Capitulo 6

55 5 4
                                    

TALITA NARSEN

Minha cabeça latejava, e os pequenos flashes de memória começavam a me consumir. Era como se um véu fino estivesse caindo, revelando fragmentos do que eu acreditava ter sido um lugar sagrado. Mas o monastério... não era o que eu pensei que fosse. Algo estava errado. Algo sempre esteve errado.

Sentei-me na beira da cama, os dedos trêmulos apertando as cobertas. Minha respiração era curta, e meu coração martelava contra meu peito. Fechei os olhos, tentando afastar as imagens que surgiam – um corredor escuro, a figura sombria de um homem que eu não conseguia reconhecer. O cheiro de incenso misturado com o aroma metálico de... algo que não conseguia nomear.

Eu me forcei a respirar fundo, a tentar voltar ao presente. Estava na casa de Lukas. Estava segura. Pelo menos era o que eu continuava repetindo para mim mesma. Mas as memórias... não me deixavam em paz.

— Talita? — a voz suave de Leon me tirou do turbilhão da minha mente. Levantei a cabeça e o encontrei na porta, os olhos fixos em mim com uma preocupação evidente. Ele sempre conseguia me acalmar, de uma forma que eu ainda não entendia completamente.

— Está tudo bem? — ele se aproximou, os passos lentos e cuidadosos, como se eu fosse quebrar a qualquer momento. Parte de mim achava que era exatamente isso que ia acontecer.

— Sim... eu só... — tentei encontrar as palavras, mas como eu poderia explicar o que nem eu mesma entendia?

Leon se sentou ao meu lado na cama, seu calor me cercando imediatamente. Ele tinha esse jeito de se aproximar, sem pressa, sem pressão, me deixando respirar, me deixando sentir. Meus ombros relaxaram levemente quando ele estendeu a mão e tocou meu braço de leve, o toque quente e reconfortante.

— Se quiser falar sobre isso, estou aqui — ele disse, sua voz quase um sussurro.

Eu não sabia por onde começar. Como explicar que minha mente estava se desfazendo em pedaços que não se encaixavam? Que cada vez que eu tentava lembrar mais do meu tempo no monastério, mais medo eu sentia?

— Eu... estou tendo lapsos de memória — admiti, finalmente, olhando para ele. — Coisas que eu não lembro direito. Coisas que não fazem sentido.

Leon me observou em silêncio, como sempre fazia quando estava tentando entender, sem me apressar. Isso me fazia sentir segura, mais aberta a falar.

— São flashes, pedaços de lembranças — continuei. — Do monastério. Não... não são boas.

Ele ficou quieto por um momento, o olhar firme, mas seus olhos suavizaram quando ele se inclinou um pouco mais para perto.

— Talita, o que quer que tenha acontecido lá... não pode te machucar mais. Você está aqui agora — ele disse, e embora suas palavras fossem confortantes, eu sabia que não era tão simples. Porque essas memórias não eram apenas lembranças. Elas estavam se tornando parte de mim, moldando quem eu era agora, mesmo que eu não quisesse.

Meus olhos caíram para nossas mãos, que estavam perigosamente próximas, quase se tocando. Leon tinha essa maneira de se aproximar de mim, de estar presente, e eu me sentia envolvida por ele de uma forma que eu nunca imaginei. Ele era o oposto de Lukas – Leon era calor, conforto, enquanto Lukas... Lukas era algo mais escuro, mais profundo. E, ao mesmo tempo, igualmente irresistível.

— E Lukas? — a pergunta saiu antes que eu pudesse parar. — Ele sabe?

Leon sorriu de leve, mas havia algo nos olhos dele, algo que eu não consegui interpretar.

— Lukas... é complicado. Ele sabe o suficiente. — Leon ficou em silêncio por um momento, e eu senti a tensão crescer entre nós. — Mas ele está preocupado com você, mesmo que não saiba como mostrar isso.

O nome de Lukas soou pesado na sala. Mesmo quando ele não estava presente, era como se a presença dele pairasse sobre tudo. Não importava o quanto Leon estivesse ao meu lado, Lukas sempre estava por perto, observando, controlando de longe.

— Ele está com ciúmes, não está? — eu arrisquei, quase arrependida de ter dito isso em voz alta.

Leon soltou um suspiro curto, algo entre uma risada e uma confissão.

— Lukas é... complicado — repetiu, o olhar se perdendo por um segundo. — Ele não gosta de ver outra pessoa se aproximar de você. Especialmente eu.

Meu coração disparou. Eu sabia que Leon estava dizendo a verdade. Eu via o jeito como Lukas me olhava quando Leon estava por perto. Havia algo sombrio e possessivo nos olhos dele, mas também algo mais... profundo. Como se, de alguma forma, ele estivesse lutando contra si mesmo. Contra os próprios sentimentos.

— E você? — minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia, quase um sussurro.

Leon me encarou, seus olhos castanhos me prendendo no lugar. Ele não respondeu imediatamente, o silêncio entre nós ficando cada vez mais pesado. Então, ele se inclinou, diminuindo a distância entre nós.

— Eu? — ele repetiu, com um sorriso suave, antes de sua mão finalmente encontrar a minha. — Eu... acho que você já sabe a resposta.

Meu coração pulou no peito, e eu senti o calor subir pelo meu corpo. Havia algo tão certo no toque de Leon, tão natural. Mas, ao mesmo tempo, senti o peso de Lukas, como uma sombra que não podia ignorar.

Estava dividida. Entre dois homens que, de formas completamente diferentes, me faziam sentir viva. Lukas com sua intensidade esmagadora, que me puxava para algo que eu não sabia se podia controlar. E Leon com sua calma, seu cuidado, que me fazia querer confiar, me entregar.

— Talita, eu sei que você está confusa — Leon disse, sua voz quase um sussurro agora. — E eu não quero te pressionar a nada. Mas, você não precisa escolher... não agora. Não se force.

Meu coração apertou com suas palavras. A escolha parecia inevitável, mas talvez ele estivesse certo. Talvez eu não precisasse decidir nada. Pelo menos não ainda.

O som de passos pelo corredor fez minha respiração parar. Levantei os olhos na direção da porta, sabendo, sem precisar ver, que era Lukas. Ele estava ali, observando de longe, como sempre. A tensão no ar ficou mais pesada, e eu soube que, de alguma forma, essa guerra silenciosa entre os dois irmãos, entre nós três, só estava começando.

Eu não sabia como lidar com isso. Mas uma coisa era certa: eu não queria que nenhum deles me deixasse.

E essa, talvez, fosse minha maior fraqueza.

---

Dominada por Eles - Série Milionários 03Onde histórias criam vida. Descubra agora