Os Lençóis da Tempestade

Capítulo 33: Mentiras Desvendadas

Os dias que se seguiram ao início da investigação foram uma montanha-russa de emoções para Isabela. O peso da investigação sobre a TechFuture crescia a cada momento, e as tensões nos bastidores se intensificavam. Os investidores estavam inquietos, questionando cada decisão, e os rumores sobre o passado de Rafael circulavam como uma tempestade prestes a explodir.

Isabela tentou manter o foco em seu trabalho, mas a ansiedade sobre o que poderia vir à tona era constante. Por mais que ela quisesse confiar em Rafael, as dúvidas plantadas pelas mensagens anônimas e o histórico nebuloso de sua família não podiam ser ignoradas. Ela sabia que estavam à beira de descobrir algo grande, algo que poderia mudar tudo, e a sensação de que a verdade estava prestes a ser revelada a deixava em alerta.

Naquela manhã, enquanto estava em seu escritório revisando alguns contratos, Marcelo entrou, sua expressão sombria como nunca. Ele carregava um arquivo nas mãos, que jogou suavemente sobre a mesa de Isabela.

"Recebemos isso hoje de manhã," ele disse, sentando-se à frente dela. "É mais uma peça do quebra-cabeça, mas acho que você não vai gostar do que vai ler."

Isabela franziu a testa, seu estômago já se apertando em antecipação. Ela pegou o arquivo e o abriu, seu coração disparando à medida que lia o conteúdo. Ali, diante dela, estavam documentos detalhando várias transações suspeitas envolvendo a TechFuture nos últimos anos. Mas o que mais a surpreendeu foi o nome que aparecia repetidamente nas assinaturas dos contratos: Rafael.

Ela olhou para Marcelo, sua mente girando. "Isso... isso não pode estar certo. Rafael me disse que não estava envolvido diretamente. Ele afirmou que não sabia de nada até depois que os contratos já haviam sido assinados."

Marcelo a observou com cautela, claramente escolhendo as palavras com cuidado. "Isabela, eu sei que é difícil de acreditar, mas esses documentos sugerem o contrário. Ele estava envolvido, talvez mais do que admitiu. E se isso for verdade, a investigação pode acabar revelando muito mais do que estamos prontos para lidar."

Ela sentiu uma onda de raiva e decepção crescer dentro dela. Ele mentiu? Tudo o que Rafael havia contado sobre seu envolvimento passivo nos negócios de seu pai, sobre como ele tentara se afastar da corrupção, agora parecia uma fachada. Se as assinaturas eram reais, então Rafael estava profundamente envolvido desde o início.

"Eu vou confrontá-lo," Isabela disse, sua voz firme, apesar da dor que sentia. "Eu preciso ouvir dele antes de tirar qualquer conclusão. Se ele mentiu, então... tudo muda."

Marcelo assentiu, mas a preocupação em seu olhar era evidente. "Eu estou com você, Isa. Mas só tome cuidado. Se ele está escondendo mais do que sabemos, pode não ser fácil de lidar."

Ela fechou o arquivo, tentando controlar a raiva e a frustração que cresciam dentro de si. Precisava de respostas, e precisava delas agora.

Isabela chegou ao apartamento de Rafael naquela tarde sem aviso prévio. A raiva que sentia a impulsionou até a porta dele, e, antes que ela pudesse pensar duas vezes, já estava batendo com força. Quando Rafael abriu, sua expressão foi imediatamente de surpresa ao vê-la ali tão abruptamente.

"Isabela?" Ele deu um passo para trás, percebendo a tensão no rosto dela. "O que aconteceu?"

Ela entrou sem ser convidada, o arquivo ainda em suas mãos. "Recebemos mais documentos hoje de manhã," ela começou, a voz carregada de raiva controlada. "Documentos que mostram seu nome em várias transações suspeitas. Contratos que você assinou, Rafael. E eu quero saber a verdade, agora."

Ele fechou a porta lentamente, seu rosto ficando mais tenso a cada palavra dela. "Documentos? Do que você está falando?"

Isabela jogou o arquivo na mesa à frente dele, os papéis se espalhando. "Isso. Explique isso. Porque esses contratos mostram que você estava envolvido diretamente nos negócios ilegais do seu pai, algo que você disse que não sabia até depois que tudo havia acontecido."

