O retorno à cidade trouxe à tona uma série de desafios que Isabela sabia que precisaria enfrentar, mas, por mais que tentasse se preparar, nada poderia tê-la preparado para a crescente sensação de perigo que pairava sobre ela. Desde que voltou, as ameaças se tornaram mais frequentes, mais agressivas. Ela passava mais tempo se perguntando quem estava por trás das mensagens do que se concentrando no trabalho.
Os dias no escritório se tornaram uma batalha para manter a calma. Marcelo fazia o que podia para proteger as negociações da fusão e mitigar a ansiedade dos investidores, mas Isabela sabia que o tempo estava contra eles. Cada dia que passava sem respostas sobre a investigação tornava mais difícil manter a confiança da equipe e das partes envolvidas. No entanto, mais do que o risco profissional, o que a inquietava eram as ameaças cada vez mais pessoais.
Uma noite, enquanto voltava para casa após mais um longo dia de reuniões, Isabela percebeu que algo estava errado. Ela sempre fora atenta ao seu redor, mas naquela noite, o silêncio nas ruas parecia carregado de intenções ocultas. Suas mãos seguraram o volante com mais força quando um carro escuro passou ao seu lado lentamente, quase como se estivesse a observando. O veículo não fez nada, mas o simples fato de sua presença próxima a ela, combinada com o clima tenso que a envolvia nos últimos dias, fez seu coração disparar.
Tentando não se deixar levar pela paranoia, Isabela acelerou levemente e manteve a rota até chegar em casa. Mesmo assim, o medo persistia. Ao estacionar e entrar em seu prédio, ela olhou ao redor, sentindo que estava sendo observada, mas não havia ninguém. O vazio do hall de entrada a incomodava mais do que o normal. Rapidamente, subiu até seu apartamento, trancando a porta atrás de si e soltando um suspiro longo. Estava cansada de viver à sombra dessas ameaças, sempre com a sensação de que algo ruim estava prestes a acontecer.
Mas naquela noite, algo de fato aconteceu.
Já era tarde quando o telefone tocou, o som ecoando no silêncio do apartamento. Isabela olhou para o visor, sentindo uma pontada de tensão ao ver um número desconhecido. Seu instinto lhe dizia para não atender, mas algo dentro dela a empurrou a tomar o telefone.
"Alô?" Sua voz soava firme, mas a ansiedade estava clara.
Houve um breve silêncio do outro lado da linha antes que uma voz profunda e calma falasse: "Isabela."
Ela reconheceu o tom imediatamente, uma mistura de familiaridade e algo sombrio que a fez gelar. "Quem é você? O que você quer?"
"Não sou seu inimigo," a voz continuou, sem pressa, como se cada palavra fosse cuidadosamente escolhida. "Estou aqui para proteger você."
"Proteger?" Ela franziu a testa, seus pensamentos se embaralhando. "Proteger de quem?"
"De quem está vindo atrás de você," respondeu a voz. "E do que eles querem."
Isabela respirou fundo, tentando manter o controle. "Eu não sei quem você é, mas se essas ameaças são uma forma de me intimidar, não vai funcionar. Eu estou mais do que preparada para enfrentar o que vier."
A voz permaneceu calma. "Eu não estou te ameaçando. Só estou te avisando que há pessoas que estão mais perto do que você imagina. Pessoas que não vão parar até destruir tudo o que você construiu. E é por isso que eu estou aqui."
Isabela ficou em silêncio por um momento, processando as palavras. Quem poderia ser essa pessoa? E por que ela diria que estava lá para proteger?
"Se você está realmente me protegendo, então por que não se identifica?" Ela pressionou. "Eu mereço saber quem está falando comigo."
"Agora não é seguro," a voz respondeu, firme, mas sem agressividade. "Você não está pronta para saber quem eu sou. Mas saiba que estou por perto. Quando o momento chegar, eu agirei."
Antes que Isabela pudesse responder, a linha ficou muda. Ela ficou ali, segurando o telefone, tentando entender o que acabara de acontecer. Quem era aquela pessoa? E por que ela afirmava estar protegendo Isabela? A sensação de estar presa em uma teia de segredos crescia a cada momento. As ameaças eram reais, isso ela já sabia, mas agora havia um novo elemento: um protetor sombrio, alguém que estava escondido nas sombras, vigiando.
Os dias seguintes foram tomados pela paranoia e incerteza. Isabela não conseguia afastar a sensação de que estava sendo observada. O telefonema perturbador a deixara em alerta constante, mas, ao mesmo tempo, uma pequena parte dela sentia que poderia haver alguma verdade nas palavras do estranho. Ela sabia que forças invisíveis estavam em jogo, mas a ideia de um protetor nas sombras a deixava dividida entre o medo e a curiosidade.
Ela compartilhou parte de suas preocupações com Marcelo, mas omitiu o telefonema. Não sabia se podia confiar totalmente em alguém no momento. Por mais que Marcelo sempre tivesse sido um aliado fiel, Isabela não queria colocar mais pressão sobre ele ou dar a impressão de que estava perdendo o controle da situação.
Enquanto isso, as negociações da fusão continuavam em um ritmo tenso. Cada reunião com os investidores trazia mais perguntas do que respostas, e a investigação sobre a TechFuture permanecia estagnada. Rafael, que antes fazia parte constante da vida dela, agora era uma presença fantasmagórica. Ela o via em notícias, menções, documentos, mas os dois não se falavam desde a despedida dolorosa. Ele estava mergulhado em seus próprios problemas, e Isabela sabia que, no momento, eles precisavam se manter afastados.
Naquela noite, após mais um dia de trabalho exaustivo, Isabela estava em seu apartamento quando ouviu um som estranho vindo da porta. Não era alto, mas o suficiente para chamar sua atenção. Ela se levantou do sofá, caminhando devagar até a entrada. Ao olhar pelo olho mágico, não viu ninguém. Sentindo a adrenalina subir, ela destrancou a porta e abriu-a lentamente.
A princípio, não havia nada. Mas quando olhou para baixo, viu um envelope pardo simples, colocado cuidadosamente no chão. Seu nome estava escrito à mão na frente, sem remetente. Isabela olhou ao redor do corredor vazio, mas não havia sinal de quem havia deixado o envelope ali.
Fechando a porta com pressa, ela foi até a mesa e abriu o envelope com cuidado. Dentro, encontrou uma única folha de papel, com uma mensagem curta, mas alarmante:
"Eles estão mais perto do que você pensa. Confie na proteção."
As palavras pareciam ecoar o telefonema da noite anterior, como se a pessoa que havia falado com ela estivesse enviando outro sinal. Mas quem eram "eles"? E o que exatamente significava "confie na proteção"?
O medo e a confusão de Isabela cresceram. Ela sabia que estava em uma situação perigosa, e as peças do quebra-cabeça estavam se movendo rapidamente. No entanto, ela não sabia em quem confiar ou para onde se voltar. As ameaças invisíveis estavam se tornando mais tangíveis, mas, ao mesmo tempo, a promessa de uma "proteção sombria" também parecia mais real a cada dia.
Por mais que desejasse respostas, a verdade ainda estava oculta nas sombras. E Isabela sabia que, em breve, teria que descobrir por si mesma quem estava jogando de ambos os lados dessa perigosa trama.
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Os Lençóis da Tempestade
RomansaIsabela é uma jovem mulher que trabalha em uma grande empresa de tecnologia e tenta equilibrar sua carreira ascendente com sua vida amorosa frustrada. Depois de uma série de relacionamentos malsucedidos, ela decide se focar completamente no trabalho...