O apartamento estava em silêncio, mais vazio do que nunca. Desde a noite em que Rafael saíra, Isabela tinha se mantido ocupada com o trabalho e a investigação. As provas que Clara havia entregue estavam sendo revisadas com cuidado, e as reuniões com Marcelo e os advogados se tornaram frequentes. No entanto, por mais que ela tentasse se concentrar no futuro da TechFuture e nas implicações da rede de corrupção, não conseguia parar de pensar em Rafael.
A despedida entre eles, embora marcada por palavras de compreensão e espaço, havia deixado um buraco em seu coração. Todas as noites, ao voltar para casa, ela esperava, quase inconscientemente, que Rafael estivesse ali, esperando por ela como antes. Mas a realidade era outra. O apartamento que antes parecia acolhedor e cheio de vida agora era frio, e o silêncio parecia gritar.
Naquela manhã, ao acordar, Isabela se deu conta de que não poderia continuar ignorando o que sentia. Tudo o que havia acontecido entre ela e Rafael ainda estava fresco em sua mente. Ela sabia que havia sido necessário se afastarem, que ambos precisavam de tempo para se reencontrarem, mas, ao mesmo tempo, o vazio que ele deixara era impossível de preencher com trabalho ou distrações.
Sentada na mesa da cozinha, com uma xícara de café que esfriava lentamente em suas mãos, Isabela se perguntou se aquele afastamento era realmente a resposta. Eles haviam passado por tanto juntos. Sim, o estresse e as pressões externas os haviam desgastado, mas o que eles tinham ainda era real. O amor entre eles não havia desaparecido, mesmo que estivesse soterrado sob as dificuldades.
Enquanto esses pensamentos corriam por sua mente, Isabela se levantou, caminhando até seu escritório. Sentou-se à sua mesa, pegando uma caneta e um papel em branco. Ela não sabia exatamente o que estava prestes a escrever, mas as palavras começaram a fluir, como se o peso de tudo o que sentia finalmente estivesse encontrando um caminho para ser expresso.
Ela começou devagar, a mão hesitante no início, mas logo as emoções tomaram conta, e as palavras surgiram como uma confissão de tudo o que estava em seu coração.
Querido Rafael,
Esses últimos dias sem você têm sido mais difíceis do que eu imaginei. Quando decidimos nos afastar, achei que seria o certo, que o espaço nos ajudaria a pensar com mais clareza. E talvez isso ainda seja verdade, mas a verdade mais forte, que tenho que admitir para mim mesma, é que eu sinto sua falta. Sinto sua falta de uma maneira que eu não consigo colocar em palavras.
Eu sei que essa batalha que estamos enfrentando nos consumiu. Sei que as pressões externas nos afastaram, e que, em algum lugar ao longo do caminho, deixamos de nos ver com os mesmos olhos que tínhamos no começo. Mas o que também sei, com toda a certeza, é que o que sinto por você nunca mudou.
Essas últimas semanas me fizeram perceber algo importante: eu não sei quem eu sou sem você ao meu lado. Eu sempre fui forte, sempre soube me virar sozinha, mas, com você, eu sou melhor. Nós somos melhores juntos. E, apesar de tudo o que estamos enfrentando, o que me dói mais é a ideia de que, em algum lugar, começamos a acreditar que o espaço resolveria o que apenas o amor pode curar.
Eu quero que você saiba que eu entendo suas preocupações. Sei que te machuquei quando me deixei consumir pelas responsabilidades, pelo trabalho, pelas crises. Eu te afastei quando deveria ter me aproximado, e eu reconheço isso. Eu não fui justa com você, e sinto muito por isso. De verdade.
Mas agora, sozinha, sem você aqui, percebo que o trabalho, a investigação, a fusão – nada disso importa tanto quanto você. Não estou dizendo que essas coisas não são importantes, mas percebo que, sem você ao meu lado, nada parece fazer sentido. Eu estava tão focada em lutar pelo futuro da empresa que acabei deixando de lutar pelo nosso futuro.
Lembro-me de tantas noites em que, mesmo cansada e exausta, encontrar você no final do dia me trazia paz. E sinto que, de alguma forma, perdi essa paz quando permiti que as pressões externas se tornassem maiores do que o amor que temos.
Eu não sei se é tarde demais, mas preciso te dizer que não quero que esse seja o nosso último adeus. Eu não quero que nossa história termine assim, com distância e silêncio. Sei que há um longo caminho pela frente, e que talvez ainda tenhamos muito a resolver. Mas quero tentar. Quero lutar por nós dois.
Sei que é pedir muito, mas estou aqui, pronta para enfrentar o que for preciso. Pronta para reconstruir o que temos. E espero, com todo o meu coração, que você esteja disposto a tentar também.
Com amor,
Isabela.Ao terminar de escrever, Isabela ficou olhando para a carta por alguns minutos. As palavras no papel eram sinceras, um reflexo claro de tudo o que ela sentia. Ela sabia que não poderia enviar uma mensagem ou fazer uma ligação para Rafael. Ele precisava de tempo, assim como ela. Mas essa carta... essa carta era o que ela precisava dizer, algo que ele poderia ler em seu próprio tempo, sem pressão.
Depois de ler a carta novamente, Isabela decidiu entregá-la pessoalmente. Sabia onde Rafael estava – ele havia mencionado que passaria um tempo na casa de um amigo, longe da cidade, para poder pensar. Ela não queria invadir o espaço que ele havia criado para si, mas sabia que ele precisava ler aquelas palavras.
Naquela tarde, Isabela dirigiu até o local onde Rafael estava. A casa ficava em uma área tranquila, cercada por árvores e longe do caos da cidade. Quando chegou, estacionou o carro e saiu com a carta em mãos. O silêncio ao redor era reconfortante, mas seu coração estava acelerado.
Ela caminhou até a porta e, sem bater, simplesmente colocou a carta sob o batente. Queria que Rafael a encontrasse quando estivesse pronto, sem pressões, sem forçá-lo a uma conversa imediata. Ela deu um último olhar para a casa, sentindo o peso de suas emoções, antes de voltar para o carro.
No caminho de volta, Isabela se permitiu um momento de esperança. Talvez Rafael lesse a carta e entendesse o quanto ela estava disposta a lutar por eles. Talvez isso pudesse ser o início de uma nova fase, uma chance de reconstruir o que haviam perdido.
Naquela noite, Isabela se deitou sozinha, mas com uma sensação diferente. Pela primeira vez desde que Rafael saíra, ela sentiu que havia feito algo para salvar o que tinham. Ela sabia que o futuro ainda era incerto, mas havia uma paz em seu coração que não sentia há semanas.
Enquanto olhava para o teto do quarto, esperando pelo sono que demorava a chegar, uma única pergunta se repetia em sua mente: Rafael estaria disposto a voltar?
Com essa pergunta, Isabela adormeceu, sabendo que, qualquer que fosse a resposta, ela havia feito sua parte. Agora, tudo estava nas mãos do destino – e nas mãos de Rafael.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Lençóis da Tempestade
RomanceIsabela é uma jovem mulher que trabalha em uma grande empresa de tecnologia e tenta equilibrar sua carreira ascendente com sua vida amorosa frustrada. Depois de uma série de relacionamentos malsucedidos, ela decide se focar completamente no trabalho...