Prólogo: Ecos do Passado

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A cidade nunca dormia. Luzes piscavam ao longe, a avenida estava tomada pelo ruído constante de carros, buzinas e murmúrios. Isabela se sentou na varanda de seu pequeno apartamento, observando as luzes dos edifícios à distância. O som do vento agitando as folhas das árvores contrastava com o zumbido urbano, e em seus pensamentos, uma pergunta incômoda a perseguia: Como cheguei até aqui?

Ela fechou os olhos por um momento, buscando algum alívio na quietude interior que raramente encontrava. A pergunta não era simples. Não havia uma resposta objetiva. Isabela não estava infeliz. Pelo contrário, em muitos aspectos, sua vida parecia perfeita. Aos 28 anos, já tinha conquistado o que muitos apenas sonhavam. Uma carreira sólida em uma das maiores empresas de tecnologia do país, um apartamento próprio, uma independência que a fazia sentir orgulho de si mesma. No entanto, em meio a todas essas conquistas, havia um vazio que ela evitava olhar de frente, como uma ferida que nunca cicatrizou completamente.

Seu último relacionamento havia terminado meses atrás, mas a sensação de fracasso permanecia como uma sombra incômoda. Thiago tinha sido seu último grande erro. Ele era charmoso, bem-sucedido, e por algum tempo ela acreditou que finalmente havia encontrado a pessoa com quem construiria uma vida. Mas os meses de relacionamento trouxeram à tona uma verdade que ela não podia mais ignorar: Thiago amava a si mesmo mais do que a ela.

O rompimento foi doloroso, não pela perda de Thiago em si, mas pelo sentimento de que, mais uma vez, Isabela havia se enganado. Havia uma repetição quase cruel em sua vida amorosa. Relações começavam intensas, cheias de promessas, mas terminavam em decepção, desgastando um pouco mais sua confiança a cada nova tentativa.

Ela abriu os olhos e olhou para o céu. A noite estava clara, sem nuvens, e as estrelas pareciam insignificantes diante das luzes artificiais da cidade. Uma risada irônica escapou de seus lábios. Isabela nunca foi alguém que acreditava em sinais ou destino. Ela trabalhava duro, acreditava no esforço e na lógica. Porém, em momentos como aquele, uma pequena parte de si queria acreditar que o universo talvez estivesse tentando lhe dizer algo. Algo sobre por que, apesar de todas as suas conquistas, ela ainda se sentia tão sozinha.

As mensagens no celular começaram a acumular-se. Era Clara, sua melhor amiga, insistindo para que ela confirmasse presença na conferência que aconteceria no fim de semana. Isabela suspirou, sabendo que teria que lidar com isso em breve. Era mais uma dessas conferências de negócios que, à primeira vista, parecia ser apenas mais um evento enfadonho em sua agenda já sobrecarregada. Contudo, Clara, sempre otimista, tentava convencê-la de que poderia ser uma oportunidade para "descontrair", "conhecer novas pessoas" e, quem sabe, até "esquecer Thiago".

Esquecer Thiago. Isabela desejava que fosse tão simples. Talvez o problema não fosse ele, afinal. Talvez fosse ela. Talvez seu coração estivesse fechado para o amor há muito mais tempo do que ela se permitia admitir. A verdade era que, a cada relacionamento falho, sua armadura ficava mais forte, mais resistente. E agora, mesmo que quisesse, ela não sabia como abaixar a guarda.

Levantando-se da cadeira, Isabela se dirigiu ao interior do apartamento. O som dos seus passos ecoava no piso frio, e o vazio da sala a envolvia como um manto. Aproximou-se da janela, as luzes da cidade refletindo-se no vidro, e se perguntou se algum dia conseguiria encontrar aquilo que tantas vezes a iludiu. Amor verdadeiro.

Ela balançou a cabeça, afastando os pensamentos. Amanhã seria mais um dia de trabalho. Mais uma chance de se provar. A conferência? Não era algo que ela estivesse ansiosa, mas era parte de sua carreira, e isso era o que realmente importava. Pelo menos, era o que ela tentava convencer a si mesma.

Antes de ir para a cama, ela enviou uma mensagem rápida a Clara, confirmando sua presença. A conferência estava marcada para o fim de semana em um resort de luxo à beira-mar. Seriam três dias fora do escritório. Isabela forçou um sorriso ao pensar no que Clara diria: "Vai ser bom para você. Uma mudança de ares."

"Talvez," pensou Isabela, enquanto apagava as luzes do apartamento e se preparava para o sono. Mas, no fundo, ela sabia que o problema não era o ar. Era ela mesma. E isso, por mais que tentasse, não mudaria tão facilmente.

Os Lençóis da TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora