a voz ainda fraca.

Hulda suspirou, esfregando as têmporas.

— Sim, toda vez que temos a oração na capela privada do bispo, voltamos assim. Ele diz que é a 'unção', mas eu acho que tem algo mais acontecendo.

Concordei com a cabeça, tentando lembrar da noite anterior. As orações na capela privada sempre me deixavam exausta, mas desta vez parecia pior. Desde que cheguei aqui, vi as meninas mais velhas sendo levadas para a capela do bispo pelo
menos a cada quinze dias, elas passavam a noite lá em oração, mas sempre acabavam apagando e acordando com dores.

Comigo e com Hulda não foi diferente. Quando completamos dezoito anos e não tínhamos sido escolhidas ainda por um homem ou família, começamos a ser levadas para essa capela. Dizendo o bispo que adormecemos por conta dessa unção que recai sobre nós, e que a espiritualidade é assim e não devíamos questionar a vontade do superior.

— Sempre acabo dormindo durante a unção –murmurei – E acordo assim, como se tivesse sido atropelada por um trem. Mas deve ser somente a paz nos tomando, né? O bispo não faria nada de errado.

Hulda assentiu, o olhar pensativo.

— Eu também acho. É estranho, não é? Mas não temos escolha. Faz parte da nossa preparação.

A palavra "preparação" ecoou na minha mente. O monastério não era apenas um refúgio espiritual, mas também um lugar onde nos preparávamos para um destino específico. Eu sabia que isso significava estar pronta para uma vida na máfia norueguesa, servindo aos interesses dos Guttomersen.

Fui tirada dos meus pensamentos pela chegada da Madre Helena. Ela entrou silenciosamente, mas sua presença era sempre notada.

— Talita – disse ela, sua voz firme, mas gentil – Hoje à tarde, os Guttomersen virão buscá-la. Prepare-se para sair.

Senti um frio na espinha. O momento que eu sabia que viria estava finalmente aqui.

— Sim, Madre Helena – respondi, tentando esconder meu nervosismo.

Madre Helena me olhou com um olhar de compreensão.

— Você foi escolhida por suas qualidades especiais, Talita. Esta é a sua oportunidade de mostrar o que aprendeu aqui. Não nos decepcione. – condordei, mas quando ela saiu, virei-me para Hulda, que ainda estava ao meu lado.

— Vou sentir falta de você – disse, a voz embargada pela emoção. – Hulda sorriu tristemente.

— E eu de você, minha amiga. Mas sei que você vai brilhar lá fora.

Fiquei em silêncio por um momento, pensando no que estava por vir. Abandonada ainda bebê, o monastério se tornou meu lar, e as irmãs, minha família. Mas sempre soube que estava sendo preparada para algo maior, algo que exigiria toda a força e resiliência que eu tinha.

Dominada por Eles - Série Milionários 03Onde histórias criam vida. Descubra agora