24 - medo do novo

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AYLA NEVES

Entro na cozinha e vejo Rodrigues já acordada tomando café da manhã vestida com o uniforme do colégio. Passo por Rodrigues e vou direto para o armário da cozinha pegando uma xícara.

Rodrigues: bom dia, né?! - diz com a voz um pouco irritada.

Depois que pego minha xícara no armário, vou até a mesa de cabeça baixa e coloco café na xícara, pego um biscoito salgado que estava em cima da mesa e vou para a sala sem falar nada.

Rodrigues: Jae então - escuto ela soltando uma risadinha forçada antes de falar a frase.

Faz uma semana que meu pai apareceu aqui em casa. Depois daquele dia, ele sumiu totalmente, tentei até conversar com minha mãe, mas assim que ela me viu na porta de casa, fechou a porta na minha cara.

Estou evitando falar com Rodrigues um pouco, não sei o que é na real, parece que aconteceu tudo rápido demais. Odeio Parecer que sou um peso para alguém, sai da casa dos meus pais para não ficar sendo um peso, mas acabei depositando esse peso sobre outra pessoa, uma adolescente.

Não que eu esteja evitando a Rodrigues, eu tento falar com ela e as palavras parecem não sair, sinto vergonha de tudo. Parecemos duas que não pensam em consequências, saímos de casa sem pensar duas vezes sendo que só temos 17 anos, nem atingimos a maior idade ainda.

Talvez tenha sido tudo rápido demais, foi tudo tão depressa que quando vimos, já estávamos aqui onde estamos. Não que eu esteja evitando a Rodrigues, mas eu sinto vergonha de tudo que aconteceu nos últimos dias, me sinto inferior a ela.

Sinto que Rodrigues é bem mais " adulta" do que eu. Confesso que Rodrigues sempre foi responsável, não tinha pensado nisso antes de conviver diariamente com ela, na verdade eu nem tive tempo para pensar...

É tudo tão novo e tão assustador. Será que ela não tem medo do novo?

Rodrigues já me viu chorar mais que o necessário durante esses dias, odeio me sentir fraca e principalmente na frente de alguém, é como se eu fosse uma massinha de modelar e a pessoa pudesse me esmagar a qualquer momento e que eu fosse se desmanchando aos poucos. Ok, claramente não queria ser uma massinha de modelar, por mais que elas sejam cheirosas eu não iria querer uma pessoa tocando e me desmanchando a qualquer momento.

Tô sendo idiota por ignorar a Rodrigues por uma semana?

Sei lá, mas noa tô bem, tô tentando evitar qualquer tipo de discussão ou conversas desconfortável. Termina o meu café da manhã e vou direto para o quarto terminar de me arrumar para ir para a escola. Que saco,eu odeio aquela escola, mas não tem muito o que se fazer.

Levo um susto assim que tô descendo as escadas e escuto um estrondo na porta, provavelmente alguém já saiu de casa sem mim. Fecha os olhos e respiro fundo tentando ignorar tudo ao meu redor, uma hora eu vou conseguir conversar com ela, ou não...

Mayara: até que enfim, gatinha - aparece ao meu lado e coloca o braço ao redor do meu pescoço quase me enforcando, estou ficando sufocada com tanto aperto - faltou quase a semana toda, pensei que só viria na próxima semana.

Dantas: pode crê, tu tá faltando mais que eu garota - Dantas aparece ao lado da sua namorada - manda o papo logo, Rodrigues está toda estranha.

Mayara: iiih, brigaram de novo? - Ok, talvez isso tinha virado uma rotina novamente.

Ayla: na verdade, dessa vez nem briga teve - solto um suspiro - mas logo, logo a gente está bem.

Dantas: pode crê, cês resolvem tudo na base da conversa, já a Mayara quer resolver tudo na porrada - nega com a cabeça enquanto fala.

Mayara: mas tem gente que pede né - olha a
seria para ele - vem, vamos logo para aula, já deve ter começado o primeiro horário.

O barulho do sinal da sua escola é irritant mas finalmente tá na hora do intervalo. Maiara veio perguntar se eu ia para o refeitório hoje, eu disse que sim, mas mandei ela ir na frente e disse que já, já eu tô indo.

Pega o meu celular e a minha garrafinha e saiu da sala caminhando em direção ao banheiro da escola, não sou muito fã desse banheiro daqui não, parece que eles não limpam a sei lá, um ano.

Depois de ter usado o banheiro, saiu o dele e vou em direção a um dos bebedouros da escola que fica no corredor perto do banheiro, assim que aperto o botão do bebedouro a água parece rapidamente meio que "pulando' para cima, tenho a impressão que a água desses tipos de bebedouro são bem mais gostosas e geladas.

Sinto que eu estou sendo observada, mas não ligo muito e aproveito a água, escuto passos se aproximando e uma voz que eu conheço muito bem de quem é, enquanto ainda estou bebendo água olho para o lado e vejo o Rodrigues caminhando e falando junto com... AMANDA?!?!

Pisca os olhos várias vezes rapidamente tentando processar a imagem que eu estou vendo. Meu Deus, será que agora eu tô tendo alucinações? Será que eu preciso tomar remédio? será que eu tenho realmente ansiedade? mas a ansiedade faz as pessoas verem coisas. Aí meu Deus, acho que com certeza eu estou louca,  isso tem que ser uma alucinação, por favor, que seja uma alucinação. pessoas pedem para ter alucinações?

Eu claramente estou ficando louca.

Amanda: então tá, a gente ainda vai se encontrar mais tarde? - que seja alucinação... Que seja alucinação... Que seja alucinação...

Rodrigues: claro, a gente se fala - não é alucinação! não é alucinação! não é alucinação!

Ayla: mas que merda! - abra os olhos notando que eu falei um pouquinho alto demais.

Alguém procura um buraco para enfiar minha cabeça exatamente agora.

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