Parte 1: A Tempestade se Aproxima - Capítulo 1: A Conferência

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Isabela olhou para o relógio mais uma vez. Faltavam menos de 15 minutos para o início da primeira palestra da conferência, e ela ainda estava presa na recepção do resort, aguardando que sua chave fosse emitida. Estava cansada e de mau humor. A viagem tinha sido longa, e o voo turbulento a deixara tensa. Tudo o que ela queria naquele momento era um banho quente e alguns minutos de descanso antes de enfrentar uma sala cheia de profissionais que ela mal conhecia. Mas, como de costume, as coisas não estavam saindo conforme o planejado.

"Desculpe pela demora, senhora," disse a recepcionista com um sorriso mecânico. "Estamos com um pequeno atraso no sistema, mas sua chave já está sendo processada."

Isabela apenas assentiu. Não tinha energia para responder de forma simpática. Acontecimentos assim, que fugiam de seu controle, sempre a irritavam. Ela gostava de manter tudo organizado, e a ideia de já estar atrasada para o início do evento a deixava desconfortável. Além disso, o cansaço da viagem parecia pesar em seus ombros, tornando cada minuto de espera ainda mais difícil de suportar.

Finalmente, a chave foi entregue, e Isabela, sem perder mais tempo, seguiu pelo corredor até o elevador que a levaria ao seu quarto. O resort era realmente impressionante, com suas enormes janelas de vidro que permitiam a vista do oceano e sua arquitetura moderna que contrastava perfeitamente com a natureza ao redor. Era o tipo de lugar que, em outras circunstâncias, Isabela talvez até apreciasse. Mas naquele momento, tudo o que ela conseguia pensar era no quão cansada estava e no quão pouco tempo teria para se preparar.

Assim que chegou ao quarto, jogou a mala sobre a cama e foi direto para o banheiro. A água quente corria por sua pele, relaxando seus músculos tensos, enquanto sua mente já tentava se preparar para as horas que viriam. Conferências como aquela eram sempre intensas. Era um campo de batalha disfarçado de evento social, onde alianças profissionais eram formadas e destruídas em questão de conversas rápidas durante o café. Apesar de não gostar dessa dinâmica, Isabela sabia jogar o jogo. Afinal, estava ali representando sua empresa e, para todos os efeitos, sua carreira dependia do sucesso que pudesse obter naquele fim de semana.

Ela se vestiu rapidamente, optando por um conjunto elegante, porém discreto. Queria passar a imagem de uma profissional focada, mas sem chamar atenção demais. No espelho, ajeitou os cabelos, que agora estavam perfeitamente lisos e brilhantes, e passou um pouco de batom nude. Um último olhar, uma respiração profunda, e estava pronta.

Quando chegou ao salão principal, a palestra já havia começado. Isabela entrou silenciosamente, tomando um lugar no fundo da sala. Observou o palestrante por alguns minutos, mas sua mente logo começou a divagar. Havia algo naquele ambiente que a deixava inquieta. Talvez fosse a formalidade excessiva, ou a sensação constante de estar sendo julgada. De qualquer forma, ela não conseguia se concentrar por completo.

Foi então que o viu pela primeira vez.

Ele estava sentado algumas fileiras à frente, à esquerda. O perfil era forte, mandíbula marcada, cabelos castanhos levemente desalinhados, como se ele não tivesse se importado em arrumá-los antes de sair. Mas o que mais chamou a atenção de Isabela foi a postura. Ele não estava como os outros, inclinados para frente ou mexendo nos celulares. Ele estava relaxado, como se estivesse completamente à vontade em um ambiente que deixava a maioria das pessoas ansiosas. A confiança irradiava dele de uma maneira quase palpável.

Isabela sentiu uma leve pontada de curiosidade. Quem seria ele? Não se lembrava de tê-lo visto em eventos anteriores, e certamente alguém com aquela presença teria sido difícil de esquecer. Seus olhos vagaram discretamente pela sala, tentando identificar algum indicativo de quem ele era. Talvez um crachá, um movimento, qualquer coisa que revelasse mais sobre ele.

No entanto, antes que pudesse continuar sua investigação silenciosa, o olhar dele se voltou diretamente para ela. Foi tão repentino que Isabela quase desviou o rosto, surpreendida. Mas algo a manteve ali, os olhos dela presos aos dele. O breve sorriso que surgiu no canto da boca dele não era um sorriso de cortesia. Era algo mais profundo, mais intenso, como se ele soubesse exatamente o que ela estava pensando. Uma onda de calor subiu pelo corpo de Isabela, e ela foi tomada por uma estranha sensação de vulnerabilidade.

Rapidamente desviou o olhar, focando novamente no palestrante que continuava a falar sobre tendências de mercado e inovações tecnológicas. Mas o estrago já estava feito. O homem havia invadido seus pensamentos, e agora era difícil ignorar a presença dele.

O evento continuou sem mais interrupções. Durante o intervalo, Isabela tentou focar em suas interações com colegas, trocando cartões de visita, participando de conversas superficiais sobre projetos e tendências. Mas, a cada pausa, seus olhos inevitavelmente procuravam por ele.

Finalmente, durante o coquetel daquela noite, Isabela o avistou de novo. Ele estava em um pequeno grupo de pessoas, rindo e conversando com naturalidade. Havia algo magnético em sua presença, algo que atraía olhares de todos ao redor, mas que ele parecia ignorar com uma tranquilidade desconcertante.

"Você não deveria estar aqui sozinha," uma voz suave disse atrás dela. Era Clara, sua melhor amiga e colega de trabalho, que tinha insistido para que ela participasse da conferência.

"Estou só observando," Isabela respondeu, tomando um gole do seu vinho branco.

"Observando quem?" Clara perguntou com um sorriso malicioso, seguindo o olhar da amiga até o homem misterioso.

"Não sei quem ele é," Isabela admitiu, tentando soar indiferente.

Clara levantou uma sobrancelha, um brilho travesso nos olhos. "Bem, só há uma maneira de descobrir."

Antes que Isabela pudesse protestar, Clara já estava caminhando em direção ao grupo onde ele estava. Isabela ficou paralisada por um momento, o coração disparando com o súbito medo de ser arrastada para uma situação que não sabia se estava pronta para lidar. Ela sabia que Clara não voltaria de mãos vazias.

E, como esperado, minutos depois, Clara estava de volta, com um sorriso vitorioso no rosto.

"Rafael Ferraz," ela disse, saboreando cada sílaba. "CEO da TechFuture. Dizem que ele está fechando grandes negócios aqui."

Isabela franziu o cenho. A TechFuture era uma das maiores rivais da empresa em que ela trabalhava. E agora, o homem que tanto atraía seus olhares era nada menos que o líder de sua concorrente direta.

"Ele é perigoso," Clara continuou, agora com um tom mais sério. "Todo mundo sabe que Rafael é um jogador. Ele gosta de conquistar, seja no mercado ou... em outros aspectos."

"Interessante," foi tudo o que Isabela conseguiu dizer.

No entanto, mesmo com as advertências de Clara ecoando em sua mente, algo em Rafael a atraía de uma forma que ela não conseguia explicar. E, enquanto o coquetel continuava, Isabela percebeu que aquele fim de semana no resort seria muito mais complicado do que ela havia imaginado.

Os Lençóis da TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora