Os Lençóis da Tempestade

Capítulo 40: Caminhos Cruzados Novamente

Os dias que se seguiram à entrega misteriosa do envelope foram marcados por uma mistura de tensão e vigilância constante. Isabela agora sabia que algo maior estava se movendo nos bastidores, mas, por mais que tentasse, não conseguia juntar todas as peças. As ameaças anônimas, as mensagens crípticas sobre proteção e as crescentes complicações na fusão a deixavam em alerta constante, mas sem direção clara.

A investigação sobre a TechFuture continuava a gerar ruído, tanto dentro quanto fora das empresas envolvidas. Rafael, até então isolado em seu próprio mundo, também estava em uma posição cada vez mais vulnerável. Embora Isabela e ele não se falassem diretamente desde a despedida, ela o via sendo arrastado por matérias na mídia, especulações sobre seu envolvimento em esquemas ilegais e o peso que sua presença trazia para a fusão. Era impossível ignorar que, de uma forma ou de outra, seus destinos ainda estavam entrelaçados.

Naquela manhã, Isabela sentou-se em sua mesa de café, com a mente longe. Marcelo tinha atualizado a situação da fusão com algumas novidades. A pressão dos investidores aumentava, e a janela para tomar uma decisão definitiva estava se fechando. E agora, com as ameaças se tornando mais explícitas, Isabela sentia que estava lidando com algo mais perigoso do que apenas uma investigação financeira.

No entanto, havia algo mais que a incomodava profundamente. O nome de Rafael continuava a surgir em conversas, notícias e relatórios. Apesar de tudo, ela não conseguia ignorar o que ainda sentia por ele. As memórias da despedida, a dor de saber que, mesmo com todo o amor que existia entre eles, a confiança havia sido destruída, eram difíceis de esquecer. Mas, mais do que isso, uma parte dela ainda queria entender. Por que ele permitiu que as coisas chegassem a esse ponto? Por que nunca foi totalmente honesto?

Sua mente estava tão envolta em pensamentos que ela quase não percebeu quando o telefone vibrou em cima da mesa. Era Marcelo.

"Isa, precisamos conversar pessoalmente. Algo aconteceu."

A tensão nas palavras dele fez seu coração apertar. "Estou a caminho," ela respondeu imediatamente.

Quando chegou ao escritório, Marcelo já a esperava em sua sala. Sua expressão estava ainda mais tensa do que de costume, e isso a deixou em alerta. Ele gesticulou para que ela se sentasse antes de começar a falar.

"Tivemos um desenvolvimento inesperado," ele disse, passando a mão pelo cabelo, algo que ele só fazia quando estava nervoso. "Recebemos uma informação confidencial sobre a TechFuture. Um informante anônimo entregou documentos à nossa equipe."

Isabela franziu a testa, confusa. "Documentos? Que tipo de documentos?"

Marcelo abriu uma pasta que estava sobre a mesa e deslizou alguns papéis na direção dela. "Esses documentos provam que há uma terceira parte envolvida, manipulando a situação da investigação desde o início. Alguém está usando a fusão e a investigação como fachada para alcançar outro objetivo."

Isabela pegou os documentos e começou a folheá-los rapidamente. Os papéis estavam cheios de detalhes sobre transações e contratos obscuros, mas algo chamou sua atenção. Havia nomes e datas que não faziam parte do que já havia sido revelado até então. Eram pessoas e operações que ela nunca tinha visto.

"Alguém está sabotando a fusão de dentro," Marcelo continuou, com a voz grave. "E pior, essa pessoa está direcionando toda a culpa para o Rafael, como se ele fosse o único responsável. Mas esses documentos sugerem que há mais coisa acontecendo, que há outras pessoas por trás das movimentações suspeitas."

Isabela se inclinou na cadeira, sentindo uma onda de indignação crescer. "Então alguém está usando o passado de Rafael como cortina de fumaça para esconder o que realmente está em jogo?"

Marcelo assentiu, apertando os lábios. "Exatamente. Não sabemos quem está por trás disso, mas o que fica claro é que estão manipulando tudo para fazer parecer que Rafael é o único culpado. Eles querem tirar a TechFuture da jogada, e a fusão é o veículo perfeito para isso."

