O segundo dia da conferência amanheceu com uma leve neblina cobrindo o horizonte, dando ao resort à beira-mar um tom cinza que refletia o estado de espírito de Isabela. Depois de uma noite de sono agitado, cheia de pensamentos intrusivos sobre Rafael Ferraz, ela acordou com a mente turva, se perguntando se o olhar trocado na noite anterior realmente tinha acontecido ou se fora um devaneio causado pela exaustão.
Ela se preparou com a eficiência de quem já estava acostumada com a rotina corporativa: um terno bem alinhado, sapatos discretos, maquiagem mínima, mas suficiente para acentuar os traços de uma mulher segura de si. No entanto, por trás dessa fachada de confiança, sua mente ainda fervilhava de dúvidas. Por que aquele homem, especificamente, conseguia desestabilizá-la tão facilmente? O fato de ele ser o CEO de uma empresa concorrente só complicava ainda mais a situação.
Durante o café da manhã, Isabela se sentou em uma mesa perto da janela, observando o movimento dos outros participantes. Alguns estavam animados, discutindo os eventos do dia anterior, enquanto outros pareciam tão desgastados quanto ela. Ela tentou se distrair com a vista do mar, mas a conversa de Clara, que estava ao seu lado, continuava a trazer Rafael de volta à sua mente.
"Ele é um charme, não é?" Clara comentou, sem tirar os olhos do celular, provavelmente respondendo a algum e-mail urgente.
Isabela suspirou, mexendo distraidamente no café com uma colher. "Quem?"
Clara olhou para ela com um sorriso malicioso. "Quem você acha? Rafael Ferraz. Vi você observando ele ontem. Metade das mulheres aqui não consegue tirar os olhos dele."
"Ele é o CEO de uma empresa rival, Clara. Isso não pode ser uma boa ideia, de qualquer maneira que você olhe para a situação."
Clara deu uma risada curta. "Você acha que isso vai impedi-lo? Homens como ele adoram um desafio. E você, Isabela, está claramente em seu radar."
Aquelas palavras ecoaram na mente de Isabela enquanto ela terminava o café e se preparava para a primeira palestra do dia. Está no radar dele? Era difícil acreditar nisso. Sim, o olhar de Rafael para ela na noite anterior havia sido intenso, mas ele provavelmente era assim com todas as mulheres. Homens como ele, poderosos e charmosos, sabiam como manipular olhares e gestos para obter o que queriam.
Ela se esforçou para afastar esses pensamentos enquanto se dirigia à sala principal do evento. Mais uma vez, escolheu um assento discreto ao fundo. O palestrante da manhã era um especialista em estratégias de inovação, alguém que Isabela já conhecia de outras conferências. Normalmente, ela estaria completamente focada no conteúdo, absorvendo cada palavra e fazendo anotações. Mas hoje, sua mente estava em outro lugar.
Mal o palestrante havia começado, e ela já sentiu o ambiente mudar.
Rafael entrou na sala de maneira quase imperceptível, mas sua presença imediatamente dominou o espaço. Ele não fez barulho ao caminhar até o assento na fileira da frente, mas todos os olhos, incluindo os de Isabela, foram atraídos para ele. Não era apenas sua aparência marcante – a camisa de linho casual, perfeitamente ajustada ao corpo atlético, o cabelo levemente bagunçado como se ele não se importasse com as convenções sociais. Era a forma como ele se movia, com uma confiança despretensiosa, como se cada ambiente em que entrasse automaticamente se moldasse à sua presença.
Isabela tentou se concentrar na palestra, mas, inevitavelmente, seus olhos voltaram-se para Rafael. Ele estava sentado de maneira relaxada, com uma leve inclinação para trás na cadeira, como se estivesse completamente à vontade, sem a necessidade de provar nada a ninguém. E então, aconteceu de novo. Os olhos dele se voltaram diretamente para ela.
Por um breve momento, o mundo pareceu parar.
Não havia mais o murmúrio dos outros participantes, nem a voz do palestrante ecoando pela sala. Havia apenas o olhar dele, profundo e penetrante, que a atravessava como uma corrente elétrica. O sorriso que se formou no canto de seus lábios era quase imperceptível, mas o suficiente para que Isabela sentisse uma onda de calor percorrer seu corpo.
