Capítulo 4: Tempestade Interior

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Isabela entrou em seu quarto, fechando a porta com um movimento rápido e determinado. Ela apoiou as costas contra a madeira fria, fechando os olhos por um momento, como se pudesse, de alguma forma, se proteger do turbilhão de emoções que ameaçava transbordar.

Seu corpo ainda tremia levemente, e a imagem de Rafael, tão perto dela no bar, continuava gravada em sua mente. Por mais que tentasse afastar os pensamentos, eles retornavam com uma força incontrolável. Ela passara o dia inteiro tentando manter a compostura, ignorando a intensidade daquele olhar, fingindo que o interesse dele não a afetava. Mas agora, sozinha no silêncio de seu quarto, era impossível continuar negando.

A verdade era que Rafael a abalava de uma forma que nenhum outro homem havia feito antes.

Isabela abriu os olhos lentamente e caminhou até a janela. O céu lá fora estava escuro, nuvens pesadas se formando no horizonte, prenúncio de uma tempestade iminente. O vento começava a balançar as palmeiras do resort, e o som distante do mar batendo contra as rochas ecoava pelo ambiente.

Ela sabia que a tempestade lá fora não era nada comparada à que se formava dentro dela.

Sua mente era um caos, um mar de dúvidas e perguntas sem respostas. Por que, de todas as pessoas, Rafael Ferraz conseguira romper as barreiras que ela tão cuidadosamente construíra ao longo dos anos? Ela havia trabalhado duro para chegar onde estava, construído uma carreira sólida, blindando-se contra distrações emocionais que pudessem comprometer seus objetivos. E agora, em questão de dias, tudo parecia estar desmoronando diante de seus olhos.

Isabela passou a mão pelos cabelos, tentando acalmar a mente. O encontro com Rafael no bar havia sido intenso, quase perigoso. Cada palavra que ele dizia carregava uma carga de significado, como se estivesse jogando um jogo cujas regras ela não conhecia, mas que, de alguma forma, sentia que estava perdendo.

Ela caminhou até a cama e se sentou na beirada, sentindo o peso de sua própria confusão. Rafael não era apenas um homem atraente e confiante. Ele era o CEO de uma das maiores rivais de sua empresa. Um envolvimento com ele poderia ser um desastre para sua carreira, para sua reputação. E mesmo assim, havia algo nele que a atraía de maneira irresistível, algo que a fazia questionar todas as suas certezas.

"Eu não sou um homem que desiste facilmente." As palavras dele ecoavam em sua mente, repetidamente, como uma melodia hipnótica. Ele estava jogando com ela, disso ela não tinha dúvidas. Mas a questão era: até onde ela estava disposta a ir nesse jogo?

O som de um trovão distante a despertou de seus pensamentos. A tempestade se aproximava rapidamente, e as primeiras gotas de chuva começaram a bater na janela. Isabela se levantou e fechou as cortinas, bloqueando a visão do mundo lá fora. Por um momento, desejou poder fazer o mesmo com seus sentimentos, escondê-los, trancá-los em algum lugar profundo e escuro, onde não pudessem mais atormentá-la.

Mas isso não era possível. Não com Rafael tão presente em sua mente.

Isabela pegou seu celular, hesitando por um segundo antes de abrir o aplicativo de mensagens. Ela digitou uma mensagem para Clara, querendo desabafar, pedir conselhos. Mas, no último segundo, apagou tudo. Não adiantaria. Clara não entenderia. Ela provavelmente incentivaria Isabela a seguir em frente, a aproveitar o momento e deixar de lado as preocupações. E, no fundo, Isabela sabia que não poderia se deixar levar por algo tão perigoso.

O celular tocou de repente, quebrando o silêncio do quarto e fazendo o coração de Isabela saltar no peito. Era Clara.

"Oi," Isabela atendeu, tentando soar casual, embora seu tom de voz a traísse.

"Você está bem?" A voz de Clara estava cheia de preocupação. "Você saiu do bar tão rápido, nem deu tempo de te chamar."

