Os Lençóis da Tempestade

Capítulo 11: Reencontro Não Planejado

O dia seguinte começou com um ar de normalidade. Isabela acordou mais cedo do que de costume, como se estivesse determinada a afastar as emoções confusas que se desenrolavam dentro dela. A conversa com Rafael na noite anterior continuava a ecoar em sua mente. As revelações sobre o passado dele, a dor que ele carregava e a forma como ele estava tentando escapar das sombras de sua família eram difíceis de processar. Ele havia se mostrado vulnerável, algo que Isabela jamais esperaria de um homem como ele.

Ela se preparou para o dia com sua típica precisão. Vestiu um blazer impecável, fez uma maquiagem leve e prendeu o cabelo em um coque elegante. Hoje seria um dia cheio, com mais reuniões e apresentações, e Isabela sabia que não podia se deixar abalar pelas emoções que Rafael havia despertado nela. Não agora, com tanto em jogo.

Enquanto caminhava pelo corredor do resort a caminho da primeira reunião, sentiu o familiar peso da responsabilidade recair sobre seus ombros. O lado profissional dela sempre conseguia tomar a dianteira nesses momentos. Era assim que Isabela operava – lógica, controle, foco. O envolvimento com Rafael, por mais que mexesse com seus sentimentos, precisava ficar de lado. Ao menos por agora.

Ela entrou na sala de conferências com a cabeça erguida, sentindo a confiança retornar com cada passo. Seus colegas já estavam posicionados em seus lugares, conversando sobre a pauta do dia. Marcelo, sempre atento, lançou-lhe um sorriso breve ao vê-la.

"Pronta para outro dia de guerra?" ele brincou, embora houvesse um tom de seriedade em sua voz.

"Como sempre," Isabela respondeu com um sorriso leve, mas focado. Sentou-se ao lado dele, ajustando os papéis em sua frente e preparando-se mentalmente para mais uma rodada de negociações acirradas.

As primeiras horas da reunião correram conforme o esperado. Isabela conseguiu manter seu foco, apresentando suas ideias com clareza e articulando os pontos-chave dos projetos da empresa. Ela estava no controle, como sempre.

No entanto, a tranquilidade não duraria muito.

Quando a porta da sala se abriu para a próxima rodada de reuniões, Isabela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Rafael entrou acompanhado de dois de seus colegas da TechFuture. O ambiente pareceu mudar imediatamente, como se sua presença tivesse o poder de influenciar a atmosfera ao redor.

Ela tentou manter o olhar fixo nos papéis à sua frente, mas era impossível ignorá-lo. Rafael estava mais imponente do que nunca, a postura ereta e o olhar afiado enquanto conversava com um dos investidores. O contraste entre o homem vulnerável da noite anterior e o CEO confiante que acabava de entrar na sala era quase desconcertante. E, de certa forma, assustador.

Isabela sabia que o reencontro com Rafael era inevitável. No entanto, ela não esperava que fosse tão cedo, nem em um ambiente tão público e formal. Por mais que se esforçasse para manter a postura, o coração dela acelerava a cada segundo.

Quando Rafael finalmente a viu, os olhos dele se fixaram nos dela por um breve momento. Não houve nenhum sorriso, nenhum gesto de familiaridade. Era como se fossem dois estranhos. Aquilo deveria ser reconfortante, considerando a importância de manter a discrição, mas o vazio no olhar dele a atingiu de uma forma inesperada.

A reunião começou com uma apresentação de outra equipe, dando a Isabela tempo para recuperar o controle sobre suas emoções. Ela precisava de clareza. Precisava voltar ao foco que tanto prezava. Mas cada vez que Rafael intervia na discussão, com sua voz grave e calma, Isabela sentia sua concentração se esvair, como se ele tivesse o poder de desarmá-la com poucas palavras.

O jogo de negócios estava em pleno andamento, e tanto ela quanto Rafael sabiam que, ali, não havia espaço para distrações emocionais. A luta pelos contratos era feroz, e cada empresa precisava demonstrar sua capacidade de entregar os melhores resultados. No entanto, por trás da fachada profissional, havia um subtexto de tensão, de algo inacabado entre eles.