Ela desviou o olhar rapidamente, o coração acelerado, como se tivesse sido pega em flagrante. Como podia sentir-se assim, tão vulnerável, apenas com um olhar? Era irritante. Ela sempre fora uma pessoa controlada, que não se deixava abalar facilmente. No entanto, Rafael parecia ter o poder de desarmá-la sem esforço algum.
O restante da palestra foi um borrão. Isabela fingiu interesse, anotando mecanicamente algumas frases no bloco de notas, mas sua mente estava completamente alheia ao que acontecia no palco. Quando a palestra finalmente terminou, ela se levantou com uma rapidez incomum, determinada a sair da sala antes que pudesse ter qualquer tipo de encontro com Rafael.
Mas o destino, ou talvez o próprio Rafael, parecia ter outros planos.
Quando ela se virou para sair, ele estava ali, parado no corredor que levava à saída. Não havia como evitar. Ele a viu imediatamente, e seus olhos se encontraram mais uma vez. Desta vez, o sorriso de Rafael foi mais amplo, confiante, como se já soubesse o efeito que causava nela.
"Isabela, certo?" A voz dele era rouca e profunda, exatamente como ela havia imaginado.
Ela ficou surpresa por ele saber o nome dela, mas rapidamente recuperou a compostura. "Sim, sou eu." Seu tom era educado, mas distante.
Ele estendeu a mão. "Rafael Ferraz."
Ela hesitou por um segundo, antes de apertar a mão dele. O toque foi breve, mas o suficiente para que Isabela sentisse a força contida nos dedos dele, a eletricidade que parecia fluir entre eles.
"Eu vi você ontem no coquetel," ele continuou, ainda segurando o olhar dela. "Parecia perdida em pensamentos."
"Conferências costumam fazer isso com as pessoas," ela respondeu, tentando manter o tom leve. "Muito trabalho, pouco descanso."
Rafael deu uma risada suave, mas não era o tipo de risada que expressava apenas humor. Havia algo mais ali, uma camada de interesse que ele fazia questão de não esconder.
"Eu sei como é. Embora, às vezes, esses eventos nos tragam... distrações inesperadas."
Isabela sentiu o coração bater mais forte com o que claramente era uma provocação velada. Ela não era ingênua, sabia exatamente o que ele estava insinuando. Mas também sabia que era perigoso brincar com fogo, especialmente com um homem como Rafael.
"Sim," ela disse, mantendo o olhar firme. "Mas estou aqui para trabalhar, não para distrações."
Rafael levantou as sobrancelhas, como se estivesse genuinamente surpreso com a resposta. "Admiro sua dedicação," ele disse, o tom agora mais sério. "Mas nem sempre podemos controlar o que nos distrai, não é?"
Isabela estava prestes a responder, mas naquele momento, Clara apareceu no corredor, chamando-a para o próximo painel. A interrupção foi um alívio bem-vindo.
"Com licença," Isabela disse, aproveitando a oportunidade para se afastar. "Tenho que ir."
Rafael não tentou detê-la. Em vez disso, deu um passo para o lado, abrindo caminho para que ela passasse, mas não sem antes oferecer um último sorriso enigmático. "Até logo, Isabela."
Ela saiu do corredor com a sensação de que havia acabado de sair de uma batalha, uma batalha que, de certa forma, sabia que não havia vencido completamente. Havia algo em Rafael Ferraz que ela não conseguia entender, algo que a atraía e a afastava ao mesmo tempo. E, por mais que tentasse ignorar, sabia que aquele não seria o último encontro entre eles.
Enquanto caminhava para a próxima palestra, sua mente não parava de pensar em uma coisa: como seria difícil evitar um homem que parecia decidido a não ser evitado.
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Os Lençóis da Tempestade
RomantizmIsabela é uma jovem mulher que trabalha em uma grande empresa de tecnologia e tenta equilibrar sua carreira ascendente com sua vida amorosa frustrada. Depois de uma série de relacionamentos malsucedidos, ela decide se focar completamente no trabalho...