Capítulo 36: Tentando Seguir em Frente

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Os dias que se seguiram à despedida de Rafael foram uma névoa de dor e incerteza para Isabela. Ela acordava todas as manhãs com um peso no peito, como se o ar tivesse ficado mais espesso e difícil de respirar. O vazio deixado pela ausência dele era palpável, e ela não sabia ao certo como preencher o espaço que o relacionamento havia deixado em sua vida.

No trabalho, Isabela mantinha a aparência de normalidade. Ela se jogava nos compromissos da fusão, nas reuniões com investidores, tentando desesperadamente focar no que poderia controlar. Mas mesmo em seus momentos mais produtivos, a lembrança de Rafael se insinuava em sua mente. Pequenos detalhes – o som da sua voz, o toque de suas mãos, os momentos compartilhados – retornavam com uma força devastadora, e ela se pegava lutando para manter as emoções sob controle.

Seus colegas perceberam que algo estava errado, mas ninguém ousava comentar. Marcelo, sempre atento, a observava de longe, sem pressioná-la a falar sobre o que estava acontecendo. Ele sabia que Isabela era forte, mas também sabia que esse rompimento havia abalado suas bases mais do que ela estava disposta a admitir.

Em uma tarde particularmente longa, depois de mais uma reunião exaustiva, Isabela decidiu que precisava de uma pausa. O escritório estava opressor, e o barulho constante das demandas a sufocava. Sem pensar muito, ela pegou suas coisas e saiu. Dirigiu sem um destino claro, as ruas da cidade passando por ela como um borrão. Eventualmente, ela encontrou um pequeno café, discreto, quase escondido no meio de uma rua tranquila.

Entrou no lugar, pedindo um café e se sentou perto da janela, observando a vida passar do lado de fora. Pela primeira vez em dias, ela se permitiu um momento de silêncio, longe das obrigações e do peso da recente separação. O café estava quente em suas mãos, mas não trazia o conforto que ela esperava.

Enquanto olhava para a xícara, perdida em pensamentos, percebeu o quão difícil seria realmente seguir em frente. Ela havia perdido mais do que um relacionamento; havia perdido uma parte de si mesma, aquela que acreditava em segundas chances, em consertar o que estava quebrado. Agora, tudo parecia fragmentado, e reconstruir o que restava de sua vida parecia uma tarefa monumental.

O que a assustava mais não era o fim de seu relacionamento com Rafael, mas o vazio que ele deixara. O tempo que haviam passado juntos havia se tornado uma parte integral de sua vida, e, sem ele, ela se sentia perdida, sem rumo. O futuro que ela havia imaginado, tanto para sua vida pessoal quanto profissional, agora parecia incerto, nebuloso.

"Seguir em frente..." ela murmurou para si mesma, tentando transformar essas palavras em um mantra. Mas a verdade era que ela não sabia como fazer isso.

Nos dias seguintes, Isabela tentou seguir uma nova rotina. Voltava para o escritório, mergulhava no trabalho, mas nada parecia suficiente para afastar os pensamentos de Rafael. O nome dele ainda circulava nas reuniões, por causa da investigação em curso, mas agora ela se mantinha emocionalmente distante, tratando tudo com a maior profissionalidade possível.

Entretanto, a investigação estava longe de ser resolvida, e os rumores sobre o passado de Rafael ainda pairavam sobre a fusão. Embora Isabela estivesse determinada a manter sua empresa fora do escândalo, ela sabia que seu nome estava associado a ele de uma forma que não podia simplesmente apagar.

Marcelo a chamou para uma reunião particular uma manhã, seu semblante preocupado, mas carinhoso. "Isabela," ele começou, fechando a porta do escritório, "tenho observado você nos últimos dias. Eu sei que você está se esforçando, mas eu também sei que você não está bem. Precisa de uma pausa."

Ela franziu a testa, tentando manter a compostura. "Eu estou bem, Marcelo. A situação com Rafael foi difícil, mas estou lidando com isso."

Marcelo suspirou, balançando a cabeça. "Você não precisa fingir que está tudo bem. Eu sou seu amigo, além de seu parceiro de trabalho. E eu vejo o quanto isso está te afetando. O fim do relacionamento, a pressão da fusão... está tudo se acumulando."