Rafael pegou os papéis, sua expressão mudando de surpresa para algo mais sombrio. Ele passou os olhos rapidamente pelas páginas, o silêncio dele sendo um sinal claro de que sabia do que se tratava.

"Eu posso explicar," ele disse finalmente, sua voz baixa.

"Então explique," Isabela retrucou, cruzando os braços, esperando pela verdade. "Porque, neste momento, parece que você mentiu para mim o tempo todo."

Rafael colocou os papéis de volta na mesa e passou a mão pelo cabelo, o nervosismo evidente. "Esses contratos... sim, eu assinei. Mas, Isabela, você precisa entender. Na época, eu não sabia no que estava me metendo. Meu pai me forçou a assinar muitos desses documentos, dizendo que eram apenas formalidades. Eu confiei nele. Eu era jovem, inexperiente, e ele me manipulou."

Isabela franziu a testa, a raiva ainda borbulhando em seu peito. "Você está me dizendo que assinou contratos importantes sem sequer lê-los? Que simplesmente confiou no seu pai, mesmo sabendo que ele tinha um histórico de manipulação?"

"Sim," Rafael respondeu, sua voz cheia de frustração consigo mesmo. "Eu fui ingênuo, Isabela. Não estou negando isso. Mas eu juro, eu não sabia o que estava acontecendo de verdade até ser tarde demais. Quando percebi, já estava envolvido, e meu nome estava em tudo. Eu tentei sair disso, mas meu pai já havia me prendido nesse mundo."

Ela respirou fundo, tentando processar o que ele estava dizendo. "Então, por que não me contou isso desde o começo? Por que tentou minimizar seu envolvimento quando sabia que esses documentos poderiam aparecer a qualquer momento?"

Rafael abaixou a cabeça, a vergonha evidente em seu rosto. "Eu estava com medo. Medo de que, se você soubesse o quanto eu estava envolvido, me visse de maneira diferente. Eu queria te proteger de tudo isso, e acabei cometendo o mesmo erro que cometi no passado: confiei demais em que o tempo apagaria os problemas."

Isabela ficou em silêncio por um momento, sentindo a mistura de dor e decepção crescer dentro dela. Rafael estava tentando justificar suas ações, mas isso não apagava o fato de que ele havia mentido – ou, no mínimo, ocultado a verdade. E agora, com a investigação em andamento, ela sabia que confiar cegamente nele poderia ser um erro fatal.

"Eu te amo, Rafael," ela disse finalmente, a voz mais suave agora. "Mas isso não é algo que eu posso ignorar. Se queremos seguir em frente, você precisa ser honesto comigo. Porque, se mais alguma coisa vier à tona e você não tiver me contado, não teremos mais volta."

Ele assentiu lentamente, seus olhos cheios de arrependimento. "Eu entendo. Eu deveria ter sido honesto desde o início, e lamento muito por isso. Mas agora, tudo o que posso fazer é garantir que, a partir de agora, não haverá mais mentiras. Vou enfrentar as consequências dos meus atos e da influência do meu pai, e farei o que for preciso para limpar meu nome."

Ela o observou, sentindo o peso da decisão que precisaria tomar. Rafael estava comprometido em consertar os erros do passado, mas isso seria o suficiente para salvar o relacionamento deles? Seria o suficiente para preservar sua carreira e sua própria integridade?

"Vamos ver o que a investigação vai revelar," ela disse finalmente, a voz carregada de cautela. "Mas saiba que, a partir de agora, estarei atenta a cada detalhe. Não vou permitir mais surpresas."

Rafael assentiu, aceitando a gravidade do que ela havia dito. Eles estavam em terreno perigoso, e ambos sabiam disso. Qualquer erro, qualquer nova revelação, poderia ser o fim de tudo – da fusão, de suas carreiras e, talvez, de seu relacionamento.

Ela saiu do apartamento de Rafael sentindo-se esgotada emocionalmente. O silêncio da noite contrastava com o turbilhão dentro de sua mente. As mentiras haviam sido desvendadas, mas o impacto delas ainda reverberava em seu coração. E, por mais que ela quisesse acreditar que a verdade os libertaria, sabia que o caminho à frente seria cheio de incertezas.

O passado de Rafael estava à beira de ser totalmente exposto, e, quando isso acontecesse, Isabela sabia que precisaria estar pronta para o pior. Porque, às vezes, o peso da verdade era mais difícil de suportar do que qualquer mentira.