Isabela suspirou, indo até a cama e se deitando de costas, olhando para o teto. "Eu precisava de um tempo sozinha."

"Algo aconteceu?" Clara perguntou, mas o tom em sua voz indicava que ela já sabia a resposta.

Isabela hesitou por um momento, decidindo até onde queria compartilhar o que estava sentindo. "Foi Rafael."

Do outro lado da linha, Clara fez uma pausa antes de falar. "O que ele fez?"

"Ele não fez nada... quer dizer, não diretamente." Isabela fechou os olhos, tentando organizar os pensamentos. "É só que... sinto que ele está jogando comigo, sabe? Como se soubesse exatamente o que fazer para me desestabilizar."

Clara riu suavemente. "Isabela, ele é um homem poderoso. Homens como Rafael jogam o tempo todo. Eles são acostumados a manipular as situações a seu favor, seja nos negócios ou no que quer que estejam interessados."

"Eu sei disso," Isabela respondeu rapidamente, sentindo-se um pouco irritada. "Mas... é diferente. Ele não é como os outros homens com quem eu já lidei. Eu sei que ele está jogando, mas não consigo evitar me sentir atraída por ele."

"Ah, agora chegamos ao ponto," Clara provocou. "Você gosta dele."

"Não é tão simples assim," Isabela rebateu, sentando-se na cama, seus pensamentos uma confusão crescente. "Ele é CEO de uma empresa rival. Nós somos concorrentes diretos. Um envolvimento com ele seria... um desastre."

"Talvez," Clara disse em um tom pensativo. "Mas isso não significa que você não deva explorar o que está sentindo. Só porque ele é seu rival no trabalho, não significa que não possa ser algo mais fora disso."

"Isso é o que me preocupa," Isabela admitiu, esfregando a testa com a palma da mão. "Eu não sei se posso me separar dessas duas coisas. Minha carreira é tudo para mim, e eu não posso arriscar isso por... por alguém como Rafael."

O silêncio que se seguiu foi carregado de significado. Clara sabia o quanto a carreira de Isabela significava para ela, e sabia que Isabela não tomava decisões de forma impulsiva. No entanto, o que estava acontecendo com Rafael era algo que Isabela não podia simplesmente controlar.

"Talvez você precise de um tempo para pensar," Clara sugeriu finalmente. "Seja honesta consigo mesma. Se o que você sente por ele for apenas físico, isso vai passar. Mas, se houver algo mais, você vai precisar lidar com isso de alguma forma."

Isabela agradeceu o conselho e desligou o telefone, sentindo o peso das palavras de Clara recaírem sobre ela. Algo mais. Era essa a questão. Ela sabia que o que sentia por Rafael ia além de uma simples atração física. Havia algo na maneira como ele a desafiava, na forma como parecia ver através dela, que a deixava fascinada. Mas essa fascinação poderia facilmente se transformar em algo destrutivo, e isso a apavorava.

Levantando-se da cama, ela começou a andar de um lado para o outro no quarto, o som da chuva forte batendo contra a janela acompanhando o ritmo de seus passos. Ela tentava pensar racionalmente, mas cada vez que lembrava do olhar de Rafael, de sua presença, suas palavras racionais perdiam a força.

O trovão ribombou mais forte agora, ecoando pelo céu escuro. Isabela foi até a janela, abrindo uma fresta nas cortinas para observar a tempestade. A água caía em cascatas pesadas, o vento uivando nas palmeiras lá fora. A natureza parecia refletir seu estado emocional, desordenada, incontrolável, prestes a explodir.

Ela sabia que tinha duas escolhas: poderia continuar lutando contra o que sentia, fingindo que Rafael não significava nada além de uma complicação, ou poderia ceder, mesmo sabendo dos riscos que isso implicava. Mas, por mais que tentasse se convencer de que a primeira opção era a mais sensata, algo dentro dela gritava que não seria tão simples.

A tempestade continuava rugindo lá fora, e Isabela sabia que, independentemente da escolha que fizesse, a verdadeira batalha seria dentro de si mesma.

Os Lençóis da TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora