Os Lençóis da Tempestade

Capítulo 7: Manhã Seguinte

O sol da manhã ainda não tinha completamente rompido o horizonte quando Isabela abriu os olhos. O quarto estava imerso em uma suave penumbra, com as primeiras luzes do amanhecer lentamente preenchendo o espaço. O som da chuva havia cessado, deixando para trás um silêncio profundo que envolvia cada canto do ambiente. O ar estava fresco, e as cortinas dançavam levemente com a brisa suave que entrava pela varanda aberta.

Isabela piscou algumas vezes, ajustando a visão à luz crescente. Levou alguns segundos para processar onde estava, e, mais importante, com quem estava. Sentiu o calor de um corpo ao lado do seu e virou a cabeça lentamente, apenas para confirmar o que já sabia.

Rafael estava deitado ao seu lado, com os cabelos desalinhados e a expressão relaxada, completamente entregue ao sono. Seus traços, que geralmente carregavam uma intensidade implacável, agora pareciam suaves, quase vulneráveis. Era uma imagem que Isabela nunca esperava ver, mas que a tocava de uma maneira inesperada. Ali, ao seu lado, o homem que parecia ter o mundo nas mãos dormia tranquilo, como se todas as barreiras que ele erguia durante o dia houvessem caído.

Por alguns segundos, Isabela permitiu-se apenas observá-lo, sentindo o coração bater mais forte ao relembrar os momentos da noite anterior. A intimidade que compartilharam, a conexão que parecia muito mais profunda do que apenas física, ainda reverberava dentro dela. Era como se, de alguma forma, tudo tivesse mudado, e, ao mesmo tempo, nada estivesse diferente.

No entanto, enquanto olhava para Rafael, uma onda de realidade começou a se formar em sua mente, empurrando para longe a paz momentânea. O que eu fiz? A pergunta começou a ressoar como um sino em sua cabeça, trazendo consigo uma enxurrada de preocupações que ela havia ignorado na noite anterior.

Com cuidado para não acordá-lo, Isabela se levantou da cama, sentindo o frio do chão de mármore sob seus pés. Ela pegou o robe que estava jogado na poltrona ao lado e o vestiu rapidamente, apertando-o firmemente ao redor do corpo, como se o tecido pudesse protegê-la das emoções contraditórias que agora a invadiam.

Ela caminhou até a varanda, o ar fresco batendo em seu rosto enquanto observava o mar calmo à distância. A tempestade havia passado, deixando o mundo ao seu redor tranquilo, mas dentro dela, uma tempestade ainda rugia. A sensação de ter cruzado uma linha inegável a enchia de inquietação.

Na noite anterior, tudo parecia certo. Rafael, a forma como ele a tocava, a maneira como a fazia sentir-se viva, como se todas as suas defesas fossem desnecessárias quando estava com ele. No entanto, agora, sob a luz do dia, as consequências desse envolvimento começaram a se formar em sua mente. Eles ainda eram rivais no mundo dos negócios. Suas empresas competiam diretamente. E, mais importante, eles tinham uma reputação a proteger.

Isso não deveria ter acontecido. A frase ecoava repetidamente em sua mente, mas, ao mesmo tempo, ela sabia que não poderia mudar o que já estava feito. Mais do que isso, Isabela não sabia se queria mudar. Mesmo com todas as complicações que certamente viriam, ela não conseguia negar o que sentia. Rafael não era apenas um homem irresistível. Ele a desafiava, a entendia de uma maneira que ninguém mais conseguia.

No entanto, essa realidade não mudava o fato de que tudo ficaria ainda mais complicado. O que isso significava para sua carreira? Para a competição entre suas empresas? Ela poderia manter o controle dessa situação ou estava prestes a perder tudo pelo que havia trabalhado tão duro?

Seus pensamentos foram interrompidos pelo som suave de passos atrás dela. Virando-se lentamente, viu Rafael parado na porta da varanda, os cabelos ainda bagunçados pelo sono, mas seus olhos agora despertos e focados nela. Ele não disse nada imediatamente, apenas a observou, como se estivesse tentando ler seus pensamentos, assim como ela tentava entender os seus.

"Bom dia," ele finalmente disse, a voz rouca do sono, mas carregada com a familiar confiança que ela conhecia bem.

Isabela forçou um pequeno sorriso. "Bom dia."

Ele caminhou até ela, parando ao seu lado na varanda, o silêncio entre eles pesado com o não-dito. Por um momento, eles apenas ficaram ali, observando o mar juntos, como se ambos soubessem que a tranquilidade daquele momento logo seria interrompida pela realidade que se aproximava.