Após horas de discussão e trocas de propostas, a reunião chegou a um intervalo. Isabela suspirou aliviada quando os participantes começaram a deixar a sala, sentindo o peso da manhã se dissipar. Ela se levantou lentamente, pegando sua pasta e se preparando para ir até o saguão tomar um pouco de ar fresco.

Mas antes que pudesse sair, sentiu uma presença familiar se aproximando por trás. Era Rafael.

"Isabela," ele chamou, a voz baixa, mas firme, enquanto se aproximava. Ela se virou lentamente, já esperando o olhar intenso que ele direcionava a ela. Havia algo diferente dessa vez, no entanto. Uma mistura de curiosidade e cautela.

"Rafael," ela respondeu, mantendo o tom controlado, embora o coração estivesse acelerado.

"Precisamos conversar," ele disse, sem rodeios, mas mantendo a voz baixa o suficiente para não atrair atenção.

Isabela olhou ao redor, certificando-se de que não havia ninguém perto o suficiente para ouvir, antes de concordar com um aceno de cabeça. "Vamos sair daqui."

Os dois deixaram a sala juntos, mantendo uma distância respeitável entre si enquanto caminhavam até o terraço, uma área mais isolada e longe dos olhares curiosos. O vento do oceano bateu suavemente no rosto de Isabela, trazendo consigo uma sensação momentânea de paz.

Rafael parou a alguns metros dela, cruzando os braços enquanto a olhava diretamente nos olhos. "Eu sei que isso tudo é complicado," ele começou, e pela primeira vez naquele dia, Isabela viu o lado vulnerável dele ressurgir. "Mas eu não queria que o que aconteceu entre nós afetasse seu trabalho."

"Meu trabalho está indo bem," Isabela respondeu rapidamente, sua voz firme. "O problema é o quanto isso está nos afetando, Rafael. Somos profissionais, mas... você sabe que não é tão simples assim."

Rafael assentiu lentamente, como se estivesse processando cada palavra dela. "Eu sei. E é por isso que estou tentando entender onde isso nos deixa."

"Nos deixa em um lugar complicado," Isabela disse, sua frustração começando a emergir. "Temos uma competição feroz entre nós. Nossas empresas, nossos contratos... E além disso, há tudo o que está acontecendo entre nós."

Ela suspirou, passando a mão pelos cabelos. "Eu não sei como lidar com isso. E não tenho certeza se você também sabe."

Rafael deu um passo mais perto, sua expressão suavizando levemente. "Eu também não tenho todas as respostas, Isabela. Mas o que eu sei é que o que aconteceu entre nós não foi algo casual. Eu sinto que... há mais."

Isabela olhou para ele, tentando absorver o que ele estava dizendo. Sentia a sinceridade nas palavras dele, mas a confusão dentro dela ainda era imensa. Tudo parecia se misturar – a competição profissional, o desejo, a atração que crescia a cada encontro, e agora, a incerteza sobre o que viria a seguir.

"Rafael, eu não posso fingir que isso não está acontecendo," ela disse, sua voz mais baixa agora. "Mas eu também não sei como equilibrar o que sentimos com o que precisamos fazer."

Ele assentiu novamente, seus olhos presos aos dela. "Eu entendo. E sei que não vai ser fácil. Mas estou disposto a tentar, se você estiver."

O silêncio que se seguiu foi preenchido apenas pelo som suave das ondas quebrando ao longe. Isabela sabia que, no fundo, ela queria tentar também. Mas o medo de perder o controle, de comprometer tudo pelo que havia trabalhado, a impedia de mergulhar de cabeça.

"Vamos devagar," ela disse finalmente, encontrando os olhos de Rafael. "Vamos ver onde isso nos leva."

Rafael sorriu levemente, e Isabela pôde ver o alívio em seus olhos. "Eu aceito. Devagar, então."

Eles ficaram ali por mais alguns momentos, ambos compreendendo que o caminho à frente seria cheio de obstáculos, mas, pela primeira vez, sentindo que poderiam enfrentá-los juntos. O reencontro não planejado havia trazido mais perguntas, mas também uma nova esperança de que, de alguma forma, poderiam equilibrar suas vidas pessoais e profissionais – mesmo que isso significasse andar por uma corda bamba.