Ela olhou para ele, sentindo a máscara que vinha usando começar a rachar. "Eu não posso parar agora. A fusão ainda está em andamento, e precisamos garantir que os investidores não percam a confiança em nós. Além disso, a investigação sobre a TechFuture ainda pode trazer mais complicações. Eu não posso simplesmente me afastar."

"Mas você também não pode continuar assim," Marcelo disse gentilmente. "Você está se esgotando, Isabela. E não importa o quão forte você seja, todo mundo precisa de uma pausa."

Ela sabia que ele estava certo, mas a ideia de se permitir parar parecia impossível. "E se eu perder o controle de tudo? Se eu tirar uma pausa agora, posso perder tudo pelo que lutei."

Marcelo olhou para ela, seu semblante firme, mas compreensivo. "Você não vai perder nada, Isa. Eu estarei aqui, cuidando das coisas. Confie em mim. Você construiu muito, e uma pausa não vai desfazer isso. Pelo contrário, vai te dar o tempo que você precisa para se curar e voltar ainda mais forte."

As palavras dele finalmente a atingiram, quebrando a resistência que ela vinha mantendo. Isabela sentiu as lágrimas começarem a se formar, e, pela primeira vez em semanas, ela não lutou contra elas. Marcelo estava certo. Ela estava exausta, emocionalmente desgastada, e precisava de tempo para se reconectar consigo mesma, longe das pressões que a cercavam.

"Eu... eu acho que preciso disso," ela disse, sua voz trêmula.

Marcelo sorriu suavemente. "Eu também acho. Tire alguns dias, Isabela. Vá para longe da cidade, vá para algum lugar onde você possa respirar. Quando estiver pronta, você volta. E eu estarei aqui, como sempre."

Ela assentiu, sentindo uma leveza surgir em meio à dor. Marcelo era mais do que um parceiro de negócios; ele era seu amigo, alguém que sempre esteve ao seu lado, mesmo nos momentos mais difíceis. Saber que podia contar com ele a fez sentir menos sozinha.

Dois dias depois, Isabela se encontrava dirigindo para uma pequena cidade costeira, a poucas horas da capital. Era um lugar onde passara alguns verões de sua infância, e agora parecia o refúgio perfeito para tentar encontrar algum tipo de paz. As estradas sinuosas que levavam à praia eram tranquilas, quase desertas, e o som distante das ondas a tranquilizava à medida que se aproximava de seu destino.

Quando chegou à casa simples que havia alugado, Isabela finalmente sentiu o peso das últimas semanas começar a aliviar. Era um lugar isolado, cercado pelo som do mar e pela brisa salgada. Ali, longe da cidade, dos negócios e das complicações com Rafael, ela sentiu que talvez pudesse começar a curar suas feridas.

A primeira noite foi silenciosa. Isabela sentou-se na varanda, observando o horizonte e sentindo a serenidade daquele lugar. As ondas quebravam suavemente contra a praia, e o vento brincava com seu cabelo, trazendo uma sensação de renovação. Pela primeira vez em muito tempo, ela se permitiu estar presente no momento, sem pensar no passado ou no futuro.

Ao longo dos dias seguintes, Isabela caminhou pela praia, refletindo sobre tudo o que havia acontecido. Ela ainda amava Rafael, mas também sabia que não poderia continuar a carregar o peso de suas escolhas e mentiras. Havia uma linha tênue entre amor e sacrifício, e ela começava a entender que, para seguir em frente, precisaria encontrar um equilíbrio. Precisaria se colocar em primeiro lugar.

Cada dia na pequena cidade costeira era um pequeno passo em direção à cura. As cicatrizes do relacionamento ainda estavam lá, profundas e dolorosas, mas Isabela sentia que estava, aos poucos, recuperando o controle de sua vida.

Ela sabia que o caminho para a recuperação seria longo, mas, naquela praia isolada, sob o céu infinito, Isabela encontrou a primeira centelha de esperança.

Ela estava tentando seguir em frente, e isso, por si só, já era um começo.

Os Lençóis da TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora