Capítulo 33 - Casamento.

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Aurora narrando:

Enquanto Ethan reformula suas palavras, ele retira a gravata com um movimento decidido e desabotoa a blusa branca polo até a metade, livrando-se da jaqueta do terno como se fosse me informar de algo pesado.

- Há alguns anos... - Faz uma pausa.
- Frequentava a Purple Hell com mais frequência do que consigo recordar, e foi lá que conheci Dafne Rossi, a da transação que você viu. - Conclui hesitante.

Estou disposta a ouvir, desejando fervorosamente estar enganada. No entanto, mesmo diante de uma explicação que poderia defendê-lo, o assunto continua doendo profundamente.

- Você enviou dinheiro para ela, oitenta mil euros. - Comento.
- Pagou por algum serviço?

Ethan ergue as sobrancelhas.
- Não. De forma alguma. - Responde com convicção.

Solto um suspiro de alívio, mas mantenho a mente focada no que ainda poderia está por vir.

- Eu sei que você deve ter pensado nisso no mesmo instante e, até faz sentido a sua dedução, mas não foi isso. - Ethan acrescenta.

- Mas... Essa Dafne era tão cara assim antes? - Pergunto, com um pouco da amargura infiltrada nas palavras.

- Não. - Responde curto, como se decidisse cortar esse detalhe pela raiz.
- Enfim...
- Nós nos aproximamos, mas não ao ponto de haver sentimentos, pelo menos não da minha parte. Dafne sempre foi uma opção quando estive no Reino Unido. - Conclui cauteloso.

Engulo em seco, tentando acalmar a dor que se aloja em meu peito, enquanto cerro os dentes.

- Está tudo bem, até agora? - Ethan pergunta, buscando entender como estou lidando.

Balanço a cabeça em sinal afirmativo. Apesar do desconforto que me invade, sinto a urgência de chegar ao desfecho dessa conversa.

- Ok... Por fim, ela engravidou. - Solta.

Um ar gélido se instala em meu peito. Não consigo imaginar o que pode ser pior: a traição que me deixaria apenas com o divórcio, ou a possibilidade de ele ter outra família.

- Como isso aconteceu? - Disparo.

Em silêncio, Ethan se mantém fixado em meu rosto, como se não ousasse responder ao óbvio.

- Quer dizer... - Tento me expressar melhor.
- As pessoas costumam se proteger com garotas de programa.

- Sim, eu sei. - Ele fecha os olhos.
- Pode me julgar por isso também. Não tenho como justificar minha falta de responsabilidade da época. - Conclui, visivelmente constrangido.

Neste instante, a lembrança do ardor de sua mordida ainda persiste em minha coxa, e eu acaricio o local enquanto tento assimilar tudo. Ethan percebe meu gesto e toca suavemente a mesma área, compartilhando aquele momento íntimo como se não tivéssemos tratando de um choque.
- Então, você foi ver a criança? - Retorno ao assunto.

- Criança? Não. Não há criança. - Diz.
- Dafne me contou sobre a gravidez na época. Fez um exame e já sabia o sexo. Eu sugeri um aborto, disse que estaria com ela durante o processo e que uma criança não deveria vir sob tais circunstâncias. Dafne acreditou que havia alguma possibilidade de termos um relacionamento sólido depois. - Completa.

- Ela acreditou que você estivesse apaixonado. - Deduzo, fazendo-o concordar.

- O procedimento foi realizado, mas quando ela acordou, eu já estava na Alemanha e nunca mais a vi. - Finaliza de uma vez.

Ethan desce os olhos e passeia seus dedos suavemente em minhas pernas, enquanto solta o ar do peito, como se tivesse se livrado de um peso.

- Por que não me contou isso antes? - Pergunto, buscando seu olhar.

Um Descaso II - A Marquesa.Onde histórias criam vida. Descubra agora