Os dias que se seguiram ao confronto entre Isabela e Rafael foram como uma montanha-russa de emoções. O silêncio que pairava entre eles não era de ausência, mas de uma pausa tensa, cheia de expectativas e incertezas. Rafael havia prometido cooperar com a investigação e assumir a responsabilidade pelos erros do passado. Isabela, por sua vez, tentou focar no trabalho, na fusão que ainda estava por um fio, e em sua reputação, que também estava em risco. Mas por trás de cada tarefa concluída, cada reunião feita, o peso emocional era inegável.
Ela sabia que ainda amava Rafael. Esse amor estava presente, firme, mas a confiança havia sido ferida. E mesmo com sua promessa de consertar tudo, havia uma parte de Isabela que temia que fosse tarde demais.
Naquela tarde, enquanto Isabela revisava alguns documentos em seu escritório, uma notificação de mensagem chamou sua atenção. Era de Rafael.
"Podemos nos encontrar? Precisamos conversar."
O coração dela acelerou. Algo em seu peito sabia que aquela conversa era inevitável. Ela hesitou por um momento antes de responder.
"Claro. Nos encontramos no parque às 18h?"
"Sim. Até lá."
O parque. O mesmo lugar onde tantas vezes haviam compartilhado momentos importantes, e onde, recentemente, revelações dolorosas haviam sido feitas. Agora, seria o cenário de uma nova conversa – talvez a mais difícil de todas.
Isabela chegou ao parque antes do horário marcado, sentindo o vento frio da tarde acariciar seu rosto. As folhas das árvores já estavam começando a cair, anunciando o início do outono. O parque estava quase vazio, o que acentuava o peso da solidão que ela sentia. Enquanto esperava por Rafael, sua mente girava com pensamentos sobre o que ele queria discutir. O medo do desconhecido apertava seu peito.
Poucos minutos depois, Rafael apareceu. Ele caminhava lentamente em sua direção, as mãos nos bolsos, o rosto sério. Ao vê-la, seus olhos suavizaram, mas a tensão ainda estava lá, pairando entre eles como uma sombra.
"Oi," ele disse suavemente quando se aproximou.
"Oi," ela respondeu, tentando esconder a ansiedade que sentia.
Eles começaram a caminhar lado a lado, em silêncio. Por alguns minutos, apenas o som de seus passos sobre as folhas secas preencheu o espaço entre eles. Isabela sabia que Rafael estava tentando encontrar as palavras certas, e ela lhe deu o tempo que precisava.
Finalmente, ele parou, virando-se para ela. Seus olhos estavam tristes, carregados de algo que Isabela não sabia como descrever – talvez arrependimento, talvez resignação.
"Eu tenho pensado muito nas últimas semanas," ele começou, sua voz baixa, mas clara. "E sei que prometi consertar as coisas, ser honesto e fazer o que for preciso para recuperar sua confiança. Mas também percebi que há coisas que não podemos consertar tão facilmente."
Isabela sentiu um frio percorrer sua espinha. Ela sabia aonde aquela conversa estava indo, mas, ao mesmo tempo, não queria acreditar.
"Eu amo você, Isabela," ele continuou, seus olhos fixos nos dela. "E é por isso que estou aqui hoje, porque preciso ser honesto de uma vez por todas. Eu acho que, neste momento, a melhor coisa que podemos fazer é nos afastar."
O coração dela parou por um segundo, e ela sentiu a garganta fechar. "Afastar?" Ela repetiu, tentando processar as palavras.
"Sim," ele disse, a dor evidente em sua expressão. "Eu pensei muito sobre isso, e acho que estamos nos machucando mais ao tentar consertar algo que está tão danificado. Você merece alguém que possa te dar tudo o que você precisa, alguém que não carregue o peso de um passado como o meu. E, por mais que eu queira ser essa pessoa para você, não sei se consigo."
As palavras dele caíram como pedras sobre Isabela. Ela queria protestar, queria dizer que poderiam superar isso, que o amor deles era forte o suficiente para enfrentar qualquer coisa. Mas, ao mesmo tempo, sabia que havia verdade no que ele estava dizendo. O relacionamento deles estava em ruínas, abalado pelas mentiras, pelas pressões externas e pelas escolhas que ambos haviam feito.