"Você está bem?" Rafael perguntou, virando-se para olhá-la diretamente.

Ela hesitou por um segundo, suas palavras presas entre o que queria dizer e o que achava que deveria dizer. "Estou... tentando entender o que acontece agora."

Rafael assentiu, como se esperasse essa resposta. "Eu também." Ele estendeu a mão, pegando suavemente a dela, entrelaçando os dedos. "Mas sei que não me arrependo do que aconteceu."

Isabela sentiu o toque dele enviar uma onda de calor por seu corpo, mas não conseguiu se livrar da sensação de que algo mais profundo estava em jogo. Ela respirou fundo, decidindo ser honesta. "Eu não me arrependo também... mas as coisas vão ficar complicadas, Rafael. Nós dois sabemos disso."

Ele ficou em silêncio por um momento, seus olhos fixos nos dela. "Sim, vão. Mas isso não significa que não valha a pena."

Ela o observou com cuidado, tentando encontrar alguma pista sobre o que ele realmente pensava. Rafael sempre fora enigmático, difícil de ler, mas havia uma sinceridade crua em suas palavras que a tocava profundamente.

"Eu só não sei se estou pronta para lidar com isso," ela admitiu, a voz baixa, quase hesitante. "Nós dois temos muito em jogo. Nossas empresas, nossas carreiras... Se alguém descobrir sobre nós, isso pode destruir tudo pelo que trabalhamos."

Rafael soltou um suspiro, mas não se afastou. "Eu entendo, Isabela. E você tem razão. Isso vai ser complicado. Mas, de alguma forma, acho que nós dois sabíamos que isso ia acontecer desde o momento em que nos encontramos."

Ela olhou para ele, surpresa pela franqueza em suas palavras. Desde o momento em que nos encontramos. A verdade daquilo a atingiu com força. Mesmo que ela tivesse tentado resistir, desde o primeiro olhar trocado, havia algo inevitável entre eles. Algo que nenhum dos dois podia controlar.

"Eu não estou pedindo para você arriscar tudo de uma vez," Rafael continuou, sua voz suave, mas firme. "Mas estou pedindo para que não desista antes de tentarmos entender o que isso realmente é."

Isabela sentiu uma onda de emoções a atravessar. Ele estava certo, de alguma forma. O que quer que houvesse entre eles, ela sabia que era mais do que um simples envolvimento passageiro. Havia algo profundo ali, algo que ela não podia ignorar, por mais que tentasse.

Ela respirou fundo, tentando acalmar sua mente. "Eu não sei se tenho todas as respostas agora," ela admitiu. "Mas também sei que não quero fingir que nada aconteceu."

Rafael sorriu suavemente, e ela sentiu o alívio em sua expressão. "Isso é tudo que eu precisava ouvir."

Por um momento, eles ficaram em silêncio novamente, o som suave das ondas preenchendo o espaço entre eles. Isabela sentiu uma estranha sensação de paz ao lado de Rafael, algo que ela raramente sentia com qualquer outra pessoa. Ele não apenas a atraía; ele a desafiava, a fazia querer ser mais, ir além de seus próprios limites.

Mas, ao mesmo tempo, a realidade de suas vidas ainda estava ali, esperando para ser enfrentada.

"Eu preciso ir," Rafael disse depois de um tempo, sua voz carregada de relutância. "Tenho uma reunião em algumas horas, e não quero que ninguém suspeite de nada."

Isabela assentiu, sabendo que ele estava certo. "Sim, é melhor assim."

Ele se inclinou para ela, seus lábios encontrando os dela em um beijo suave, quase uma promessa silenciosa de que aquilo ainda não havia acabado. "Nós vamos descobrir uma maneira," ele sussurrou contra seus lábios antes de se afastar.

Ela o observou sair do quarto, o som da porta se fechando suavemente atrás dele. E, pela primeira vez naquela manhã, Isabela sentiu que, por mais complicada que fosse a situação, ela estava disposta a encarar o que viesse.

No fundo, sabia que a relação entre eles estava longe de ser simples. As consequências, os desafios, as perguntas não respondidas – tudo isso ainda estava à espreita. Mas, sob a luz da manhã, enquanto o sol finalmente surgia no horizonte, Isabela sentiu algo novo nascer dentro dela.

Talvez complicar tudo fosse exatamente o que ela precisava para descobrir o que realmente importava.