Ela sentiu uma mistura de raiva e frustração. Embora Rafael tivesse cometido seus erros, era evidente que havia algo muito maior acontecendo. O que mais a incomodava, porém, era o fato de que ela ainda não sabia quem estava por trás de tudo. E se esses "protetores sombrios" de que falavam as mensagens anônimas estivessem tentando ajudá-la, mas de forma manipuladora? Quem realmente estava jogando com as cartas escondidas?

"Precisamos descobrir quem está por trás disso," Isabela disse, sua voz firme. "Não podemos deixar que continuem manipulando a situação. Se alguém está usando o Rafael como bode expiatório, temos que expor isso."

"Concordo," Marcelo respondeu. "Mas temos que ser cuidadosos. Se errarmos, pode ser o fim da fusão e da TechFuture."

Enquanto eles continuavam discutindo a situação, o telefone de Marcelo vibrou. Ele olhou para a tela e franziu a testa antes de atender.

"É sobre a TechFuture," ele disse, olhando para Isabela. "Um informante. Eles querem se encontrar hoje."

Isabela assentiu. "Vamos descobrir o que eles sabem."

Mais tarde naquela noite, Isabela e Marcelo chegaram ao local marcado para a reunião. Era um restaurante discreto, fora dos holofotes da cidade, o tipo de lugar onde negócios confidenciais eram conduzidos longe de olhos curiosos. Ao entrarem, foram levados a uma mesa nos fundos, onde uma pessoa os esperava.

Para surpresa de Isabela, a pessoa que estava lá era Rafael.

Ele levantou-se quando os viu, a expressão séria e determinada. Isabela parou por um momento, o coração disparado. Não esperava vê-lo ali, mas algo dentro dela lhe disse que essa reunião era inevitável.

"Rafael," ela disse, sentindo a mistura familiar de sentimentos ao vê-lo. "Você é o informante?"

Rafael assentiu lentamente, os olhos fixos nos dela. "Eu sou. E eu sei que você não confia em mim, mas eu precisava que você soubesse o que está acontecendo."

Marcelo, ao lado de Isabela, ficou em silêncio, observando atentamente. A tensão entre os três era palpável.

"Eu descobri coisas," Rafael continuou. "Coisas que mostram que eu fui usado desde o início. Meu nome foi jogado na lama, e sim, eu cometi erros, mas há mais pessoas envolvidas do que você imagina. Eles estão usando meu passado para encobrir o verdadeiro esquema."

Isabela olhou para ele, sem saber se deveria acreditar ou não. Ela queria, mas as mentiras anteriores ainda pesavam. "Por que devo confiar em você agora, Rafael?"

Rafael respirou fundo. "Porque, desta vez, estou mostrando as provas. Não estou aqui para pedir perdão ou tentar justificar o passado. Estou aqui para revelar a verdade. Eles estão atrás de você também, Isabela. E se não agirmos logo, eles vão destruir não só a mim, mas também tudo o que você construiu."

Ele entregou a ela outro envelope, similar ao que havia recebido dias antes, mas desta vez, mais pesado com documentos. Isabela pegou o envelope e o abriu. Dentro, encontrou detalhes que confirmavam o que Rafael dizia – contratos falsificados, evidências de transações ocultas e nomes que até então não haviam surgido na investigação.

O impacto daquilo era maior do que ela esperava. Havia, de fato, um plano mais profundo em ação, e Rafael, assim como ela, era uma peça no tabuleiro.

"Você pode odiar o que eu fiz," Rafael disse, com a voz baixa, mas firme. "Mas se você quer expor o que realmente está acontecendo, vai precisar de mim. E, desta vez, eu estou do seu lado, custe o que custar."

Isabela olhou para ele, a raiva, a tristeza e a dúvida lutando dentro dela. O passado ainda pesava, mas, agora, eles estavam lidando com algo muito maior do que seus erros pessoais. E, se quisessem sobreviver a isso, precisariam caminhar juntos mais uma vez, mesmo que por um tempo limitado.

Finalmente, ela assentiu, sentindo o peso da decisão que acabara de tomar.

"Caminhamos juntos, então," ela disse, sua voz determinada. "Mas, desta vez, sem mais mentiras."

Rafael assentiu, e, pela primeira vez em semanas, Isabela viu um lampejo de esperança nos olhos dele.