"Você está dizendo que... quer terminar?" A voz dela era um sussurro, cheia de dor.
Rafael assentiu, seu olhar fixo no chão por um momento antes de voltar a encontrar os olhos dela. "Sim. Não porque eu quero. Deus sabe que eu não quero isso. Mas acho que é o que precisamos agora. Você merece ter paz, Isabela. E eu não posso te dar isso enquanto estou lidando com as consequências do meu passado."
Isabela sentiu as lágrimas começarem a se formar, mas lutou para mantê-las sob controle. Parte dela queria se agarrar a ele, implorar para que ficassem juntos, mas outra parte sabia que Rafael estava certo. As circunstâncias que os cercavam eram sufocantes. O relacionamento deles, que antes era uma fonte de felicidade, agora parecia mais uma batalha constante contra segredos, desconfiança e as consequências de escolhas que ambos haviam feito.
"Eu não sei o que dizer," ela murmurou, sua voz falhando. "Parte de mim quer lutar por nós. Mas você tem razão... não sei se consigo continuar lutando contra tudo."
Rafael deu um passo à frente, pegando as mãos dela nas suas. "Eu não vou esquecer o que tivemos. E talvez, no futuro, as coisas possam ser diferentes. Mas agora, o que você precisa é de estabilidade. E o que eu preciso é de tempo para consertar minha vida."
Ela olhou para ele, os olhos marejados. "Eu sinto tanto que tenha chegado a isso."
"Eu também," ele respondeu suavemente. "Mas talvez seja a única maneira de nos encontrarmos de novo, mais fortes, mais inteiros."
Isabela assentiu, sentindo o coração se despedaçar um pouco mais a cada segundo. A despedida estava diante deles, dolorosa, mas inevitável. Eles haviam lutado, tentado salvar o que tinham, mas, no final, as cicatrizes eram profundas demais para serem ignoradas.
"Eu vou sentir sua falta," ela sussurrou, sentindo uma lágrima rolar pelo rosto.
Rafael a puxou para um abraço, e ela se deixou envolver por ele, sentindo o calor de seu corpo uma última vez. O abraço foi longo, apertado, como se ambos estivessem tentando se despedir sem realmente deixar ir. Mas, eventualmente, Rafael a soltou, seus olhos também marejados.
"Eu também vou sentir sua falta, Isabela," ele disse, a voz quebrada. "Mais do que você imagina."
Eles ficaram ali, em silêncio, por mais alguns minutos, deixando a despedida assentar em seus corações. A dor da separação era profunda, mas, ao mesmo tempo, havia uma sensação de aceitação. Ambos sabiam que, apesar do amor, às vezes a melhor maneira de proteger algo precioso é deixá-lo ir.
Finalmente, Isabela deu um passo para trás, sentindo o peso da despedida em cada movimento. "Adeus, Rafael," ela disse suavemente, sua voz trêmula.
"Até logo, Isabela," ele respondeu, a esperança frágil em sua voz.
Ela se virou e começou a caminhar pelo parque, sentindo o vazio crescer em seu peito a cada passo que dava. As lágrimas finalmente vieram, silenciosas, quentes, escorrendo por seu rosto enquanto ela tentava absorver o que acabara de acontecer. Eles haviam terminado.
O amor ainda estava lá, mas a realidade havia os vencido. E agora, Isabela precisava seguir em frente sozinha, lidar com as consequências dessa despedida dolorosa e encontrar uma maneira de reconstruir sua vida.
O parque ao seu redor estava quieto, mas dentro dela, uma tempestade de emoções rugia. Ela sabia que a dor seria longa, que o processo de cura seria difícil, mas, no fundo, havia uma pequena chama de esperança – de que, um dia, talvez, ela pudesse encontrar a paz que tanto buscava.
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Os Lençóis da Tempestade
Roman d'amourIsabela é uma jovem mulher que trabalha em uma grande empresa de tecnologia e tenta equilibrar sua carreira ascendente com sua vida amorosa frustrada. Depois de uma série de relacionamentos malsucedidos, ela decide se focar completamente no trabalho...